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Ex-volante da seleção critica Tite e vê Neymar como um "garoto mimado"

Tite orienta a seleção brasileira em jogo contra a Venezuela na Copa América - Thiago Calil/AGIF
Tite orienta a seleção brasileira em jogo contra a Venezuela na Copa América Imagem: Thiago Calil/AGIF

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

22/06/2019 04h00

Apontado como um dos responsáveis pelo sucesso na era de ouro do Napoli, ao lado de Diego Maradona e Careca, o ex-volante Ricardo Rogério de Brito, o Alemão, fez duras críticas ao treinador Tite e disse acreditar que o comandante gaúcho poderá ser demitido caso não conquiste o título da Copa América.

Em conversa com o UOL Esporte, Alemão, 57, criticou os jogadores da seleção brasileira ao apontar que os atletas "não respeitam o posicionamento em campo" e ainda declarou que Neymar se comporta "como se fosse um garoto mimado".

Titular do Brasil na Copa do Mundo de 1990, na Itália, Alemão era um médio-volante de estilo técnico, com bom toque de bola. Portanto, o ex-jogador condenou a forma como Tite posiciona os volantes na atual seleção.

"Eu gosto muito do Tite. Acho que ele é o melhor treinador que nós temos nos últimos tempos. Mas penso que ele cometeu um grande erro na última Copa do Mundo [Rússia-2018] e não sei se ele vai corrigir isso. Os jogadores não respeitaram as suas posições. Cansamos de ver o Paulinho na frente da linha da bola, jogando de meia, e a força do Paulinho está exatamente em vir de trás, de ser o 'homem surpresa' para receber a bola e finalizar. Esses erros são sucessivos nos jogos da seleção e isso é uma falha que o Tite tem que priorizar [para corrigir]."

"Aprendi com o Telê Santana que você precisa conhecer a sua posição. Primeiro, eu marco e depois eu apoio. Quando dá, eu vou lá e finalizo, vou para o ataque. Mas a primeira obrigação é marcar e depois eu vou armar, finalizar. Na última Copa, o nosso volante estava jogando de meia [Paulinho] e sobrou tudo em cima do Fernandinho, que ficou sobrecarregado porque o nosso segundo volante estava correndo atrás do jogador, ou seja, na frente da linha da bola. Na Rússia, ele colocou os jogadores com autonomia para fazer o que bem entendesse e isso deu errado", analisou.

O ex-jogador do São Paulo e Botafogo disse que não ficará surpreso se o treinador gaúcho for demitido, caso não conquiste o título da Copa América. "Ele vai ficar marcado. O torcedor não vai ter a confiança que adquiriu nas Eliminatórias para a Copa da Rússia. Ele vai ter que ganhar a Copa América jogando muito bem e não simplesmente só ganhar", comentou.

Acostumado de jogar ao lado de craques, como Maradona, Romário e Careca, entre outros, Alemão também fez duras críticas a Neymar ao chamar o atacante do Paris Saint-Germain de "mimado" e apontou que Tite é um dos responsáveis pelas atitudes do camisa 10.

"Ele [Tite] está dando muita liberdade para o Neymar. O torcedor está injuriado. Nas ruas, você só ouve reclamações sobre o Neymar. É raro encontrar um que fale: 'Esse cara é nosso, esse cara é fera'. Ele não tem mais a imagem de craque. Ele está devendo muito. O Neymar é como se fosse um garoto mimado. Ele já tem 27 anos e continua como se fosse um garotinho. A gente fica esperando a hora que esse garoto vai amadurecer para ajudar o Brasil. Ele já atuou em dois mundiais e não fez nada de diferente até agora, nada".

Comparação de Tite com Lazzaroni

Ao contrário de Tite, que foi à Rússia respaldado pela torcida devido à boa campanha do Brasil nas Eliminatórias à Copa de 2018, o treinador Sebastião Lazzaroni foi ao Mundial da Itália, em 1990, repleto de desconfiança. Tanto que o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, cogitou demiti-lo antes daquela Copa.

Lazzaroni, no entanto, só ficou no cargo porque o Brasil conquistou a Copa América de 1989, que também fora disputada em território nacional. Segundo Alemão, a paciência da torcida brasileira com Tite está perto do fim e isso pode culminar na sua demissão.

"O Brasil estava há muitos anos sem ganhar a Copa América. A pressão era muito grande. Não sei se isso vai acontecer com o Tite. Ele é um grande treinador, um cara muito bom. Mas não dá para ficar só na oratória, só no discurso. Na hora que o torcedor começar a vaiar ele, já era, não tem mais jeito."

Maradona foi o melhor que viu jogar

Campeão italiano pelo Napoli, em 1990, Alemão atuou ao lado dos craques Careca e Diego Maradona. E os elogios ao meia argentino são inúmeros.

"Maradona foi o maior jogador, depois do Pelé, que eu vi jogar. Na verdade, o maior jogador que eu vi jogar foi ele, porque eu não vi o Pelé jogar. O Maradona foi o maior. Ele era o gênio do futebol", disse Alemão, que ainda defendeu o ex-colega de clube por suas declarações polêmicas.

"Ele é um cara que gosta de protestar contra algumas coisas que estão erradas. Às vezes, ele faz de uma maneira que não deveria, mas ele tem um bom coração. Ele tem boas ideias, é um cara que veio do nada e sofreu muito na infância. No dia a dia, sem uma câmera perto, ele sempre foi um cara extremamente inteligente, carinhoso, bacana e parceiro", enalteceu.