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"Fiquei emocionado em dar alegria ao Vasco", diz Zé Ricardo

Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

13/12/2017 07h00

Aos 46 anos, Zé Ricardo já se consolidou como técnico de futebol. Em menos de dois anos como treinador de time profissional, comandou o Flamengo e o Vasco, onde conseguiu mudar a cara da equipe, levando o Cruz-Maltino à Conmebol Libertadores após cinco anos de ausência. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o comandante avaliou a temporada, falou sobre o trabalho, montagem do elenco, o que pode-se esperar em 2018 e muito mais. Confira a íntegra abaixo!

Qual é a sensação que você termina essa temporada diferente do ano passado quando você ainda era uma promessa e hoje já é uma realidade?
Foi uma temporada positiva, apesar de ter a mudança no meio do ano. Logo em seguida comecei a trabalhar no Vasco, muito lisonjeado com o convite. Temos um prazer em um ano e meio de profissional trabalhar em dois times gigantes como o Flamengo e o Vasco, fico muito feliz. E também ter conseguido o objetivo do Vasco chegar na Libertadores depois de muito tempo nos deixa com o sentimento de dever cumprido. Mas conscientes que ainda tem muita coisa pra fazer, temos muita coisa pra desenvolver lá no clube. Recuperar a autoestima da nossa torcida. Muita gente na rua me dando parabéns, feliz, estou feliz por contribuir com essa felicidade neste fim de ano ao torcedor vascaíno.

Como você descreve o trabalho no Vasco?
O Vasco passou por um período de reconstrução. Sabemos que tem muita coisa para melhorar. Encontrei um departamento de futebol muito pró-ativo, querendo muito que as coisas acontecessem. Os atletas receptivos ao que passamos pra eles o tempo todo. O tempo todo foi uma troca de honestidade, muita clareza do que queríamos. Conseguimos aos poucos recuperar a confiança do grupo que era importante para tocar o trabalho. E todos os funcionários me receberam de forma muito carinhosa, desde os meninos que trabalham na base, funcionários mais simples, é um clube muito legal nesse sentido. E aos poucos a confiança que precisávamos surgiu com os resultados acontecendo. Alguns placares nos frustraram no início, mas também no início do trabalho sabíamos que era normal oscilar um pouco. Menos mal que estávamos marcando sempre um ponto, empatando, no final deu tudo certo. Valeu pelo empenho de todos, pela maneira coletiva que chegamos ao nosso objetivo.

Na última coletiva, você disse que alguns amigos disseram que "você estava maluco" ao assumir o Vasco. Como foi essa história? Pediram desculpas depois do sucesso no trabalho?
Pessoas bem próximas, não é? Sabemos que estão ali buscando o melhor. Amigo sempre queremos o melhor. Mas quem vive no futebol sabe que para os resultados acontecerem são muitos fatores. Realmente tínhamos um clube com cenário difícil, mas para mim que estava começando uma carreira... Os que falaram isso foi no sentido de ajudar... "Pô, você tem que fazer o segundo trabalho melhor do que o primeiro para fixar seu nome no mercado, vai para um clube em uma situação complicada, não tem receio de dar errado..." Depois de eu ter dito isso na última coletiva alguns colegas até brincaram comigo "vestiu a carapuça, não sei o que..." (risos), mas foi de uma maneira carinhosa, querendo ajudar. Graças a Deus tínhamos convicção de fazer um bom trabalho, isso era o mais importante. Todos os atletas ficaram um no lado do outro. Pensamos agora em coisas maiores. Vamos entender o que vem pela frente e se preparar para isso.

A torcida gritar o seu nome no último jogo mexeu contigo?
Estava emocionado quando acabou o jogo. Foi um trabalho muito duro, mas também muito bonito. Daria para escrever um livro, sem dúvida alguma. E ficamos emocionados em poder dar alegria para a torcida do Vasco e ao clube. Algumas coisas fazem remeter tempos atrás... Comecei no Vasco, foi o primeiro grande que trabalhei, no futsal em 1993. E isso passa na cabeça. Isso só reforça que temos de ter fé no trabalho, fé em tudo, fé em Deus para as coisas ocorrerem. O trabalho foi coroado com essa classificação.

O esquema que adotou foi em virtude dos jogadores que encontrou ou pensa em mudar para a próxima temporada? Quais as posições mais urgentes para reforçar?
Acho que temos que fortalecer o nosso grupo como um tudo. O Vasco precisa brigar por títulos e para isso tem de fortalecer a equipe. Pincelei alguns nomes lá atrás com a direção, mas em virtude das definições políticas, não entramos muito efetivamente nessa questão. Dentro do campo conseguimos o nosso objetivo, então começamos a pensar em 2018. Na forma geral, todos os setores precisamos fortalecer. O mais importante é manter uma base, já temos alguma coisa no clube, começar o trabalho do zero está longe do que queremos. Mas para ter versatilidade da maneira de jogar precisamos fortalecer. Entendemos o grupo, através das peças trocamos ou montamos uma plataforma de jogo.

Em relação ao Luis Fabiano, tem chance de jogar já na Libertadores no fim de janeiro, caso o Vasco entre na primeira fase?
O que foi me passado era que ele iria depois que foi definido que não jogaria mais esse ano era que ele voltaria em 2018 com 100% ou muito próximo do ideal com um atleta da idade dele possa entrar em campo. Tomara que consiga. É um jogador que por onde passou fez muitos gols, até pouco tempo atrás era o artilheiro da temporada do Vasco para ver a falta que ele fez a gente, e agora acredito que no início da temporada ele possa estar apto.

O que foi feito para blindar o elenco dos problemas e conseguir a vaga na Libertadores?
Entendíamos que devíamos deixar tudo de fora. Nesse ponto o Anderson Barros (diretor executivo de futebol do Vasco) foi importante para a gente. Conseguiu deixar de fora toda a parte política, blindou muito o nosso elenco. Por isso conseguimos se manter fora disso ali. No dia da eleição saímos do campo principal e treinamos no campo anexo para não ter nenhum contato... Entendíamos que podíamos fazer bons jogos. Agora vamos avaliar tudo que precisamos e buscar a campanha na Libertadores.

O que mais te surpreendeu no elenco do Vasco?
Uma surpresa foi o que todo mundo comprou a nossa ideia muito rápido. Foi muito legal essa troca com nossos atletas. O respaldo que a direção deu pra gente também me chamou a atenção. Com isso conseguimos ter um início facilitado para o nosso trabalho.

Se o Vasco entrar na Libertadors em janeiro, pretende utilizar a base no Carioca?
Vai ser um início de ano difícil. Independentemente de ser primeira fase ou grupos na Libertadores, ainda temos muitas indefinições em nosso elenco. Ainda não temos certeza de quem vai continuar ou sair do clube, muitos contratos terminando... Fora disso, contamos muito com os meninos da base. Têm qualidade, conhecem o clube, sabem da maneira que jogamos, é importante continuar apostando neles para conseguirmos os resultados.

Pretende colocar um time alternativo no Carioca para aumentar a pré-temporada e focar os mais experientes na Libertadores?
É difícil colocar alguma coisa sem saber o plantel. A nossa lógica é enxugar um pouco o plantel. É muito atleta. Não podemos continuar assim.

Tem alguém da base que ainda não subiu e pode ter chance em 2018?
Acabamos utilizando mais o Paulinho pela qualidade que tem, Mateus Vital, Evander... Mas temos Andrey, Bruno Cosendey, Gabriel goleiro, Paulo Vitor, Alan que quase entrou no último jogo, fiquei com uma dúvida muito grande... Ricardo zagueiro, lembra um zagueiro muito técnico, queremos dar tranquilidade para ele entrar. Tudo isso esperamos fazer no Carioca. Alguns desses irão participar na Copa São Paulo para rodar mais e chegar em janeiro com maior situação de jogo no Carioca. Iremos fazer isso e teremos boas respostas.

Qual a importância de fazer a pré-temporada com o elenco?
Fundamental. Pré-temporada é muito importante em vários aspectos. Conseguimos buscar algumas soluções que não podemos testar dentro de uma competição. Se optamos por fazer uma troca no meio da competição, com margem de erro menor, a pré-temporada serve para isso, além de dar uniformidade na questão física dos atletas. O time base dos últimos jogos três ou quatro jogadores fizeram a pré-temporada deste ano na Flórida. Agora vamos buscar essa uniformizada nestes aspectos e continuar o ambiente de trabalho para um início de temporada forte e depois acelerar.

Pré-temporada será feita em qual cidade?
Está sendo estudada (a cidade). Uma coisa certa é que em São Januário não vai ser. Inclusive vamos fazer uma bela reforma no nosso gramado em São Januário para colocarmos nas melhores condições possíveis, top de linha. A nossa ideia é de ter uma equipe com jogo bem construído, passes apoiados, com uma equipe mais atuante na posse de bola, propondo mais atividade ao adversário, criando mais problema, e é fundamental para que isso ocorra é que o gramado tenha o maior nível possível. Foi o único pedido que eu fiz para a direção. Para ter um gramado em ótimo nível.

Chegou alguma proposta para você sair do Vasco? O fato da atual gestão não demitir muito técnico ajuda o planejamento?
É a tônica. Na minha carreira procuro honrar meus compromissos contratuais. Assinei com o Vasco até o final de 2018 e espero que seja cumprido. Da minha parte estou satisfeito. Chegaram realmente algumas sondagens, mas foi só consulta, nada mais oficial. Deixei claro que minha vontade é cumprir o meu contrato.

O que o torcedor pode esperar do Vasco em 2018?
A certeza que temos é que vamos trabalhar muito, mais até do que trabalhamos esse ano. Conquistas são consequências de atitudes certas tomadas por todos. Podemos prometer muita disposição. Vamos buscar alguma conquista. A promessa é de trabalhar muito, muito mesmo.

Há algum nome mais perto do Vasco contratar? O alvo é mercado no Brasil ou no exterior?
Não conversamos sobre nomes. Temos atletas da primeira e da segunda divisão do Brasileiro que se destacaram na minha visão que fizemos uma lista. Ainda não posso dizer quem está próximo. A princípio estamos mirando o mercado interno mesmo, não podemos dar passos maiores que nossas pernas, dando tranquilidade e garantia que quem estiver com a gente em 2018 vai receber. Não dá para cravar nenhum nome ainda, mas na hora certa o apresentaremos.

O que acha do Wellington? Seria boa a permanência dele em 2018?
É um jogador muito inteligente, que tem boa leitura do que está acontecendo na partida. Ele tem um certo nível de experiência também, está em uma idade ótima (26 anos), maduro. Também teve passagens pela Seleção Brasileira na base, o que é importante, dá uma cancha muito grande. Ele consegue identificar situações no jogo em que a gente tem que tomar algumas decisões. Um jogador que tenha inteligência de jogo é fundamental para qualquer equipe, e uma das características que eu busco no atleta é essa. Então, eu sabia que era uma questão de tempo, de confiança, para que ele pudesse retomar toda essa sua capacidade. Fico feliz que ele recuperou o bom futebol e no momento certo a torcida reconheceu. Ele é um jogador importante e espero que possa continuar em 2018 com a gente.

A defesa sólida do Vasco em 2017 ajudará o time para 2018?
Não tenha dúvida. Quando você tem uma equipe que já se conhece, ali atrás é um setor sensível, se não funciona o adversário fica muito próximo da gente. Realmente tomamos muitos gols no primeiro turno, entendíamos que precisávamos dar uma estancada ali. Futebol é equilíbrio. Você buscando esse equilíbrio você acaba com a possibilidade de ficar mais próximo da vitória.

Qual o jogo chave do Vasco para desligar a luta contra a queda para ir na briga para a Libertadores?
A nossa sequência de 11 jogos sem perder. Salvo engano, sequência maior que essa só do campeão Corinthians. Na partida contra o Santos, na Vila Belmiro, o Santos jogando com a equipe completa, dando mais valor a nossa vitória, fizemos uma partida que dominamos, ali eu entendi e o vestiário pós-jogo se convenceram que poderíamos brigar por uma coisa grande. Realmente marcou essa partida. Foi muito bom mesmo.