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Alessandro 'pega gosto' por gestão e busca reforços para o Corinthians

Alessandro Nunes (ao centro) é o novo gerente de futebol do Corinthians - Reprodução/Site oficial do Corinthians
Alessandro Nunes (ao centro) é o novo gerente de futebol do Corinthians Imagem: Reprodução/Site oficial do Corinthians

28/06/2016 06h00

Alessandro trocou uniforme e chuteira pela roupa social e gostou. No cargo de coordenador de futebol do Corinthians, ganhou não só o "Nunes", sobrenome que passou a ser incorporado nas reportagens sobre ele, como também experiência e conhecimentos em áreas que mal conhecia. Hoje, trata de assuntos jurídicos e administrativos com desenvoltura. Aos poucos, foi ganhando bagagem e espaço dentro do clube, a ponto de o presidente Roberto de Andrade lhe confiar o cargo de gerente de futebol, antes ocupado por Edu Gaspar, que na última semana acompanhou Tite rumo à CBF.

O mais curioso na "transformação" de Alessandro, hoje com 37 anos, é que atualmente ele diz sentir prazer justamente naquilo que nunca esteve acostumado a fazer: negociações, discussões financeiras, trabalhos burocráticos... A bola, o campo, o vestiário, onde ele esteve até os 35, ainda agradam, mas não mais como nos tempos de lateral direito.

Nesta segunda-feira, ele desligou os dois celulares (que recebem mensagens e tocam insistentemente durante todo o dia) por pouco mais de meia hora no CT Joaquim Grava para falar com a reportagem do "Lance". Na entrevista abaixo, o capitão do título mundial do Corinthians fala sobre o novo desafio na carreira, diz que o Timão tem elenco para brigar pelo título e comenta o planejamento do clube. Confira:

Você queria assumir o cargo de gerente agora? Sente-se preparado?

A gente nunca escolhe a oportunidade para estrear como jogador profissional, virar titular definitivamente, trocar de clube pequeno para um grande... Isso infelizmente não é no nosso tempo. A gente se prepara para evoluir e alcançar status maiores. Quando eu parei de jogar tomei a decisão de seguir como coordenador do clube e dois anos e meio após isso sou gerente de futebol com a rápida saída do Edu para a Seleção Brasileira. É uma mistura grande de satisfação com responsabilidade a mais. Estou em um cargo muito difícil e preciso estar preparado para essa função. Por outro lado, fiquei esses dois anos e meio ao lado de um baita executivo, que hoje está na Seleção Brasileira e me direcionou, me fez conhecer o clube melhor ainda... As palavras "pronto" ou "preparado" talvez não sejam as que eu quero dizer, porque quero sempre evoluir, melhorar, aprender... Mas estou feliz e confiante com a oportunidade, me sentindo privilegiado por ter chegado aqui para disputar a Série B e ter terminado como campeão mundial e já na aposentadoria ter tido a oportunidade de trabalhar em uma função que gostei. Hoje estou em uma função de responsabilidade e confiança. Agradeço muito ao presidente, quero retribuir a confiança ao longo do trabalho. Em resumo, é difícil essa preparação, não dá para saber o momento que a oportunidade vai aparecer. Basta a nós estarmos preparados e acreditar.

Como foram as conversas para você virar gerente?

Foi tudo muito rápido. Na quarta-feira (15/6) o professor (Tite) esperou o presidente chegar e comunicou ele, em reunião, que havia aceitado o convite da CBF e que o Edu também havia sido convidado e também aceitou. Então o presidente se reuniu rapidamente conosco e falou: daqui para frente o Tite, o Edu, o Cléber (Xavier, auxiliar-técnico), o Matheus (Bachi, filho e auxiliar de Tite) estão indo. Chama o Fábio Carille (auxiliar-técnico) e o Fernando Lázaro (coordenador do Cifut), eles vão comandar a equipe, e falou que eu iria no lugar do Edu, que era quem iria viajar a Brasília. A gente estava alternado, em cada viagem ia um. Foi toda aquela correria, na quarta à tarde, e ele foi para a entrevista coletiva e se posicionou. Foi tudo muito rápido. Na segunda (13/6) acompanhamos toda aquela questão da Seleção, mas eu não imaginava que o Edu estaria envolvido, falava-se do Tite, é claro, mas o Edu ainda não era certo, só estava sendo ventilado.

E o que sentiu?

Tem uma mistura de felicidade pelo reconhecimento de tudo que eles fizeram aqui, o Tite um pouco mais, o Edu em cinco ou seis anos aqui dentro e conquistou muita coisa... Agora é batalhar pelo meu espaço, mostrar meu trabalho, dar sequência a tudo que dá certo aqui no clube e com o tempo colocar coisas que acredito... Foi assim, rápido e corrido. Cheguei para um dia de trabalho achando que à noite voltaria para casa, mas fui para Brasília. É aquilo que o futebol costuma proporcionar, uma velocidade absurda.

Como tem sido a rotina agora? Gerente de futebol trabalha mais?

Mais, com certeza. Afora a presença em todas as viagens, que antes eu me revezava com o Edu, tem a questão de se preocupar mais com o departamento. Antes, em dois, a gente combinava: "chega mais cedo você, eu vou depois...", mas agora tenho a preocupação de chegar antes, ver se está tudo bem. Tem alguns departamentos no CT que têm que estar funcionado plenamente, bem coordenados para que todos vão preparados para o campo... Então o trabalho aumenta, a preocupação também, me envolvo bastante. O trabalho que era feito em dois agora é em um só, dobrei a carga (risos).

O que mais gosta no seu trabalho atualmente?

Por incrível que pareça o que mais me despertou, mais me entusiasmou foi a parte administrativa, não só essas reuniões para deixar o departamento organizado, mas também com agentes, empresários, jurídicas, administrativas, de registro... Coisas que no começo eram novas para mim e eu fui me envolvendo, gostando, e conhecendo melhor. Você só vai aprender se for curioso, estar envolvido no dia a dia. Essa é a parte que mais me interessa. Quero solucionar tudo para deixar tudo redondinho. O campo, o treino, a gente vai, olha, é prazeroso... Mas, sei lá, talvez esses anos todos ali dentro já tirou um pouquinho do desejo e a função não é mais essa. Agora olho, até tenho compreensão de algumas coisas, mas só vou opinar se um auxiliar ou um treinador me der o espaço. Respeito, cada um dentro da sua função. Mas o que mais me entusiasma é isso, a gestão, quero que as pessoas estejam bem, que os funcionários estejam felizes, que se tiver algum problema eles me procurem para resolver, isso me entusiasma.

E do que menos gosta? Lidar com pais de garotos que querem espaço no clube, por exemplo?

Não tem uma questão muito pontual que eu fale "caramba, tudo que eu não gostaria era resolver isso." A parte mais dura ainda são as viagens, nas quais você fica dois ou três dias fora e completamente envolvido com o jogo, quase não dá para fazer as coisas que resolveria no escritório. Essa parte de base a gente faz, chama o pai e a mãe, explica porque o garoto ainda não subiu, fala que é momento de ter paciência e não firmar um contrato profissional tão longo como eles e o próprio atleta esperava... Isso é bacana. A avaliação correta do atleta te dá segurança para explicar isso aos pais. Por mais que os pais e o empresário não acreditem e optem por deixar o clube. Essa parte eu gosto, acho interessante, tem que ter uma paciência danada, é natural.

Fez algum curso desde o fim da carreira? Como foi a capacitação?

Não consegui. Fui pouquíssimo. Fui em curso na CBF, no Rio, mas cursos diários, coisa de chegar, ficar um dia e voltar. Coisas bacanas de gestão, mas só. A dinâmica do futebol é complicada, não consegui fazer uma viagem mais longa para conhecer filosofias e metodologias de trabalho... Não consegui, por exemplo, ir para a Europa, como o Edu fez em algumas ocasiões. Ficar 10 ou 15 dias fora é quase impossível. Fui em cursos de gestão e palestras e gostei. O mais legal é essa troca de experiência, de informações. Você fala com outro executivo, divide os problemas que ele tem e são parecidos com os seus, mostra como solucionou, que às vezes é diferente da forma dele... Troca de experiência ajuda muito.

O Edu Gaspar foi seu grande mentor?

Com certeza. Desde o primeiro dia que entrei aqui procurei olhar o que ele estava fazendo, a maneira como estava conduzindo, como resolvia problemas, o modo como ele procurava se antecipar a algumas situações... Sempre fui muito observador.

E no fim vocês já estavam 100% integrados...

Ele até brincou, porque eu falei "caramba, você está indo, como vai ser o dia a dia?" E ele falou: você nem percebeu, mas já estava pilotando há muitas rodadas e meses. A gente estava se alternando. Em alguns dias eu participava de reuniões que ele havia agendado e só passava a pauta para mim, depois definíamos juntos. Eu também já fazia viagens com a delegação, estava ciente de tudo que envolve um dia de jogo. O Edu me inseriu no departamento, naturalmente fui pegando e fazendo as coisas. Ainda tenho muito para fazer, a experiência te dá um lastro positivo e eu só estou há dois anos e meio.

Como o mercado e os jogadores recebem um ex-atleta em função de gestão?

Penso que no primeiro momento é muito bem recebido. Depois depende do perfil, da maneira que a pessoa lida no dia a dia com os atletas. O contato é diário, importante também para o atleta, que tem necessidades, às vezes quer dividir alguma dificuldade... Deixo minha porta aberta, para que eles possam compartilhar as dificuldades não só com o treinador, como com a gente. Creio que eles podem até olhar para a gente com mais segurança, por já ter sido atleta.

Reconhece um caso mais difícil nesta nova função?

Nunca teve um caso dificílimo no profissional, que tenha tido dificuldade para resolver. Até aquelas negociações que não deram certo, como o Guerrero, por exemplo, sabíamos que fizemos tudo que poderia, fomos até onde o clube poderia ir. A parte mais difícil é no departamento amador, alguns contratos de formação para entrar no trabalho, a dificuldade dos pais para entender que o menino não vai ficar rico no primeiro contrato... Os problemas maiores, mais longos para solucionar, vieram do amador.

O gerente também vira um conselheiro dos jogadores dentro do Corinthians? Há casos complicados hoje, como Luciano, Cássio...

Na verdade é um trabalho todo do Corinthians, do presidente a um simples funcionários. As relações com os atletas são diretas. A gente cria intimidade para que eles possam dividir questões profissionais e pessoais. É difícil pontuar como abordar questões pessoais. Se ele não traz isso para a gente, não tem como chegar até ele. O que o clube sempre fez a pedido do presidente é ficar completamente à disposição para auxiliar o jogador. Tem que ver o caso. O do Luciano é bem claro. O agente teve alguns problemas, ele trocou e hoje está com um novo agente. Já o Cássio a gente vinha acompanhando e conversando com ele desde antes, lá atrás, quando ele perdeu a avó, infelizmente. É um cara que a gente tem um carinho muito grande, estaremos solícitos a ajudar em qualquer problema que ele venha a ter. Isso vale para todos. O clube está com as portas escancaradas, a sala do Cristóvão, a minha e a do presidente estão às ordens para os atletas, pois precisamos deles confiantes e seguros para os jogos.

A postura do dirigente nesse caso é ativa ou você espera as manifestações?

Não nos baseamos por resultados. A gente convive diariamente com os atletas, em um simples comportamento já temos um sinal que dá a iniciativa de abordar os atletas. Pelo longo convívio sabemos se o atleta está bem, como está a vida fora daqui... estamos sempre abertos, trocando mensagens... solícitos a eles. Não precisa nem ser um grande problema. Teve vários casos pequenos que fomos procurados, solucionamos e as questões não vieram a público. É uma comunicação que tem que existir para evitar problemas maiores.

Como é a divisão de trabalho no departamento de futebol hoje?

A diretoria trabalha integrada, eu, presidente e Eduardo Ferreira. Eu faço esse elo técnico, junto com o Cristóvão e a comissão técnica, inserindo o Cifut (Centro de Inteligência do Futebol). Não necessariamente os atletas que interessam surgem do Cifut. O Cifuté um banco de dados completamente atualizado, parrudo para nos dar informações precisas de atletas que a gente acha importante. O mercado é gigantesco. A gente não precisa ir no computador para saber onde o atleta está. Pelo conhecimento, sabemos onde está a maioria. Mas alguns não. O Cifut dá uma precisão absurda. Surgem nomes interessantes também, porque o Cifut tem uma capacidade de avaliação maior que a nossa por conta de toda a demanda de trabalho que temos. Há atletas, por exemplo, que saíram de clubes menores ou estão disputando estaduais em clubes menores. A gente vai trocando figurinhas.

É assim para buscar jogadores também?

Existe sempre um contato inicial, que é combinado entre o presidente e o Eduardo Ferreira. Eu não faço isso sem comunicar o presidente ou o Eduardo Ferreira.

Com o elenco atual o Corinthians briga por quais objetivos?

Vai brigar sempre pelo título, Libertadores, independentemente do elenco. Temos um grupo bastante qualificado, confiamos em todos que aqui estão, são jovens, com margem de evolução ampla. Está em um início de campeonato e vai buscar regularidade, uma sequência positiva. Está muito cedo para falar, estamos na briga e não podemos desgarrar. Estamos a uma vitória do líder, buscamos um pouco mais de regularidade, encontrar umas três vitórias, o que nos dará condição de brigar pelo título. Tem muita coisa ainda, o campeonato está só começando.

O grupo hoje é pequeno, como disse o Cristóvão?

A gente está com um grupo bom, 32 jogadores é um número com o qual o Corinthians vem trabalhando nos últimos anos. Nós detectamos o que é importante agregar ao elenco, já sabemos, isso foi dividido com o Cristóvão, mas não ficamos levantando pontualmente e passando a vocês. Daqui a pouco aquilo que temos bastante adiantado muda tudo, valoriza-se mais... Você sabe como funciona. Mas estabelecemos um canal de comunicação direto com o Cristóvão com base naquilo que achamos ser necessidade ao elenco. Vamos buscar cada vez mais oportunidades ao clube. O time é muito bom, se tivermos oportunidade, vamos fazer.

Para a zaga é necessário, já que o Felipe foi vendido?

Não dá para dizer qual o setor. De repente a gente pontua uma posição e ali na frente ela passa a não ser mais necessária. Hoje o Pedro fez sua quarta ou quinta partida e mostrou uma qualidade muito grande e ainda tem muito a evoluir. Temos o Yago voltando de lesão, Balbuena, Vilson... Quatro excelente atletas mais um da base, que é o Léo. Se for uma oportunidade interessante para somar, vamos fazer, mas tem que vir para agregar.

Então o Corinthians está buscando reforços?

Não tem um foco urgente. Como disse, havia coisas alinhadas, que colocamos para o Cristóvão, que é o novo treinador. As coisas estão em andamento e caso se concretizem ele vai ser o primeiro a saber. Ele está a par de tudo o que o clube está buscando. Temos que ter paciência. Não podia o Cristóvão chegar aqui e no dia seguinte chegar um novo profissional. O treinador está chegando, ele precisa conhecer as situações que estão acontecendo... Precisamos ter calma e paciência para não errar nessa tomada de decisão.

Há negociações para contratar jogadores, então?

O Corinthians nunca parou e não vai parar, está atento, se mexendo, tendo reuniões, o torcedor pode ter a certeza. Se tiver possibilidade de reforçar e ajudar, isso será feito, com convicção e responsabilidade diante do que o presidente e o Cristóvão pensam.

E existe alguma proposta para alguém ir embora?

Nenhuma consulta nem proposta para ninguém, sinceramente.

Chegar à seleção é uma ambição sua também?

Estou há poucos dias como executivo, é difícil falar. Estou há quase nove anos no clube, tenho uma história e um carinho grande, não posso olhar tão para frente. Tenho uma margem de crescimento grande, tenho muito a evoluir como profissional e pessoa. Quero poder contribuir mais com atletas, diretoria e funcionários neste momento em que estou tendo uma nova oportunidade. Quando cheguei em 2008 jamais imaginava que poderia ser campeão do mundo. A gente tem que trabalhar a cada dia, pois é assim que se conquista resultados.