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Palmeirense queria ser pai aos 15, já pagou para jogar e quer tatuar taça

Ernesto Rodrigues/Folhapress
Imagem: Ernesto Rodrigues/Folhapress

21/05/2016 07h55

Neste sábado, às 16h, quando o Palmeiras entrar em campo para enfrentar a Ponte Preta, no Moisés Lucarelli, em Campinas, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, Róger Guedes estará mais uma vez entre os 11 titulares, vaga que conquistou rápido. E quem ouve Guedes contando a própria história pode se confundir e achar que se trata de um homem com, no mínimo, mais de 30 anos.

O garoto, que na verdade tem apenas 19, já é pai de um bebê de cinco meses, casado e suficientemente capaz de enxergar os erros do passado, que o fizeram até pagar para poder jogar futebol. Em alta no Verdão, agora guarda espaço no corpo e torce para poder tatuar a taça do Brasileirão no fim do ano.

"Eu adoro tatuagem, mas agora vou dar uma parada, quero guardar espaço para o Brasileiro."

Natural de Ibirubá, cidade localizada a pouco menos de 300 km de Porto Alegre, Guedes passou pelas categorias de base do Grêmio antes de chegar ao Criciúma, mas não se firmou no clube gaúcho e, quando pequeno, se viu obrigado a contar com o dinheiro do pai para jogar.

"Foi uma burrada que eu fiz, mas eu que quis sair do Grêmio, queria jogar. Quando saí, não encontrei tantos clube e parei no Porto Alegre para jogar um campeonato e ganhar visibilidade. Lá, não ganhava nada e meus pais e meu irmão ainda tinham que me ajudar com transporte e essas coisas."

Se nem sempre as coisas foram fáceis para Guedes, de algo ele tem certeza há muito tempo: a paternidade. Pai de Ryan, de cinco meses, conheceu a esposa com 15 anos e desde então aguardava ansioso o momento de, enfim, ser pai.

"A gravidez foi planejada, eu queria ser pai jovem, curtir ele."

Confira o bate-papo de Róger Guedes com o LANCE!:

Está preparado para a concorrência no Palmeiras? Com quem acha que disputa posição no time?

Concorrência é boa, sadia. Eu me dou muito bem com Dudu e, às vezes, a imprensa fica falando que a gente briga pela vaga (risos), mas é muito boa a convivência. Com ele ou qualquer um, vamos brigar no dia a dia e espero jogar como titular, mostrando e dando o melhor para o time e o Cuca.

E costuma bater faltas depois do treino. Sempre fez isso? Vai se candidatar?

Eu gostava de bater, mas a gente sabe que aqui tem que respeitar, né? Tem Cleiton Xavier, Egídio, o próprio Jean que estava batendo comigo. Mas, se sobrar uma brecha, eu estou pronto para bater e aproveitar.

Como foi sua carreira antes de chegar ao Criciúma?

Eu joguei futebol de salão até os nove anos de idade, depois disso consegui acertar com o Grêmio. Do Grêmio, saí e fui para o Porto Alegre, um time da cidade, para disputar um campeonato.

E foi lá que não ganhava nada?

Sim, não ganhava um real e meus pais me ajudavam com os outros gastos. Acho que foram uns dois anos assim, dos 13 aos 14 anos. Foi bom até, talvez algumas coisas tinham mesmo que acontecer para eu conseguir chegar aqui no Palmeiras hoje. Eu não queria ficar no Grêmio, foi uma escolha minha.

Antes, passou algum tempo morando na sua cidade natal, embaixo da arquibancada...

Sim, lá em Ibirubá, até meus três anos. Era normal, meu pai jogou muito tempo no Vila Nova, um time de lá, que usava o campo do Grêmio de Ibirubá. Ele era o responsável. Morávamos nós quatro, eu, ele, meu irmão e minha mãe. Era como se fosse onde ficam os vestiários da Academia de Futebol aqui.

E como foi sua chegada ao Criciúma? Quem acabou te levando para lá?

Viram-me jogando aquele torneio pelo Porto Alegre, gostaram de mim. Um diretor do Grêmio na época conversou comigo, indicou meu nome para um grupo de empresários e foi esse grupo que concretizou a ida para o Criciúma, graças a Deus acabou dando tudo certo. Assinei meu primeiro contrato profissional com 16 anos, então passei a ganhar dinheiro e deu para, enfim, conseguir tirar alguma renda.

Seus pais foram junto com você para todos as cidades?

Sim, eles foram comigo de Ibirubá para Porto Alegre, sim, e depois também foram para Criciúma, sempre com meu irmão junto e sempre me apoiando, tanto que em Porto Alegre eu dependia da renda dos três para conseguir jogar futebol, como contei. Depois, meu irmão resolveu voltar para a nossa cidade natal e hoje está por lá. Meus pais também não vieram e aqui para São Paulo eu vim sozinho. Estamos morando eu, minha esposa e meu filho. Eles, não.

Em algum momento pensou em desistir do futebol, diante de tantas dificuldades e incertezas?

Não, em nenhum momento pensei em parar de jogar futebol, não. Eu gosto demais. Meus pais sempre me deram força, me incentivaram e fizeram de tudo para eu poder continuar jogando, inclusive bancando meu jogo. As coisas tinham que acontecer do jeito que foram para eu poder estar no Palmeiras hoje. Se tivessem sido diferentes, talvez não fosse assim agora. Faz parte.

E já conseguiu calcular a dimensão do que é estar jogando pelo Palmeiras agora?

Eu tenho visto isso desde que eu cheguei no clube, as coisas mudaram muito. Aqui é outro mundo, eu tinha visibilidade, sim, no Criciúma, mas era algo diferente do que encontrei no Palmeiras. Outra coisa, outra realidade. Só nesta semana, o fato de ter dado tanta entrevista...Quase todos os dias da semana, isso é completamente diferente do que eu estava acostumado. Bom demais poder viver esses momentos. Espero seguir bem e manter entre os titulares, todo jogador que isso na carreira.

Com a maior exposição, também já devem ter perguntado para você sobre seu estereótipo de marrento, bad boy...

Todo mundo fala que eu tenho muita cara de marrento (risos), eu já me acostumei com isso, mas não é verdade, não... Mas é normal isso, eu acho, até pela quantidade de tatuagens, tudo mais. As pessoas acabam pensando que eu sou marrento, mas não sou, não. Isso é só a primeira impressão.

E como começou sua paixão pelas tatuagens? Sempre gostou? Qual foi a primeira?

A primeira foi justamente com o nome dos meus pais, então eles deixaram eu fazer sem problemas. Depois eu fui fazendo uma atrás da outra e não parei mais, eu gosto demais de fazer tatuagem, é algo que vicia e você se acostuma a fazer outras. Quero fechar o braço, ainda não consegui, mas acho que agora vou dar um tempo. Fiz uma no peito para o meu filho e outra na perna para ele também. Sempre é assim, faço desenhos sobre a minha família ou sobre algo ligado à nossa religião.

E qual vai ser a próxima tatuagem? Quando pretende fazer?

Vou parar de fazer tatuagens agora, vou dar um tempo. Se Deus quiser, no fim do ano vou poder tatuar a taça do Brasileiro. Espero que essa seja a próxima.