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'Decisão sobre a Rússia mancha o legado de Thomas Bach no Comitê'

25/07/2016 20h03

Houve um tempo onde Thomas Bach parecia exatamente o líder que o Comitê Olímpico Internacional precisava. Ele defendeu reformas, incluindo como uma racionalização de como as cidades se candidatavam para os Jogos, e fez todo o processo de licitação mais barato. Ele lutou pelos direitos dos gays quando adicionou a orientação sexual às prioridades das campanhas anti-discriminação do COI, fazendo na hora certa para as Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia, em 2014, um país que instituiu leis anti-gays.

Bach, um alemão que ganhou uma medalha de ouro com a equipe de esgrima da Alemanha Ocidental nos Jogos Olímpicos de Montreal 1976, parecia que seria um presidente que iria lutar pelos direitos dos atletas, porque, afinal, ele tinha sido um.

Mas, aonde estava a liderança dele domingo, quando o COI anunciou que não iria barrar o Comitê Russo e os atletas da Rússia dos Jogos do Rio de Janeiro, mesmo com as evidências do doping?

Ao invés de usar o poder do COI para se impor sobre a Rússia, um país que os maiores oficiais do esportes implantaram um programa de doping que durou de 2011 a 2015. Ele largou o caso russo no colo das 28 federações internacionais com os Jogos a menos de duas semanas.

Agora as federações devem resolver - e rápido - os casos individuais dos atletas que querem sua inclusão nos Jogos. Agora, algumas horas depois do anúncio oficial do Comitê domingo de manhã, a Federação Internacional de Tênis disse que oito atletas russos que queriam participar dos jogos podem ir.

O Bach poderia ter dado um forte exemplo para as Nações que se atrevem a enganar no campo de jogo tão corajosamente e desafiante como a Rússia fez. Mas falhou de muitas maneiras. Como um líder. Como uma voz que pode limpar os esportes e os atletas. Como alguém que quer manter sua palavra.

É o mesmo Thomas Bach que - no último ano - declarou que o COI tinha "tolerância zero" com "doping e qualquer tipo de manipulação e corrupção"?

É este o mesmo Thomas Bach, que disse no ano passado que o sistema antidoping Olímpico teve de ser reformulado e feito inteiramente independente das nações e federações desportivas porque iria enviar uma mensagem de um bom governo e transparência? Porque fazendo isso ajudaria a "melhor proteger os atletas limpos e reforçar a credibilidade do esporte"?

Bach deveria saber, depois de todos os seus anos no movimento Olímpico, que pessoas como o Stepanova, que estão no dentro do sistema, são as mais valiosas em expor a corrupção. Se ele não sabe, ele certamente não deveria estar no comando.

No entanto, Bach disse no domingo que Stepanova não poderia competir no Rio sob uma bandeira neutra, ou de qualquer bandeira. Que ela poderia ser uma observadora como convidada do Comité Olímpico.

O que o Comitê Olímpico não conseguiu dizer foi que Stepanova arriscou sua vida, seu modo de vida e a segurança de sua família por abrir talvez o maior escândalo de trapassa na história dos Jogos Olímpicos. No entanto, por isso, ela não deve correr novamente.

Foi, no entanto,um bom exemplo da queda de Bach de um líder forte para um fraco. Em 2014, Minky Worden, diretora de iniciativas globais dos Direitos Humanos, chamou Bach de "um pouco de ar fresco" no movimento Olímpico.

No domingo, o jornal alemão Bild o chamou de algo totalmente diferente em uma foto de Bach com o presidente da Rússia, Vladimir V. Putin. A manchete era: "o Poodle de Putin".

Juliet Macur, colunista do New York Times (EUA)