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Messi mostra lado humano à la Maradona em Copa América de revolta e ataques

Diego Salgado, José Edgar de Matos e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo (SP)

07/07/2019 04h00

Lionel Messi acionou o "modo Diego Maradona". Embora ainda esteja longe das glórias do antigo camisa 10 com a camisa da seleção argentina, o craque do Barcelona se despediu da Copa América expondo um lado humano que surpreendeu durante toda a competição, com atitudes comparáveis às do histórico jogador alviceleste. Fora o papel em campo ontem (6), com assistência para Sergio Agüero abrir o placar na vitória por 2 a 1 sobre o Chile, na Arena Corinthians, o craque reclamou, revoltou-se e até boicotou a Conmebol.

A Argentina da Copa América apresentou um Messi nunca visto. O papel de líder se sobressaiu na comparação com a questão técnica. A faixa de capitão não bastou: Messi usou os microfones e o poder midiático para se posicionar e defender os interesses da seleção, que se viu prejudicada pela arbitragem e pela Conmebol diante de Brasil e Chile. Ontem, o craque sequer subiu ao gramado para receber a medalha de bronze na cerimônia promovida pela entidade sul-americana.

"Lamentavelmente, há muita corrupção, tivemos estas questões com os árbitros, ficamos com a sensação de que não nos deixaram ir jogar a final. Hoje e contra o Brasil foram nossos melhores jogos e nos atrapalharam. Digo as coisas como tem que ser, venho aqui para ser sincero", atacou Messi, expulso diante dos chilenos, sem conter a própria língua, como Diego Maradona.

Para Oscar Ruggeri, campeão mundial em 1986 com Maradona, o atacante do Barcelona teve o espírito de quem usa a braçadeira de capitão da Argentina. "É o capitão da seleção argentina e falou como tal, como capitão e responsável do grupo e disse o que sente realmente, o que passou e viveu. Foi totalmente sincero. Messi, mais que nunca, falou e disse as coisas que realmente acontecem", afirmou Ruggeri ao UOL Esporte.

Quem esteve ontem na Arena Corinthians assistiu a aproximadamente apenas 40 minutos de exibição do craque da Argentina. O grande personagem da tarde em Itaquera conviveu com sentimentos distintos: a alegria ao receber carinho dos torcedores até no aquecimento, passando pela assistência para Sergio Agüero abrir o placar diante do Chile e, no fim, a revolta pela expulsão ainda no primeiro tempo por confusão com Gary Medel.

Assim como Maradona, Messi era atração. Mais do que uma disputa entre duas grandes seleções, o público se mobilizou para ver o jogador cinco vezes melhor do mundo na capital paulista. Houve relatos de torcedores que deixaram a Arena Corinthians assim que o árbitro paraguaio Mario Diáz de Vivar mostrou o cartão vermelho para a grande estrela do torneio.

O único alento para a despedida frustrante veio justamente deste público. Boa parte dos torcedores esteve em Itaquera para assistir ao argentino e misturou a revolta com a ação de Mario Diáz de Vivar com a ovação ao craque. O camisa 10 saiu do gramado ouvindo o seu nome: boa parte do estádio se manifestou em defesa ao jogador do Barcelona.

Messi Argentina Chile - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Messi se revotou com a expulsão e sequer subiu ao gramado para receber a medalha
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

A revolta como cena final antecedeu um cenário totalmente favorável a Leo Messi. A idolatria do público começou ainda no aquecimento, quando surgiu o primeiro momento de interação. Um simples aceno do atacante gerou forte comoção, com direito a gritos de um grande grupo posicionado no setor norte da Arena Corinthians.

Por Messi, a rivalidade entre brasileiros e argentinos acabou em segundo plano. Este grupo citado, reforçado por outras pessoas no mesmo setor do estádio, comemorava todos os gols no aquecimento do jogador. Quando o treino de finalização do capitão argentino superava os goleiros, o grito de comemoração surgia.

Messi era definitivamente a exceção. Mais que jogador, quase uma estrela do rock na Arena Corinthians. Em um ambiente pouco usual de estádio, com silêncio dominante na maior parte do duelo, os brasileiros se uniam para provocar a seleção rival com um grito alusivo a Pelé e Maradona. O apoio se restringia a Messi, muito ovacionado quando anunciado como titular do time alviceleste.

O apoio de boa parte das pessoas na Arena Corinthians acabou retribuído durante os menos de 40 minutos em campo. Faltas no argentino geravam reações de apoio. Uma finalização que obrigou Arias a fazer boa defesa terminou com o tradicional grito de "uh" dos brasileiros. Não veio o gol, mas os torcedores acabaram brindados com uma amostra da inteligência do camisa 10.

Messi aproveitou a distração da defesa chilena, que reclamava de uma falta, cobrou rápido a infração e achou Sergio Agüero em excelentes condições. O centroavante do Manchester City invadiu a área, driblou o goleiro da equipe rival e tocou para as redes, abrindo o placar logo no início do confronto.

Messi Medel expulsão - Nelson Almeida/AFP - Nelson Almeida/AFP
Messi recebeu o cartão vermelho diante do Chile depois de confusão com Gary Medel
Imagem: Nelson Almeida/AFP

A vantagem deixou o destaque argentino mais à vontade. Além de se posicionar sempre para centralizar a organização ofensiva da equipe de Scaloni, Messi assumia definitivamente o posto de líder da equipe. Quando Dybala ampliou, o camisa 10 fez questão de abraçar e reverenciar o atleta da Juventus, pouco utilizado durante a competição.

A postura "maradoniana" apareceu no último ato de Messi em solo brasileiro. A passagem para a zona mista rendeu declarações polêmicas, incomuns até então na trajetória do astro do Barça. Ponto fundamental para aproximá-lo da forte personalidade de Maradona.

"A corrupção e os juízes não deixaram as pessoas aproveitarem, e o futebol foi arruinado. Lamentavelmente, acho que está armado para o Brasil", encerrou Messi, reforçando a postura diferente de atendimento à imprensa. Assim como o 10 antigo da Argentina, o atual usou os microfones para se posicionar.