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Por que Neymar seguiu em campo e até correu mesmo com ligamento rompido

Neymar deixou o jogo contra o Qatar e precisou ser carregado até o vestiário do Mané Garrincha - Mateus Bonomi/AGIF
Neymar deixou o jogo contra o Qatar e precisou ser carregado até o vestiário do Mané Garrincha Imagem: Mateus Bonomi/AGIF

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

06/06/2019 18h00

Foram alguns minutos entre Neymar sofrer a entorse no tornozelo direito e o pedido de substituição no embate entre a seleção brasileira e o Qatar. O atacante chegou até a dar uma arrancada para a área, no lance em que Richarlison completou para o gol um cruzamento de Daniel Alves e abriu a vitória por 2 a 0. Depois, Neymar foi correndo até o banco de reservas e só aí desabou em lágrimas.

Neymar mostra inchaço no tornozelo direito - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Neymar mostra inchaço no tornozelo direito
Imagem: Reprodução/Instagram

Surgiram, então, questionamentos sobre como o astro havia conseguido seguir em campo, já que sofreu uma ruptura ligamentar no tornozelo - o diagnóstico foi confirmado após exames realizados em um hospital em Brasília. O UOL Esporte buscou profissionais especializados em medicina no futebol para explicar o caso. E é sim possível que um atleta demore a perceber a real gravidade de uma lesão e até a sentir a de vez as dores do problema físico.

Consultor médico do Corinthians, o doutor Joaquim Grava lembra que o cenário vivido por Neymar é "normal no futebol" e conta situações parecidas que já presenciou no esporte: "Entorse de tornozelo, mesmo no nosso dia a dia, você pode ter uma e começar a sentir só depois de uns dez minutos. Já vi jogador que torceu tornozelo, continuou jogando e no intervalo não tinha mais condição de voltar. Depende do sintoma da dor de cada um".

Segundo Grava, qualquer torção de tornozelo acaba afetando ligamentos da região. O principal ligamento afetado costuma ser o talofibular anterior. O que determina a gravidade geral da lesão é como os outros ligamentos são afetados. Eles podem sofrer lesões simples, rupturas parciais ou completas. Uma entorse de efeitos moderados normalmente exige que um atleta pare por pelo menos 15 dias.

Como Neymar acabou cortado da Copa América, que começa para o Brasil no dia 14 deste mês, a suspeita é que a lesão sofrida ontem em Brasília tenha sido um pouco mais complicada. Neymar já vem sofrendo com problemas no tornozelo direito há mais de um ano, mas esse não é mais um tipo de machucado tão comum no futebol.

"É acaso. A entorse de tornozelo era uma grande vilã há muitos anos, quando comecei. Hoje tem muito menos lesão desse tipo. Os calçados melhoraram, os gramados melhoraram, o tipo de proteção também, com aquelas botinhas", pontuou Joaquim Grava.

Ricardo Galotti, médico do Santos, também citou a importância das botinhas para evitar lesões. Ele ainda aponta as mudanças de direção em campo como um fator essencial para que um jogador consiga ou não suportar as consequências de uma entorse de tornozelo.

Neymar 4 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"O tornozelo começa a inchar muito e atrapalha os movimentos, causa maior dor. Normalmente, após a entorse, o atleta não se movimenta tanto e aí depois que arrisca uma mudança de direção é que começa a doer mais. Quando você precisa mudar de direção, ainda mais o Neymar, que tem essa característica pela velocidade e habilidade, a dor aumenta muito", observou.

Preparador físico do São Paulo entre 2011 e 2017, Zé Mario Campeiz ressaltou a necessidade de se respeitar a forma como cada jogador encara a dor causada por uma lesão: "Cada atleta tem um limiar de dor. Pode ser que um atleta consiga ficar alguns minutos. Mas, especificamente quando existe a ruptura, é difícil continuar. O inchaço e a dor vão dificultando a mobilidade do tornozelo e seguir em campo pode agravar ainda mais a lesão".