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Como Wellington Silva reverteu fase ruim e criou dúvida para Odair no Inter

Wellington Silva tem recebido e aproveitado as oportunidades no time do Inter - Ricardo Duarte/Inter
Wellington Silva tem recebido e aproveitado as oportunidades no time do Inter Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

30/07/2019 04h00

Wellington Silva percebeu que precisava se entregar mais para receber e aproveitar as chances no Inter. A análise do meia-atacante de 26 anos sobre o seu momento foi fundamental para uma mudança de perspectiva. Pouco utilizado no início de sua trajetória no clube, ele reconheceu que tinha que mudar. Mudou, e agora já está pedindo passagem no time titular e criando dúvidas para Odair Hellmann.

Contratado no início do ano passado, o ex-jogador do Fluminense sofreu com algumas lesões, se recuperou, mas não conseguiu sequência. Sobrou até do banco de reservas algumas vezes e percebeu que tinha que evoluir. Passou a chegar mais cedo, trabalhar dobrado, permaneceu mais tempo no clube, construiu o que define como "um recomeço", um "novo Wellington Silva". E o caminho para isso foi contado pelo próprio ao UOL Esporte.

"É muito ruim não estar com os companheiros"

Wellington Silva viveu momentos complicados neste ano no Inter. Foi para o fim da fila por oportunidades, sobrou até do banco de reservas. E nas horas difíceis é que ele entendeu que precisava mudar sua conduta para ser aproveitado. Passou a chegar mais cedo, treinar mais, fez um trabalho de fortalecimento e ganho de condicionamento físico. Se esforçou, e as chances vieram.

"Todo jogador quer estar jogando. O tempo que fiquei de fora foi muito difícil. É muito ruim não estar com os companheiros, fora até da lista (de relacionados), ninguém gosta de passar por isso, treinar sozinho, com o pessoal que vem da base para complementar. Isso foi uma fase ruim, difícil. Não temos muito o que fazer que não jogar futebol, viajar... Tive que amadurecer e ver que tinha que melhorar, evoluir, crescer e ter uma cabeça boa. As coisas começaram a acontecer, comecei a fazer as coisas diferentes e graças a Deus deu certo", contou.

"Eu tinha que treinar mais do que vinha treinando. Tinha que treinar mais do que os jogadores que vinham jogando, porque eles tinham cansaço, viagem... Eu não vinha jogando. Comecei a fazer isso e percebi que tudo melhora. Consigo treinar com mais intensidade, aguentar os jogos durante os 90 minutos, sinto o corpo mais forte, isso me ajudou a crescer. Me senti melhor e isso me incentivou pessoalmente a fazer ainda mais. Chego antes, faço fortalecimento, academia, condicionamento, melhora tudo", disse.

"Trabalho mais, passo mais tempo no clube. Dentro de campo, a cada treinamento me entrego mais, corro, marco... E quando se está com a bola, tem que fazer o que precisa para atacar. Tudo melhorou, tudo que eu fazia um pouco, agora faço muito mais, cresci muito fisicamente, e de cabeça também, o mental está muito bom. É continuar evoluindo, trabalhando, e sabendo como é fica mais fácil", completou.

Wellington Silva tenta jogada em vitória do Inter sobre o Nacional, do Uruguai - Ricardo Duarte/Inter - Ricardo Duarte/Inter
Imagem: Ricardo Duarte/Inter

"Não adiantaria ter chance e não estar bem"

Ciente que precisava se entregar mais, Silva ganhou apoio de Odair Hellmann, dos jogadores, e passou a adotar uma nova conduta. Buscar um recomeço, mesmo há mais de um ano no clube.

"(Com Odair) São conversas naturais com todo jogador que não está jogando. Que tem que trabalhar, buscar melhorar. Independente de estar jogando ou não, tem que manter a competição entre os jogadores, sempre estar melhorando, treinando bem. Eu sabia do meu potencial, e que se eu trabalhasse bem, teria minha chance e teria que aproveitar. Não adiantaria eu ter chance e não estar bem. Eu iria jogar e não daria certo", explicou.

"Todo mundo me apoiou. Me dou bem com todos, tenho carinho com todos. Tenho sorte de ter o apoio da rapaziada que me ajuda, segue me ajudando, aconselha. É bom escutar quem quer nosso bem, fazer com que a gente cresça. Agradeço a cada um que me deu força e colocou boas coisas na minha cabeça. O Lomba sempre me apoiou, o Camilo sempre conversava comigo, o Patrick, que fica no quarto comigo, sempre conversou, me deu ânimo para que pudesse trabalhar e não desanimar. Cada um teve uma participação boa", explicou.

Titularidade? "Nosso grupo é muito forte"

Wellington recebeu chances, aproveitou, mas não quer pensar em titularidade. Ainda que tenha participado dos últimos cinco jogos do Inter, ele pretende é ajudar, independente da forma que isso ocorrer. Um dos prediletos da torcida, o jogador pede calma com o bom momento.

"Realmente é um momento muito bom, mas não quero pensar muito assim. Nossa equipe é muito boa, tem jogadores que podem cumprir a função que eu jogo. Sobre ser titular, estou muito tranquilo, não quero pensar que estou bem, que tenho que jogar, nunca fui assim, quero dar meu melhor e continuar aproveitando as oportunidades que o professor vem me dando, seja desde o início ou seja entrando nos jogos", disse.

"Recebo muitas mensagens (da torcida), o pessoal fala bastante. Dentro do contexto, eu não estava preparado, não estava tendo oportunidade nem dando algo a mais que se precisa fazer para estar jogando, para o treinador confiar no jogador. Nosso elenco é bom, é forte, quem estava jogando ou entrando estava bem. Estava difícil conseguir espaço. Agora tenho ganho mais minutos e quero retribuir o carinho que a galera tem comigo", completou.

"Estou no segundo ano seguido, nunca foi assim na minha carreira"

Outro ponto que pesou para o novo momento foi a sequência no clube. Vendido pelo Fluminense ao Arsenal, da Inglaterra, quando tinha apenas 16 anos, Wellington Silva rodou por vários clubes da Espanha emprestado. Uma temporada em cada um, jamais conseguiu sequência. Quando se adaptava, tinha uma nova mudança, precisava mudar de casa, doava móveis e recomeçava do zero. Rotina alterada em Porto Alegre.

Wellington Silva com Neymar, em temporada na Espanha - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

"Aqui estou no segundo ano seguido, nunca foi assim na minha carreira, sempre um ano em cada clube, todo ano em um clube diferente", contou.

"Tudo aconteceu muito rápido. No Fluminense, eu joguei a Copa São Paulo com o pessoal de 90 (nascidos em 1990), eu sou 93. Era todo mundo grandão, eu com a roupa lá no joelho, nem cabia em mim (risos). Foi tudo muito rápido. Quando cheguei na Inglaterra, que me falaram que eu iria para Espanha ficar quatro anos (sendo emprestado), já me desanimou um pouco, eu não estava esperando isso. Não achei que chegaria para o primeiro time, mas achei que iria morar, treinar, subir aos poucos. Quando falaram que iria para Espanha já me desmotivou, não esperava que isso acontecesse. Foi um pouco de falta de diálogo com meu antigo empresário. Em nenhum momento ele falou isso comigo. Quando cheguei, tive a notícia, isso já me complicou bastante. Fiquei mal, rodando de clube em clube, não tive sequência em clube algum, como aqui no Inter, que faço dois anos. E isso conta muito. É passado, foi um aprendizado, pude jogar o Espanhol contra grandes times, joguei um ano todo pelo Almería, todos os jogos, e aprendi, cresci pessoalmente e como jogador, levo a experiência comigo", comentou.

"A cada ano em um clube. Era 'brabo', tinha que alugar casa, mobiliar a casa inteira, ia embora tinha que dar as coisas para o pessoal que eu fazia amizade. Tinha que dar televisão, sofá, armário. O bom que eu ajudava os brasileiros, as pessoas que eu conhecia. Tirando todo o trabalho que tinha, foi legal", explicou. "É, todo começo é muito difícil. Até se adaptar e fazer amizades, quando estava bem, tinha que sair, este ano aqui está sendo bom porque eu conheço o clube, todo mundo, é uma diferença grande", finalizou.

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