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Como foi a operação do Inter que segurou Guerrero para semifinal

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

05/09/2019 04h00

Paolo Guerrero poderia não jogar a partida de volta da semifinal da Copa do Brasil. Presença esperada na convocação para dois amistosos do Peru, o centroavante viajaria com a seleção e não estaria em campo pelo Internacional. Mas clube e jogador fizeram tudo que podiam, insistiram e até criaram atritos, mas conseguiram que Ricardo Gareca não o chamasse. Deu certo, já que saírem de seus pês dois dos três gols na vitória por 3 a 0 sobre o Cruzeiro que colocou o Colorado na final.

"É uma satisfação saber que o trabalho que é feito no clube, fora de campo, mas que influencia muito dentro de campo, dá resultado. Não só agora, mas quando contratamos o Guerrero também. Se tinha uma dúvida, sabíamos que ele corria o risco de não jogar, fomos criticados e apostamos nele, na contratação dele, no atleta que é. O Rodrigo [Caetano] já tinha trabalhado com ele e sabia de tudo que ele poderia fazer, e fez. Sabíamos que a liberação dependeria muito dele, de explicar para o treinador a situação, realmente mostrar que queria estar no Inter neste momento, que era importante para o time e que queria muito conquistar um título. Ele quer muito. E isso nos satisfaz porque não medimos esforços. Não ficamos torcendo para ele não ser convocado, fizemos de tudo para ter ele conosco e chegar nesta final", disse o vice de futebol do Inter, Roberto Melo, após a partida.

O Colorado já tinha vantagem após vencer o jogo de ida, mas bateu novamente o Cruzeiro e confirmou presença na decisão da Copa do Brasil pela primeira vez em dez anos. A última vez na final do torneio de mata-mata havia sido em 2009.

"O exemplo do Guerrero é um exemplo que todos dão nestes dois anos que estou aqui. Nominando ele, que mostra comprometimento, retribuição ao clube pelo que fez com ele, aos companheiros, funcionários, torcedores, cito todos. Não é um ato isolado. Parabenizo este comprometimento do Guerrero, mas poderia nominar muitas coisas de muitos jogadores. Faltaria tempo. Eu pego este exemplo e jogo para o grupo. Todos lá sabem de momentos que cada um fez algo para o grupo em termos de comprometimento, de comprometimento tático, de jogar em uma posição que não é a sua, de se comprometer com o coletivo. Eu sempre acreditei no coletivo e vou acreditar até o final", elogiou o técnico Odair Hellmann.

A "operação Guerrero" contou com ida ao Peru, documento oficial, solicitação à CBF e ligações para Gareca. A certeza de que foi bem sucedida só veio na noite que antecedeu a convocação, anunciada sem o jogador.

Pressão na Federação Peruana

O Inter não apenas entrou em contato com a Federação Peruana de Futebol para que Guerrero não fosse convocado. Mandou até lá o diretor executivo de futebol Rodrigo Caetano munido de um documento que foi entregue ao presidente da entidade. Nele, a solicitação formal para que o jogador não fosse chamado. Naquela altura, não havia qualquer indício dessa possibilidade. A resposta que foi dada era que o chamado ou não dependeria exclusivamente do técnico Ricardo Gareca.

No Brasil, Inter procura CBF e tenta alterar jogo

Enquanto isso, no Brasil, o Colorado procurou a CBF. O objetivo era mudar a data do confronto de volta da semifinal. Poderia ser antecipação ou adiamento, desde que possibilitasse a presença de Guerrero. O problema não tinha solução pela falta de data disponível.

Guerrero tenta contato com Gareca

Em meio a isso, o jogador estabeleceu o primeiro contato com o técnico Gareca. Ele explicou ao comandante, por telefone, que estava à beira de uma final e que precisava recompensar o Inter pela aposta feita nele no momento da suspensão. O treinador ouviu, mas não deu qualquer garantia.

Torcida se mobiliza nas redes sociais

Percebendo que o Peru não estava disposto a abrir mão de seu principal jogador nos amistosos contra Equador e Brasil, a torcida do Inter se organizou. Nas redes sociais, criou um movimento para sensibilizar o técnico Ricardo Gareca e mostrar como seria importante ter o jogador.

Penúltimo ato: Voo fretado

Nada parecia ser suficiente. Então, o Inter realizou seu penúltimo ato. Entrou novamente em contato com a Federação Peruana de Futebol e pediu para que Guerrero se apresentasse no dia do jogo com Equador, 5 de setembro. Desta forma, jogaria e imediatamente partiria em voo fretado. Mas novamente não seria possível. Então, a última alternativa seria tentar trazer o jogador de volta para uma eventual final, também com voo fretado após a partida contra o Brasil.

Último ato: Guerrero liga para Gareca novamente

Na véspera da convocação da seleção, Paolo Guerrero ligou novamente para Ricardo Gareca. Depois de ter explicado a situação em uma primeira conversa, solicitou diretamente ao técnico para não ser chamado. O peruano entendia que precisava atuar pelo Inter e "se tirou" da seleção.

"Haverá consequências"

Ricardo Gareca não gostou. O treinador e a Federação Peruana ficaram desconfortáveis com a insistência. Em entrevista coletiva, o técnico disse que quando um jogador pede para não ser chamado sabe que haverá consequências. E não se pronunciou mais sobre o caso.

Nesta quarta-feira, Guerrero marcou dois dos três gols do Inter na vitória por 3 a 0 sobre o Cruzeiro. No jogo em que estaria fora, foi fundamental para devolver o Colorado a uma final nacional depois de dez anos.

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