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'É muito difícil para os técnicos estrangeiros implementarem seu trabalho'

27/07/2016 16h32

A contratação de técnicos estrangeiros e a falta de continuidade deles em seus cargos não sai de pauta no futebol brasileiro. Recentemente, muitos nomes de várias nacionalidades diferentes foram testados e sempre acabam contestados e demitidos com muita rapidez.

Paulo Bento (Portugal) - Cruzeiro 2016

A mais recente demissão aconteceu no Cruzeiro, com Paulo Bento saindo após a derrota para o Sport por 2 a 1, no Mineirão. O português comandou o clube celeste em 17 jogos, 15 pelo Brasileirão e dois pela Copa do Brasil. Foram seis vitórias, três empates e oito derrotas. No total, ele ficou 75 dias no cargo.

- Paulo Bento não só teve muito pouco tempo para implementar seu trabalho, mas a chegada ao Cruzeiro com o Brasileirão em andamento foi muito prejudicial. Sua maneira de trabalhar seria mais bem-sucedida ao entrar em uma pré-temporada.

Somam-se a isto a falta de qualidade do plantel celeste, as lesões de jogadores como Mayke e Dedé, e o fato de Bento ter demorado a contar com reforços. Sóbis e Ábila jogaram pouco com ele, e Denílson sequer entrou em campo - comentou Hugo Neves, repórter do português Récord.

Edgardo Bauza (Argentina) - São Paulo 2016

Edgardo Bauza chegou ao São Paulo em janeiro de 2016 e liderou o Tricolor às semifinais da Copa Libertadores. Nos últimos dias tem sido especulado na seleção da Argentina após o treinador Tata Martino pedir demissão depois da Copa América Centenário.

- A cultura de futebol brasileira é muito especial, e os treinadores estrangeiros têm muita dificuldade para se adaptar a eles, tanto que somente Edgardo Bauza vem sobrevivendo. Além disto, o futebol visa o resultado imediato, e algumas derrotas são suficientes para deixar sob desconfiança qualquer trabalho - avaliou o jornalista Bruno Sturari, do Olé, da Argentina.

Sérgio Vieira (Portugal) - América-MG 2016

O América-MG apostou no português Sérgio Vieira, que só durou 43 dias no cargo. Ele deixou o Coelho na lanterna do Campeonato Brasileiro com oito pontos. Vieira teve sete derrotas e três vitórias, sendo uma delas na Copa do Brasil, contra o Fortaleza.

- Sergio Vieira teve menos tempo ainda que Paulo Bento. Aqui na Europa o que se critica mais no futebol brasileiro é a maneira como os treinadores têm de mostrar resultado rapidamente. Vieira chegou a um América-MG que estava na última colocação e vinha de muitos erros. Não seria em 43 dias que ele iria promover mudanças para a equipe - disse Hugo Neves, repórter do Récord.

Juan Carlos Osório (Colômbia) - São Paulo 2015

Juan Carlos Osório ficou 133 dias no comando do São Paulo e trocou o Tricolor pela oportunidade de treinar a seleção do México. No total, Osório comandou o time do Morumbi em 28 jogos e teve 12 vitórias, sete empates e nove derrotas.

Diego Aguirre (Uruguai) - Internacional 2014,2015 e Atlético-MG 2016

Diego Aguirre foi um dos treinadores que mais durou em seu cargo. Treinando Internacional e Atlético-MG, ele passou 227 dias no colorado e 168 no Galo. Aguirre deixou o Inter às vésperas do Gre-Nal após comandar 48 partidas oficiais. Foram 24 vitórias, 15 empates e nove derrotas. Conquistou o Gauchão sobre o Grêmio e terminou a Libertadores como semifinalista. No Brasileirão, deixou o time gaúcho na décima posição.

No time atleticano, o treinador disputou 31 partidas e teve 16 vitórias, sete empates e oito derrotas. Conquistou apenas o Torneio da Flórida, foi vice-campeão mineiro, perdendo a decisão para o América-MG, além de ser eliminado na fase de grupos da Primeira Liga. O que culminou seu pedido de demissão foi a derrota para o São Paulo nas quartas de final da Libertadores.

- O futebol brasileiro tem uma forma muito peculiar de funcionar, e é muito difícil para os técnicos estrangeiros implementarem sua forma de trabalho. Além disto, os estilos de jogos que tentam implementar não são necessariamente as ideais para o que os clubes brasileiros pedem, e os técnicos não conseguem seguir seus trabalhos - comentou o jornalista Ignacio Chans, do El Observador, do Uruguai.

Ricardo Gareca (Argentina) - Palmeiras 2014

Ricardo Gareca resistiu apenas três meses no comando do Palmeiras. Após uma onda de contratações e muita pressão, a direção justificou que os resultados dele à frente do Verdão eram insustentáveis. No Brasileirão, ele conquistou apenas quatro pontos de 27 possíveis. Em nove partidas na competição, foram sete derrotas, um empate e uma vitória.

No total, Gareca comandou a equipe em 13 jogos, incluindo um amistoso e três duelos pela Copa do Brasil. Foram quatro vitórias, um empate e oito derrotas.

Juan Carrasco (Uruguai) - Atlético-PR 2012

Juan Carrasco chegou ao Atlético-PR no dia 4 de janeiro e foi demitido no dia 12 de junho após maus resultados na Série B. O uruguaio comandou 36 jogos, venceu 22, empatou sete e perdeu outras sete. O time perdeu para o rival Coritiba na final do Campeonato Paranaense, caiu diante do Palmeiras nas quartas de final da Copa do Brasil e ocupava apenas a décima posição na segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Miguel Angél Portugal (Espanha) - Atlético-PR 2012

Miguel Angél Portugal durou 131 dias no comando do Atlético-PR (janeiro a maio) e pediu demissão após 13 jogos oficiais. Foram cinco vitórias, dois empates e seis derrotas.

Jorge Fossati (Uruguai) - Internacional 2009, 2010

Jorge Fossati liderou o Internacional na campanha que rendeu ao colorado o título da Libertadores em 2010. Porém, o treinador não esteve no comando da equipe na decisão. Chegando em dezembro de 2009, ele foi demitido em 28 de maio de 2010 com o time na semifinal da competição continental. Foram 33 partidas com 18 vitórias, seis empates e nove derrotas.

Lothar Matthaus (Alemanha) - Atlético-PR 2006

O alemão Lothar Matthaus ficou no Atlético-PR entre janeiro e março de 2006. A diretoria do Furacão surpreendeu ao anunciar, em um contrato que valia R$ 3 milhões, a chegada de Matthäus, até então a maior aquisição da história do clube. Menos de dois meses depois, oitos jogos, seis vitórias e dois empates, Matthäus reclamou de salários atrasados, mas o clube negou.

No dia 7 de março, o site oficial do Furacão anunciou que o treinador se ausentaria do clube "por alguns dias para resolver assuntos pessoais na Alemanha". Ele deixou o treino da manhã no CT do Atlético e viajou para São Paulo, onde fez voo de conexão para Frankfurt. No dia 20 de março, a diretoria anunciou o desligamento de Matthäus do cargo.

Daniel Passarela (Argentina) - Corinthians 2005

Daniel Passarella foi contratado em março de 2005 para substituir Tite. Depois de uma derrota por 3 a 0 para o Cianorte na estreia, o argentino engatou uma sequência invicta de 11 jogos. Porém, quando o Brasileirão começou, o Corinthians "desandou". Em 15 jogos, Passarella obteve sete vitórias, quatro empates e quatro derrotas.

Darío Pereyra (Uruguai) - São Paulo 1997/98, Coritiba 1998, Atlético-MG 1999, Guarani 2000, Corinthians 2001, Paysandu 2003, Grêmio 2003

Darío Pereyra é um um dos grandes ídolos do São Paulo no passado e, após a aposentadoria, resolveu virar técnico e começou como auxiliar de Muricy Ramalho no próprio São Paulo, em 1997. Foi embora em 1998 e rodou diversos clubes, como Coritiba, Atlético-MG, Guarani, Corinthians, Paysandu, Grêmio, Arapongas, Portuguesa, Vila Nova-GO e Águia de Marabá-PA. Ele ganhou apenas uma taça, o Campeonato Mineiro de 1999 pelo Galo.

Roberto Rojas (Chile) - São Paulo 2003

Após a polêmica que o fez encerrar a carreira em 1990, Roberto Rojas voltou após uma conversa com o técnico Telê Santana, então no São Paulo, e foi ser treinador de goleiros.

Em 2003, depois da demissão de Oswaldo de Oliveira, Rojas e Milton Cruz assumiram o comando do time no Campeonato Brasileiro e, no final deste ano, levaram o São Paulo à vaga da Libertadores de 2004. Ele mostrou o desejo de ser efetivado, mas a diretoria da época decidiu contratar Cuca.

- Lidar com o futebol brasileiro é complicado. São conceitos muito arraigados, e fica muito difícil para um treinador estrangeiro propor novas ideias de trabalho, especialmente em pouco tempo - comentou o jornalista Juan Ignacio Gardella, do El Grafico, do Chile.