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Dorival critica estrutura do futebol brasileiro

25/11/2015 02h09

RADAR/LANCE!

São Paulo (SP)

O treinador do Santos, Dorival Júnior, pode estar bastante satisfeito com o desempenho de seu time. Finalista da Copa do Brasil e ainda brigando por vaga no G4 do Brasileirão, o Santos vive uma grande temporada, liderado por garotos advindos das categorias de base da Vila Belmiro. No entanto, o técnico não se ilude e demonstra bastante preocupação e, até mesmo, indignação com a estrutura do futebol brasileiro atual. Em participação no programa "Bola da Vez", do canal por assinatura ESPN Brasil, Dorival criticou duramente a falta de capacitação de treinadores e o modo como são tratados os jovens jogadores no país. Para ele, não há no país uma preocupação em formar novos craques, da bola ou da prancheta.

- Nós nunca nos preocupamos com formação. Nem de jogadores, nem de treinadores, tampouco treinadores para categoria de base. Jogador brasileiro brotava, nascia. Nós nunca tivemos profissionais preparados para formação de atletas. A gente sempre tinha ali dois terrenos baldios que a gente preparava, botava dois tijolos de cada lado e começava a brincar. Ali a gente, sem saber, fazia um trabalho de fundamentos. Por isso, o futebol europeu está  muito à frente hoje. Nós, no Brasil, não temos nenhum curso de preparação. Nossa formação é a vida, a conversa. Eventualmente, um treinador pode pegar e ir para a Europa, que nem o Muricy. Eu fui três vezes. Mas quantos podem fazer isso? E o cara que tá começando? - questionou Dorival.

Além disso, o técnico finalista da Copa do Brasil vê como prejudicial a participação dos empresários no futebol nacional:

- Com esse modelo, a estrutura do futebol brasileiro está comprometida. Nós tiramos os atletas de uma escravidão em relação ao clube. Tiramos da mão dos clubes e demos de bandeja na mão dos empresários. Quem ganha dinheiro são os empresários. É um negócio altamente compensatório. Eles colocam e tiram o jogador na hora que bem entendem. Os empresários nadaram de braçada nos últimos anos, fizeram o que quiseram no futebol. Nós já não preparávamos bem. Aí entregamos na mão deles e, consequentemente, formamos um hiato até na própria seleção brasileira. A gente formava umas duas, três, quatro seleções ao fim de cada campeonato. E agora pra formar uma está difícil. Temos que parar para dar uma repensada. E os empresários atacando os garotos de 16 anos. É um modelo que está penalizando demais o futebol brasileiro. E é incrível como demoramos pra tomar uma posição no país.

Por fim, Dorival Júnior analisou também o inpidualismo que, segundo ele, tem imperado no comportamento das pessoas envolvidas com o futebol e já chegou, até mesmo, à parte técnica:

-  O futebol brasileiro só vive esse momento porque abrimos mão do coletivo e passamos a jogar inpidualmente. É um momento de inpidualidade. E o futebol brasileiro passa por um momento de instabilidade. E não é pelo resultado do jogo contra a Alemanha. Nós só reconhecemos o valor de quem pega a bola no meio de campo e vai parar na área adversária. Nós, antes, inpidualizávamos da intermediária pra dentro. Para um drible, uma finta, para desequilibrar um lance. Mas agora paramos de trabalhar a bola. Nossas referências passaram a ser jogadores que carregam a bola. Um jogador que corre pelo lado direito, outro pelo lado esquerdo, outro por um corredor qualquer. Chegamos ao cúmulo de ficar na beira do campo torcendo pra que um jogador acerte um passe - finalizou o técnico santista.