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Tite abre mão de "cartilha" na seleção brasileira em meio a polêmicas

Tite abriu mão de pontos de sua cartilha na seleção brasileira - Pedro Martins/Mowa Press
Tite abriu mão de pontos de sua cartilha na seleção brasileira
Imagem: Pedro Martins/Mowa Press

Danilo Lavieri, Marcel Rizzo e Pedro Lopes

Do UOL, em Teresópolis (Rio de Janeiro)

29/05/2019 12h00

Quando chegou à seleção, Tite sempre fez questão de ressaltar que seguia uma linha de conduta bastante específica. Norteado por alguns pontos chaves em uma espécie de cartilha que elaborou ao longo de sua carreira, o treinador não renunciava a alguns conceitos que acabaram superados durante esses quase três anos de trabalho após momentos de polêmica e pressão.

Depois de curtir um dia de folga, a seleção brasileira se reapresenta ontem (28) na Granja Comary ainda sem seu grupo completo na preparação para a Copa América. A previsão é que todos os convocados só se reúnam no dia 6 de junho, depois do amistoso contra o Qatar, marcado para o dia anterior, em Brasília.

Olho no olho? Decisões tomadas por telefone

Tite sempre ressaltou que gostaria de conversar com os atletas "olho no olho". Na coletiva da convocação para a Copa América, inclusive, o treinador afirmou que não falaria se Neymar continuaria ou não como capitão após socar um torcedor antes de conversar pessoalmente com o atacante do PSG. O comandante, no entanto, mudou de ideia na hora de comunicar Daniel Alves que ele seria o novo dono da faixa e tomou tal decisão por telefone. Diante de nova decisão importante e ciente da urgência de uma resposta após toda polêmica, renunciou ao "olho no olho".

Rodízio de capitães

Uma de suas marcas desde a chegada à seleção brasileira, foi o rodízio de capitães. Até mesmo na Copa do Mundo, cada partida a função era de um atleta. A medida sempre foi bastante elogiada pelos jogadores e até pela imprensa, mas acabou após o Mundial em 2018. Tite afirmou que Neymar seria seu novo líder por representar "uma liderança técnica" e "por ser um jogador que amadureceu e que soube absorver situações de críticas". O treinador precisou rever a sua decisão e acabou recuando de sua escolha. Agora Daniel Alves assume a faixa, que pode ter novo dono em breve, uma vez que o lateral pode deixar a equipe em breve.

"Convoco pelo o que ele faz no clube"

Tite sempre foi muito rigoroso nas observações e ressaltava em todas as suas coletivas: "para ser convocado, o jogador precisa estar bem no clube". A frase era quase um bordão do treinador, que ainda ressaltava que gostava de chamar atletas para repetirem funções que já executam nos seus clubes. Danilo, por exemplo, já chegou a ser preterido por atuar mais na esquerda do que pela direita no City. Após a Copa do Mundo, no entanto, o gaúcho já deixou esse critério de lado por algumas vezes.

Chegou a convocar Fabinho como lateral quando ele já atuava como volante no Liverpool; colocou Éder Militão como lateral quando ele só atuava como zagueiro; na atual convocação, inclusive, chamou Daniel Alves para ser lateral direito, quando o brasileiro atuou como meio-campista na maioria absoluta dos jogos no PSG.

Ainda neste critério, Tite também abraçou Gabriel Jesus e Philippe Coutinho. Os dois não vivem bons momentos em suas respectivas equipes desde o meio do ano passado. Ainda assim, a dupla segue entre os nomes lembrados. O próprio comandante afirmou que tem "certa complacência" pelos bons momentos do meio-campista.

Treinos fechados

Uma marca de Tite, especialmente no Corinthians, era o de não esconder absolutamente nada em seus treinamentos. O treinador pedia, no máximo, que as câmeras não gravassem jogadas ensaiadas e treinos de bola parada. Desde março de 2017, no entanto, ele mudou de opinião e passou a não deixar a imprensa acompanhar suas decisões. De lá para cá, inclusive, o gaúcho chegou a esconder até mesmo seu time titular. Agora, na preparação da Copa América, apenas seis dos 25 trabalhos serão totalmente abertos.

Silêncio na crise

Na cartilha de Tite, uma boa comunicação é fundamental para evitar ruídos e especulações. Seja para confirmar a equipe escalada após um treino fechado ou para esclarecer um ponto mais sensível, o treinador buscou sempre usar o microfone rapidamente. Prometeu assim fazer após a aguardada conversa com Neymar. O papo pós-polêmicas no fim de temporada na França já ocorreu, mas o posicionamento público ainda não. Calado em meio à crise, escalou até o auxiliar Cleber Xavier para uma entrevista inédita sem o técnico. Pela programação, Tite só falará no próximo dia 4, em Brasília, em rápida coletiva pré-jogo contra o Qatar - usualmente utilizada para falar da partida que se aproxima.