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Silêncio após empate mostra porque Marinho é o jogador mais "humano" do BR

Do UOL, em São Paulo

21/09/2020 04h00

Não tem como não gostar de Mário Sérgio Santos Costa, o Marinho. O atacante do Santos talvez seja o jogador mais carismático do futebol brasileiro nos últimos anos. E, neste Campeonato Brasileiro, ele também se consolidou entre os melhores jogadores em atividade no país.

Ele ficou nacionalmente conhecido em 2015, quando, mesmo extenuado, demonstrou sua insatisfação com o cartão amarelo que recebeu por tirar a camisa comemorando o gol com apenas uma frase, famosa até hoje: "que m..., hein!".

No ano passado, já pelo Santos, ele deu outra entrevista célebre. Empolgado com o belo gol que fez em cima do próprio Botafogo, ele definiu o lance como um "minimíssil aleatório". A partir desse episódio, passou a evitar entrevistas após o jogo. Ele queria ser reconhecido pelo bom jogador que é, não pelo que falava.

"Muita gente me conhece só por meme, vocês têm que começar a olhar para mim um pouquinho também como jogador de futebol, porque eu sou bom pra c...", afirmou Marinho no fim do Brasileirão do ano passado, também após um jogo contra o Fogão. Hoje, ninguém duvida disso.

Sem tanta grife, Marinho sempre apresentou boas atuações por onde passa. Chegou ao Santos em maio do ano passado, sempre vital para o time, mas agora ganhou status de craque. Já marcou 18 vezes em 43 jogos. No momento, é o vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro, com sete gols marcados. Seu nome foi pedido na lista da seleção brasileira anunciada na última sexta-feira. A ausência foi sentida. Se ele estivesse na lista, não seria anormal.

Mais do que futebol e carisma, porém, o atacante tem outra característica que tem deixado aflorar neste ano: sua capacidade de emocionar e se emocionar. Este fator ficou nítido ontem (20), após o jogo contra o Botafogo. Com o estádio vazio, companheiros no vestiário, Marinho falou sozinho, rezou e ficou vários minutos sentado no gramado. Quando se levantou, foi direto para o vestiário, sem falar com a reportagem do canal Premiere, que o aguardava.

Em sua entrevista coletiva, Cuca falou que o jogador estava frustrado com o desempenho e que este tipo de reação deveria ser valorizada pelos torcedores:

Chorou, socou o gramado, ficou desolado. E não é só ele. São todos. O torcedor tem que valorizar esse tipo de profissional. Esses meninos, e Marinho também, com espírito jovem, passam dificuldade enorme. Ninguém reclama de atraso ou outras coisas".

O Santos tinha o domínio do jogo, mas graças ao ótimo desempenho da defesa botafoguense, não conseguiu sair do 0 a 0. O time de Cuca terminou a partida com um total de 21 finalizações. Marinho liderou o time nesta estatística com seis chutes, nenhum deles resultando em chance clara de gol.

Alguns meses atrás, ele se emocionou e emocionou o país inteiro quando foi vítima de um comentário racista por parte de um radialista. Marinho falou com firmeza, mas deixou evidente o quanto aquilo o afetou: "Eu perdoei, mas ele tem que pagar pelo que fez. Fiquei muito mal com isso, chorava muito. Nunca tinha sentido isso muito forte assim. Já aconteceu comigo quando não tinha voz ativa. Sei que tem muita gente sofrendo no oculto, gente que não pode falar, não tem voz. É um crime".

Marinho sabe que é um bom jogador, mas sabe que também é uma pessoa engraçada. Durante a quarentena, seu Instagram ficou repleto de vídeos hilários, porém todos fora de campo. Ele é o que costumamos chamar de "gente como a gente": quer ser respeitado profissionalmente e se cobra para dar o seu melhor. É por isso tantos torcedores o admiram.

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