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Dois meses após medalha olímpica, atleta segue sem receber premiação no taekwondo

27/10/2016 13h23

- Nenhum atleta pensa nisso. Depois de conquistar uma medalha, você pensa que só coisas boas virão. Mas até agora não tem nada disso. Está pior do que antes.

A frase acima foi dita por Maicon Andrade, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no taekwondo, na categoria acima de 80kg. Um pouco mais de dois meses após alcançar o resultado mais expressivo de sua carreira, o competidor tem passado dificuldades. Isso porque, a premiação prometida pela Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTkd) pela conquista ainda não foi paga. E, segundo ele, o que não faltam são promessas que nunca se tornam realidade.

- A Confederação não conversa comigo, não manda nada para mim, não quer saber o que está acontecendo. Eles passaram e-mail dando uma data. O prazo era até sexta-feira passada, mas não pagaram nada. Não entraram em contato comigo, só enrolam, empurram com a barriga. Ela deu um calote em mim. Não estou mendigando ou pedido dinheiro para ninguém. A questão é que fui um bom funcionário e tive uma premiação. Está um descaso total - comentou o lutador, que organizou uma coletiva de imprensa em São Caetano do Sul (SP), onde treina, para falar sobre o caso.

Segundo Maicon, o valor da premiação é de R$ 12.500,00. Além disso, a CBTkd estaria devendo para ele mais R$ 10.375,00 como um reembolso pelo pagamento de passagens de atletas do Irã para auxiliá-lo no treinamento para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

- O que a Confederação tem de fazer é repassar o valor para o atleta. O que está acontecendo é que ela não está nem aí para quem levou o nome do esporte na Olimpíada - disse o brasileiro.

Aos 23 anos, o mineiro Maicon mora atualmente em São Caetano do Sul e treina na academia Two Brothers Team. É com uma ajuda da prefeitura da cidade paulista que ele tira seu sustento atualmente. Mas os R$ 1.700,00 não são suficientes para bancar os treinamentos, a suplementação, a equipe multidisciplinar, as viagens para competir... Por isso, tem contato com a ajuda de amigos e integrantes do local onde treina para promover algumas festas e rifas para aumentar seus ganhos. Ainda mais, porque, segundo ele, o valor do bolsa atleta (de R$ 1,5 mil) não tem sido pago pelo governo federal desde o ano passado.

- É pouco dinheiro para muita coisa. A gente ajuda todo mundo, o técnico, outros atletas... É um ajudando o outro - comentou.

A CBTkd vive um momento de crise. No fim de agosto, o então presidente Carlos Fernandes foi afastado do cargo após a Polícia Federal deflagram uma operação contra uma quadrilha suspeita de fraudes em licitações e desvios de recursos repassados pelo Ministério do Esporte. Até por isso, Maicon não sabe com quem se comunicar na entidade.

O atleta afirma ter recebido um novo e-mail na manhã desta quinta-feira referente ao atraso no pagamento de sua premiação. Enviado pela assessoria de imprensa, o comunicado pedia que ele fosse ao Rio de Janeiro para conversar sobre a situação.

- Não tem como eu ir. Estou em fase de treinamento. Eram para ter depositado até sexta-feira. O tem para fazer no Rio de Janeiro, se não tem presidente nem nada - reclamou o medalhista olímpico.

Maicon ainda relembrou de sua preparação para a Rio-2016. As dificuldades de relacionamento com a CBTkd surgiram na preparação para a Olimpíada. O competidor não teve a possibilidade de seguir os treinamentos com seu técnico e teve de trabalhar com um outro indicado pela entidade. Ele reclama que tal treinador pouco conhecia de seus adversários e pouco auxiliava.

- Já tive muitos problemas. Era difícil ser ajudado na preparação lá atrás. Naquela época, foram vários problemas que a Confederação levou para dentro do centro de treinamento. Então, veio uma nota cortando meu técnico faltando uma semana para o início dos Jogos. Fazia treino pelo telefone, Whatsapp, Skype. O atleta, ao invés de se preocupar somente com o treino e em trabalhar em cima do adversário, se preocupava em memorizar a atividade que meu treinador passava. Isso se tornou uma bola de neve, não conseguia me concentrar direito, dormir direito, minha cabeça ficou a mil. Isso gerou um estresse muito grande - lamentou.

Agora, o que Maicon mais quer é receber os valores devidos pela Confederação e iniciar a preparação para o próximo ciclo olímpico. Por conta das dificuldades financeiras e a falta de diálogo com a entidade, ele perdeu as últimas competições deste ano. Agora, entrar em qualquer combate, apenas em 2017. Mas nada que faça ele repensar a carreira ou sugira um abandono do taekwondo. O principal objetivo é voltar a uma Olimpíada. E também receber tudo o que lhe foi prometido.

O outro lado

A reportagem do LANCE! tentou entrar em contato com a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTkd) nesta quinta-feira por telefone e e-mail, mas até o momento da publicação dessa matéria não obteve resposta.