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Técnico de polêmica de 2010 diz que Neymar não merece braçadeira na seleção

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

02/05/2019 04h00

Em 2010 René Simões fez duras críticas a Neymar em um episódio de indisciplina que ficou famoso sobre o então camisa 11 do Santos, em partida do Campeonato Brasileiro. Cerca de nove anos depois, o ex-treinador e agora comentarista esportivo recordou o acontecimento dias depois de o atacante do Paris Saint-Germain se envolver em mais uma polêmica: agressão a um torcedor do Rennes.

Em conversa com o UOL Esporte, René Simões disse acreditar que o jogador de 27 anos errou na estratégia de carreira ao trocar o Barcelona pelo PSG, visto que o clube francês ainda é pouco expressivo no futebol mundial. O treinador também disse acreditar que o ídolo dificilmente será eleito o melhor jogador do mundo e que, atualmente, não merece ostentar a faixa de capitão da seleção.

A polêmica frase "estamos criando um monstro no futebol brasileiro" foi pronunciada em setembro de 2010, logo após a derrota do Atlético-GO por 4 a 2 para Santos de Neymar. Na ocasião, René Simões, então treinador do time goiano, ficou revoltado com a postura do atacante, que xingou o então técnico santista Dorival Júnior no gramado da Vila Belmiro.

O ex-técnico aponta que o episódio havia caído em esquecimento quando Neymar ainda estava no Barcelona, mas que só voltou à tona após o atacante deixar o time catalão para atuar na França, em 2017, retomando a rotina de polêmicas.

"Quando ele estava no Barcelona, eu não me lembro em nenhum momento que algum jornalista ou a imprensa em geral tenha se referido sobre qualquer interferência ou intervenção minha em relação aquele comentário. Mas, depois que ele saiu e foi para o PSG, os casos todos aconteceram", analisou.

"Teve o episódio do Cavani [o brasileiro não deixou o atacante uruguaio cobrar um pênalti e deflagrou uma rivalidade interna]. Teve o caso da Copa do Mundo [fama de forçar marcação de faltas]. Teve o caso da recuperação dele [o atacante curtiu o Carnaval no Brasil mesmo lesionado] e agora teve este novo caso. O que está acontecendo é por causa da falta de uma estrutura do clube por trás dele. Sabemos que o Barcelona já mandou embora jogadores que eram número um porque é um clube que sempre vai ser maior que o jogador. Isso não acontece em grandes times como Milan, Real Madrid e Barcelona", declarou.

Desta forma, René Simões disse acreditar que a permanência de Neymar no PSG não ajudará o brasileiro na busca pelo título de melhor do mundo. "A Fifa só nomeia jogadores que estão em grandes clubes. Isso faz com que os jogadores tenham uma produção maior, um comportamento ou uma mentalidade vencedora? São fatos que nos fazem pensar", refletiu.

Além de Neymar não estar atuando numa grande liga, Simões indicou que a idade do atacante não o ajuda a alcançar o inédito feito de melhor atleta do planeta, visto que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo alcançaram este feito com 22 e 23 anos, respectivamente.

"Quando Robinho apareceu, quase todo mundo dizia que o Robinho ia ser o cara e acabou não sendo. Depois, disseram que o Neymar ia ser ou ainda vai ser o cara. Ele pode ser uma exceção, mas quem já ganhou pela primeira vez o título de jogador número do mundo com 28 anos? Com 28 anos, o Messi e o Cristiano Ronaldo ganharam o terceiro, o quarto título. Eles ganharam muito novinhos", ponderou.

Merece liderar o Brasil na Copa América como capitão?
O técnico Tite passa orientações para Neymar durante o jogo entre Brasil e Sérvia - Stuart Franklin - FIFA/FIFA via Getty Images - Stuart Franklin - FIFA/FIFA via Getty Images
Imagem: Stuart Franklin - FIFA/FIFA via Getty Images

Às vésperas da disputa da Copa América no Brasil, Neymar dificilmente ficará fora da lista dos convocados de Tite. Simões, no entanto, opinou que o atacante não deveria ser merecedor de ostentar a braçadeira de capitão da seleção devido às polêmicas que tem se envolvido. Mesmo assim, disse entender que a decisão pertence ao treinador que conhece seu grupo por dentro.

"Eu não sei o trabalho que o Tite fez depois da Copa do Mundo. Eu só vi ele recebendo a faixa de capitão. Os treinadores trabalham muito nos bastidores, com detalhes, por telefone. Nunca trabalhei com o Neymar, nunca sentei para conversar com ele. Não posso dizer que eu não daria a faixa ao Neymar, mas pelo que eu vejo é diferente. Uma coisa é ver e a outra é conviver. Desta forma, pelo que eu vejo eu não daria", comentou.

Para o ex-técnico, o jogador do PSG precisa trabalhar a parte emocional para evitar novos incidentes como o caso envolvendo o torcedor do Rennes, que foi agredido pelo brasileiro após a final da Copa da França no último final de semana.

"Todo mundo diz que o torcedor tem o direito de fazer o que quiser por ter pago o ingresso. Não penso assim. Mas em compensação, eu também não tenho o direito de fazer o que eu quero. A reação do Neymar foi errada. Como pessoa pública, temos que ter o controle porque isso se chama inteligência emocional. Quem garante que no último jogo de Copa do Mundo ele não vai ser expulso? Então, é um trabalho que tem que ser feito para que não corra esse risco", refletiu.

Polêmica de 2010

Dias após afirmar que "um monstro estava sendo criado no futebol brasileiro", em referência ao comportamento esportivo de Neymar, René Simões participou do programa Bem Amigos, do canal SporTV. Momentos antes de a atração ir ao ar, o treinador recordou que entrou em conflito com um dos membros do programa e que quase vivenciou um entrevero físico.

René Simões na clássica entrevista sobre Neymar: "estamos criando um monstro" - Reprodução/Sportv - Reprodução/Sportv
René Simões na clássica entrevista sobre Neymar: "estamos criando um monstro"
Imagem: Reprodução/Sportv

"Se o interlocutor não fosse um cara mais velho que eu, talvez tivesse dado briga. Ele chegou botando o dedo na minha cara. Disse que eu era um covarde, que eu tinha me aproveitado de um menino [na época, Neymar tinha 18 anos] para aparecer. Isso foi no camarim. Respirei e eu disse para ele: vamos nos acalmar e disse que faria algumas perguntas a ele. Disse que pediria desculpas no ar ao Neymar pelo que eu havia declarado", relatou Simões.

"Perguntei se ele havia visto o Ademir da Guia, Pelé, Gerson ou Rivelino fazerem isso com os seus treinadores. Ele respondeu que não. Perguntei novamente sobre os 'bad boys', como Edmundo, Romário e Djalminha. Ele respondeu que não. Então eu disse por que agora nós podemos permitir que alguém faça isso? Aí ele se acalmou", concluiu o ex-treinador sobre o episódio de 2010.