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Invasão e garrafas no campo: Corinthians x Flamengo já teve noite de terror

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

15/05/2019 04h00

O primeiro título brasileiro do Corinthians ainda estava fresco na memória dos torcedores alvinegros na noite do dia 20 de março de 1991. Nem isso evitou que o estádio do Pacaembu vivesse uma das noites mais violentas da história, no episódio conhecido como "noite das garrafadas", que encerrou o duelo entre o time corintiano e Flamengo a sete minutos do fim.

Os times se enfrentavam pela fase de grupos da Libertadores, sob olhares de 18 mil espectadores. E viram de perto o confronto entre corintianos e policiais militares, iniciado quando a equipe paulista perdia por 2 a 0 mesmo na condição de mandante.

Após minutos de briga nas arquibancadas e no campo, com direito a depredação do estádio e tentativa de invasão com a abertura do alambrado, garrafas de vidro foram atiradas no gramado, já sem a presença de atletas e árbitros dentro das quatro linhas - para isso, torcedores entraram nos bares do estádio para pegar os vasilhames vazios.

Como a confusão começou

Num primeiro momento, apenas um torcedor invadiu o campo para encarar o atacante Gaúcho, do Flamengo, que também contava com Marcelinho Carioca, Júnior, o goleiro Gilmar e Vanderlei Luxemburgo no banco de reservas.

"Foi um episódio para esquecer, a gente ficou muito preocupado com toda a situação. Por sorte não aconteceu nada mais grave. Eu vi um pai procurando o filho, aquilo me marcou muito", contou ao UOL Esporte o ex-atacante Fabinho, que defendia o Corinthians naquele jogo.

À época, especulou-se que a briga teria começado após uma troca de provocações entre torcedores do Corinthians e o auxiliar Manoel Serapião Filho. Segundo relato do jornal Folha de S.Paulo, o bandeirinha teria respondido às provocações com ironia, mostrando o placar da partida com as mãos. A versão foi contada pela polícia e também por torcedores.

Corinthians 1991 - Reprodução - Reprodução
Pacaembu foi palco de um confronto entre torcedores e policiais em 1991
Imagem: Reprodução

A reportagem do UOL Esporte procurou Manoel, que hoje é diretor técnico da Escola Nacional de Arbitragem de Futebol (ENAF). O ex-árbitro, entretanto, não respondeu às mensagens enviadas, tampouco atendeu aos telefonemas.

Três meses depois da confusão do Pacaembu, o Corinthians chegou a se manifestar contra Manoel, pois o árbitro foi escalado para comandar uma partida contra o Náutico no próprio Pacaembu.

Rastro de violência no Pacaembu

O saldo da briga foi impactante: os torcedores destruíram três portões, derrubaram 15 metros de alambrado, quebraram 120 vidros de janelas. Um policial teve um dedo amputado, de acordo com relato do capitão da PM dado horas depois da briga.

Apesar da violência, jogadores dos dois times se mantiveram em campo por alguns minutos. O jogador Neto, maior destaque corintiano, chegou a ser cobrado por um torcedor. No placar, a palavra "calma" foi mostrada na tentativa de acabar com o embate.

Vinte e oito anos depois, Fabinho explica que a primeira reação foi de tentar evitar o pior. "A gente tentou tranquilizar todo mundo. Até acompanhamos alguns torcedores para a arquibancada", afirmou.

Ainda no campo, o volante Márcio Bittencourt, por sua vez, exaltou-se por causa da atuação da PM. "Eles têm de ter calma senão vai virar tragédia. Eles não podem descer a borracha, tem de ter calma", ressaltou o jogador durante a briga.

Pena branda para o Corinthians

Campeão brasileiro em 1990, o Corinthians começou a temporada seguinte com a agenda cheia. O time de Nelsinho Baptista disputava o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores. Por isso, os jogadores corintianos tiveram de entrar em campo menos de 24 horas depois, em plena tarde de sexta-feira.

Houve ameaça de o duelo ocorrer com portões fechado, mas uma vistoria no estádio liberou a entrada de torcedores. A presença foi tímida: apenas 2.156 torcedores assistiram à vitória do Corinthians por 3 a 1 sobre o Cruzeiro, pelo Brasileirão.

O Corinthians, porém, correu o risco de perder mando de campo nas partidas restantes da Libertadores - faltavam ainda dois duelos como mandante na fase de grupos, diante dos uruguaios Bella Vista e Nacional. Seis dias depois da briga, a Conmebol deu o veredito. O clube levou uma multa de cinco mil dólares e ficou sem a opção de mandar as partidas no Pacaembu.

Dessa forma, o Corinthians recebeu os times uruguaios no Morumbi. Com uma vitória sobre o Bella Vista por 4 a 1 e um empate sem gols com o Nacional, o time alvinegro passou às oitavas de final, mas acabou eliminado pelo Boca Junior. O jogo de volta do duelo foi disputado no estádio do São Paulo, pois a punição ainda estava em vigor.