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Régis diz que filho o fez perceber que estava doente: 'Leu que fui preso'

divulgação/EC São Bento
Imagem: divulgação/EC São Bento

Do UOL, em São Paulo

16/04/2019 13h48

No dia 13 de março, o lateral direito Régis, do São Bento, foi detido em um posto de combustíveis da cidade de Sorocaba (SP) por porte de drogas. Embora a situação não fosse nova, já que havia sido detido antes outras duas vezes, o jogador percebeu ali que precisava lutar contra a dependência química. E foi a situação junto à família que fez perceber que tinha um problema grave.

"Meu filho está com oito anos. Ele viu na internet a matéria e falou: 'mãe, o pai foi preso'. 'Como você sabe disso?', ela perguntou. 'Eu vi e passei a aula inteira pensando no meu pai.' Uma criança de oito anos ter esse entendimento, e já se preocupa. Mas ele falou de uma maneira tão madura, segundo ela, que é como se ele tivesse compreendido: 'meu pai precisa de ajuda'. Ele não teve outra reação. Mais um motivo para eu perceber minha doença", disse, em entrevista divulgada pela edição de hoje do Globo Esporte para SP.

Na ocasião da detenção, por causa do uso de drogas, Régis havia passado dois dias sem se alimentar. O carinho da torcida do São Bento naquele momento, diz ele, também pesou.

"Eu estava na viatura, tentando me esconder. Umas pessoas estavam passando, chegaram dois torcedores do São Bento, me reconheceram e disseram: 'o que você está fazendo aí?'. Outro torcedor trouxe um lanche para eu comer. Foi onde eu percebi que, pelas minhas próprias forças, eu não estava conseguindo me manter firme. Até me alimentar mesmo, porque eu não me alimentava havia dois dias. Aquele dia foi emocionante para mim: percebi o carinho do torcedor, mas percebi que minha situação era grave e que eu precisava dar um basta naquela situação", acrescentou.

O vício em cocaína e álcool acabou minando sua trajetória no esporte, justamente durante seu melhor momento. Após passar por clubes como Portuguesa, Ponte Preta, Capivariano, Luverdense, Guarani e pelo próprio São Bento, o lateral chegou ao São Paulo em 2018. Mas foi justamente durante a passagem pelo time tricolor que teve uma recaída.

"Comecei a sair com amigos e experimentei pela primeira vez. Não imaginava que fosse me tornar dependente em um único uso. Tem gente que experimenta uma vez e basta. Mas para mim foi a janela de entrada. Foram três anos de muitas perdas, muitos traumas na minha vida", explicou.

"Eu acho que, por ser uma pessoa muito emotiva, não ter conseguido criar um equilíbrio emocional, quando eu cheguei ao São Paulo, todo aquele glamour, aquele sucesso, só bons desempenhos em campo... Saí um pouco do foco, tive a primeira recaída", acrescentou, indo além.

"Tive a primeira recaída. Eles montaram um plano de recuperação de dois meses, fiz com afinco. Voltei a jogar, voltei bem, mas tive uma última recaída e não consegui me manter no elenco."

A dependência química e as detenções fizeram com que Régis perdesse muita coisa, em suas próprias palavras. "A primeira perda foi a da minha identidade. Consequentemente, vêm perda de família, casamento desestabilizado, contratos - todos nós sabemos, a grande oportunidade da minha vida foi no São Paulo. Perdi o contrato por causa do uso de álcool e drogas", contou o lateral

Hoje, o jogador de 29 anos se trata em uma casa de recuperação, contando com o apoio da diretoria do São Bento. E diz acreditar que é capaz de voltar a realizar bons jogos.

"Aceitar uma internação não é uma decisão fácil. Isso já mostra um pouco daquilo que eu quero. Espero retribuir e reconstruir toda a confiança depositada. Tenho a característica de, após uma grande queda, ter um grande retorno. Aposto nisso e creio que o retorno vai ser para ser estável", disse, disposto a vencer também a desconfiança dos torcedores.

"É difícil, porque o dependente químico é visto dessa maneira, uma confiança que você tem que conquistar todos os dias. No futebol não é diferente. Creio que vai ser um passo a passo", encerrou.