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Brasileiro levado para trabalhar com volante Fernando está preso na Rússia

Volante Fernando, ex-jogador de Grêmio e Spartak Moscou - Ian MacNicol/Getty Images
Volante Fernando, ex-jogador de Grêmio e Spartak Moscou Imagem: Ian MacNicol/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

02/09/2019 16h04

A família do volante Fernando, ex-Grêmio, entrou em contato com Simone Barros em novembro de 2018 e a chamou para trabalhar na Rússia. A cozinheira fez com que o convite fosse estendido ao marido, Robson Oliveira, que trabalharia como motorista e está preso em solo russo desde 18 de março. A história foi contada ontem (1) pelo "Esporte Espetacular", da TV Globo.

Quando tudo isto ocorreu, o jogador defendia o Spartak Moscou, que, segundo a reportagem, ajudou a acelerar o processo de admissão dos dois funcionários na Rússia - como a emissão do visto que permitiria sua permanência. A sogra de Fernando, Sibele, ofereceu ao casal um salário de R$ 14 mil mensais (R$ 8 mil para ela, R$ 6 mil para ele). Em 9 de fevereiro de 2019, eles embarcaram.

Sibele pediu para que os dois levassem três malas com encomendas da família do jogador, que foram entregues já no Aeroporto Tom Jobim por um funcionário identificado como Leandro. Porém, Robson e Simone, negros, foram parados pela fiscalização russa no desembarque do Aeroporto de Demodedovo. A sogra do atleta somente havia alertado sobre a presença de alianças na bagagem.

As malas foram abertas e, em meio a roupas de criança (a mulher de Fernando, Raphaela, estava grávida), os agentes encontraram duas caixas do remédio Mytedom 10mg (cloridrato de metadona), comprimido usado por pacientes que convivem com dores fortes ou realizam tratamento contra o vício em ópio ou heroína. Porém, na Rússia, esta substância é tratada como entorpecente.

"Simone, na Rússia é um pouco complicado entrar com as coisas realmente. Inclusive comida. Por isso, falei para misturar no meio das roupas e tal. Os remédios não têm nada demais no Brasil", disse Sibele, no mesmo dia, em mensagem de áudio enviada a Simone. Os remédios seriam para o sogro de Fernando, William. A justificativa não impediu o casal de ficar detido no aeroporto por 17 horas.

Os exames de urina, sangue e cabelo feitos em Robson mostraram vestígios de uso de cocaína. O advogado dele, Olímpio Soares, admitiu à TV Globo que seu cliente fez uso da droga em uma festa de despedida no Rio de Janeiro antes da viagem. O teste feito pelas autoridades russas e a perícia psiquiátrica mostraram que ele não era, de fato, dependente desta ou de outras substâncias.

Porém, no dia 18 de março deste ano, Robson dirigiu com Fernando e Raphaela para a delegacia de polícia do Aeroporto de Demodedovo. Para que sua defesa fosse realizada, o grupo precisava levar William Pereira de Faria, pai de Raphaela, e o atestado médico redigido em inglês que comprovava que o sogro de Fernando era o dono dos medicamentos em questão.

Porém, William e o documento não os acompanharam - segundo a família, William "estava com muitas dores e não pôde ir" -, e Robson nunca mais voltou para casa. "Simone, acho que tá dando ruim aqui. Eu vou ficar preso", disse ele, na única ligação que o deixaram fazer à mulher. No mesmo dia, foi algemado e transferido para a Unidade Penal de Kashira, a uma hora e meia de Moscou.

fernando grêmio - Divulgação/FC Spartak Moscow - Divulgação/FC Spartak Moscow
Fernando em ação pelo Spartak Moscou
Imagem: Divulgação/FC Spartak Moscow

De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem do "Esporte Espetacular", William também poderia ter sido preso se tivesse se apresentado à polícia para esclarecimento naquele mesmo dia; ele deixou a Rússia em 25 de março. Simone passou as semanas seguintes exigindo apoio da família, mas, em 30 de março, Sibele a chamou para uma conversa: "Ela me mandou deixar a bolsa ali que teríamos uma reunião".

"Lá, ela disse que eles não confiavam mais em mim e que era para eu voltar para o Brasil. Quando desci de novo, fui na minha bolsa e vi que os celulares não estavam. Nem o meu, nem o do Robson. Eu perguntei o que tinha acontecido, e ela explicou que alguém da segurança interna do condomínio tinha entrado e levado os aparelhos", contou Simone, que voltou ao Brasil no dia seguinte.

Sibele também retornou ao Brasil pouco tempo depois e não prestou depoimento. Fernando e Raphaela, sim. Em junho e julho deste ano, os dois disseram à polícia que não conheciam Robson, que não sabiam qual era a doença que William precisava tratar e qual era o endereço dele e de Sibele no Brasil - o jogador disse que os pais de sua mulher "se mudam regularmente".

Raphaela alegou ter um relacionamento distante com o pai, mas, no Instagram, a mulher do jogador faz publicações frequentes sobre a relação amorosa com William. "O meu herói de toda uma vida não é protagonista de nenhuma história em quadrinhos, filme de ação ou lenda antiga. Pelo contrário, ele é bem real e eu lhe devo a minha vida", escreveu ela, em agosto de 2017.

A vice-cônsul do Brasil em Moscou, Ana Paula Alvim, visitou Robson na prisão russa e constatou que ele perdeu 20 quilos nestes cinco meses. Em 30 de julho de 2019, Fernando se transferiu para o Beijing Guoan, da China, em uma transação acertada rapidamente. Ele deixou a Rússia sem retirar todos os pertences da casa em que vivia com a família.

O Spartak - que, segundo a TV Globo, esteve envolvido nos trâmites que facilitaram a chegada de Robson e Simone à Rússia - disse à reportagem que não comentaria o caso porque "o jogador não tem mais vínculo" com o clube. "Não vou falar nada sobre isso porque não quero. Ele não é mais nosso jogador, por isso acho desnecessário comentar", disse o diretor jurídico Alexander Tsomaya.