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Seleção feminina volta a ter 'espiã': Kathellen vê França mais pressionada

A zagueira Kathellen tem sido titular da seleção feminina do Brasil - Rener Pinheiro / MoWA Press
A zagueira Kathellen tem sido titular da seleção feminina do Brasil Imagem: Rener Pinheiro / MoWA Press

Ana Carolina Silva

Do UOL, em Le Havre (França)

22/06/2019 04h00

Kathellen é jogadora do Bordeaux, da França, e já encarou as atletas que ela enfrentará novamente amanhã (23), em Le Havre, quando a seleção brasileira se encontrar com a francesa nas oitavas da Copa do Mundo feminina. A ideia de vencer a equipe anfitriã em sua própria casa serve como motivação, mas a zagueira deixa claro que isto só empurra ainda mais a pressão para a rival.

"Estamos animadas porque vamos jogar contra elas, na casa delas. Então será mais pressão para elas do que para nós, mas sabemos o quão forte é a França e estaremos prontas. Por que eu deveria temer? O Brasil tem um grande time, eu acredito nas minhas meninas. Eu sei o quanto a França é forte, mas acho que estamos prontas", respondeu.

Esta declaração específica foi feita em inglês, idioma que ela domina com tranquilidade. O mesmo vale para o francês. Curiosamente, os momentos em que Kathellen pareceu menos confortável na entrevista foram aqueles em que tentou conversar com os jornalistas em português. Ela está mais em casa do que qualquer outra atleta da seleção - talvez a exceção seja apenas Formiga, que atua no PSG.

"Eu posso dizer que a Formiga é a nossa legendária aqui, porque ela traz a força de uma jogadora de tanta experiência e sabedoria para nós. Conhece tanto do futebol francês que pode trazer para a gente os detalhes que podemos acertar. Será muito importante para o jogo de domingo", contou, antes de ser questionada sobre se Formiga jogará ou não. "Claro!", revelou.

Desta vez, é a defensora quem faz o trabalho de "espiã" realizado por Thaisa antes da partida contra a Itália. Kathellen admite que tem passado algumas informações sobre as adversárias.

"Isso rola até entre a gente mesmo, porque a gente quer saber se aquela atleta joga pela direita, pela esquerda... É importante, sempre tem esses papos. A gente estuda como deve se defender e atacá-las", explicou ela, que, por ser zagueira, terá o trabalho de marcar o forte ataque francês.

Campeã europeia pelo Lyon, Le Sommer foi citada pelos repórteres, mas a brasileira quer ter atenção com todas. E, em contrapartida, diz acreditar que as francesas terão de tomar todo o cuidado com o Brasil. "A gente não pode ter medo da seleção da França, o Brasil tem um nome também", afirmou.

"O fator psicológico é importante, mas isso (jogar em solo francês contra a própria França) é uma motivação para nós. O peso está mais nas costas delas do que nas nossas. Vai ser até ótimo para a gente", ousou dizer Kathellen, que deixou o sorriso de lado ao avisar: "A França é uma das favoritas por estar jogando em casa e pelos jogos que tem feito."

kathellen e mãe - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Kathellen e a mãe, a ex-goleira Severina
Imagem: arquivo pessoal

A zagueira do Bordeaux carrega nas costas os seus próprios sonhos e os da mãe, que foi goleira quando o futebol feminino era proibido no Brasil. Hoje aos 53 anos, Severina Antonia de Sousa passou a juventude fugindo de casa para jogar futebol às escondidas com os meninos porque seu pai não aprovava este comportamento.

Esta restrição não era exclusividade de Pernambuco, onde a mãe de Kat cresceu. Era a realidade para o Brasil inteiro. Para as mulheres, jogar bola foi crime até 1979. "Desde que eu me conheço como gente, ela sempre jogou futebol. Essa paixão veio dela, por vê-la jogar e por jogar com ela. A gente ainda bate uma bolinha no tempo livre", contou a atleta ao UOL Esporte em maio.