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Ex-Palmeiras tenta evitar transplante de rim para continuar no futebol

Marcelo Costa em ação pelo Palmeiras em 2006 - FERNANDO SANTOS/Folha Imagem
Marcelo Costa em ação pelo Palmeiras em 2006 Imagem: FERNANDO SANTOS/Folha Imagem

07/10/2016 16h51

Todas as noites, quando coloca a cabeça no travesseiro, Marcelo Costa sente o cheiro da grama. Ouve o barulho da torcida, o calor da disputa da partida de futebol. E sente saudades por ter perdido tudo isso de um dia para o outro, sem aviso prévio.

"Não aceito como aconteceu. Foi tudo muito repentino. Meu sonho foi arrancado", disse o volante de 36 anos.

Costa, 36 anos, passou pelo Palmeiras em 2006. Depois peregrinou por Juventude, Ipatinga, Caxias, Goiás, São Caetano e Paysandu. Foi um dos principais nomes do acesso do Joinville à Série A do Campeonato Brasileiro de 2014. Teve de parar com o futebol neste ano porque foi diagnosticado com uma doença renal crônica. Apenas 20% dos rins funcionam. Ele precisa de transplante para continuar vivendo, mas quer evitar isso a todo custo.

"Se eu passar pelo transplante, vou ter de abandonar o futebol de vez. Não quero isso. Preciso voltar a jogar", completa o volante.

Em 2015, ele começou a sentir as pernas incharem. Acreditou não ser nada demais. Apenas retenção de líquidos. Neste ano, no Paysandu, se queixava de enjoos constantes, cãibras, mal estar. Os médicos não descobriram o problema, até que o jogador passou mal após um treino em maio. Foi levado às pressas para o hospital. Apenas ao ser internado por uma semana recebeu o diagnóstico.

Liberado pelo clube paraense para se tratar, Marcelo Costa voltou para Joinville, onde mora. Começou a corrida pela cura.

"Foi descoberto um pouco tarde o meu problema. Em Joinville, há a Fundação Pró-Rim, que é referência no tratamento de doenças renais. Estamos na luta".

Todos os dias, o jogador (ele não aceita ser ex) passa por diálise peritoneal, processo em que a membrana que envolve os órgãos abdominais é usada como filtro do sangue, removendo excesso de água e toxinas no organismo, assim os rins conseguem trabalhar melhor. É a última tentativa de Marcelo Costa para evitar o transplante e o fim de sua carreira como atleta profissional.

"Eu estou encarando tudo isso como se o treinador me falasse que eu não vou jogar na próxima partida mas voltarei na seguinte. O futebol não é um assunto acabado para mim. Por mais que a doença seja grave, não é hora de desistir do meu sonho."

Os torcedores do Joinville que pedem para ele voltar ao clube, o animam. A equipe luta contra o rebaixamento para a Série C. Todos os dias, recebe telefonemas de ex-companheiros e treinadores com palavras de incentivo. É o combustível para se manter forte e continuar acreditando.

Marcelo Costa não quer que ninguém pense que ele é louco. Não acredita colocar a vida em risco por causa da profissão. Afirma também não ser uma questão de dinheiro. Não está milionário, mas vive bem com a Michele e os filhos Miguel e Michel. Eles sofrem e se preocupam bem mais do que o próprio paciente.

"Não estou colocando a minha vida em risco. Eu vou viver, tenho certeza. Se o tratamento não der certo, vamos para o transplante."

O tom é otimista. Nem parece que ele tem uma doença grave e possivelmente terá de passar por cirurgia tão radical quanto o transplante de órgãos. Costa não é mais um menino. Não é como se tivesse mais dez anos de carreira pela frente. Confessa que seu plano é jogar até o final de 2017.

"Eu sempre sonho que estou em campo, jogando, dando passes. O tempo inteiro imagino a minha volta. Quero agradecer a todos que me ajudaram. O futebol não acabou para mim. Isso não pode acontecer sem que eu tenha a chance de me despedir. Não aceito."

E "não aceitar" significa desafiar uma doença.

BATE-BOLA COM MARCELO COSTA

'Por que insistir no futebol?

Fui pego de surpresa pela doença. Eu tinha uma programação de parar no final de 2017 e quero cumpri-la.

Não coloca sua vida em risco?

Eu vou viver. Tenho certeza. Apenas faço tratamento para tentar evitar o transplante.

Quando vai saber se o tratamento deu certo?

Vou fazer exames e esperar os resultados.