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Adaptação, fuga de polêmicas e bons números: Lucas Lima já se vê em casa

Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

14/10/2018 08h00

Após quatro anos no Santos de uma intensa rivalidade, Lucas Lima conseguiu deixar aquele histórico para trás e dizer que se sente em casa nestes dez meses de Palmeiras. Jogador que mais atuou pelo time no Brasileirão (25 partidas em 28 possíveis), o meia conversou com o LANCE! antes do jogo deste domingo, às 16h, contra o Grêmio, e explicou como venceu a adaptação na Academia.

Costumeiramente um dos jogadores mais bem-humorados no dia a dia alviverde, o camisa 20 afastou o estilo polêmico que o marcou antes do Verdão. Mais "calmo" nas redes sociais, Lucas investiu durante a pausa da Copa do Mundo para recuperar o espaço que havia perdido com Roger Machado e estancar críticas que começaram a aparecer naquela época.

Desde a chegada de Felipão, o armador tem jogado pouco nos mata-matas, mas é um dos alicerces no Brasileiro. Nesta arrancada do líder Verdão de 13 jogos sem perder, Lucas atuou em 12 deles - só em dois saindo do banco - e fez quatro gols (três com Felipão).

Sua importância, contudo, vai além disso. Ele tem se destacado, inclusive, sem a bola e no Choque-Rei foi, de longe, que mais desarmou: seis vezes. Luan, Gustavo Gómez e Felipe Melo ficaram em segundo lugar, com três cada. Um desempenho que o faz ter dúvida em responder se o atual momento é até melhor do que o auge no Santos, que o levou à Seleção.

"Ah, cara, difícil falar, hein? O meu número de gols está melhor, mas, naquela época, eu estava dando muita assistência. Estou novamente reencontrando o futebol que me levou à Seleção, sendo dinâmico em campo, ajudando na marcação, criando, chegando à frente, fazendo gol, dando assistência. Espero voltar - afirmou o meia, que deve à tarde mais uma vez ser titular".

Nesta entrevista, Lucas Lima ainda conta sobre seu estilo agora mais contido fora de campo, de que forma a relação com Felipão o fez crescer e lembrou como foi caçar o Palmeiras também na ponta do Brasileiro, em 2016, quando acabou vice-campeão brasileiro pelo Santos.

Veja abaixo a entrevista exclusiva:

LANCE!: No Brasileiro de 2016, você perseguiu o Palmeiras pelo Santos e não conseguiu alcançar. O que aquele Palmeiras fez que o de 2018 pode fazer?

Lucas Lima: O que lembro daquela época é que o Palmeiras sempre ganhava os jogos. Lembro que a gente ganhava, e o Palmeiras ia lá e ganhava. Às vezes, jogava mal e ganhava. Chegou uma hora em que o Palmeiras decolou e não conseguimos chegar. O Palmeiras cresceu naquele campeonato na hora certa. E, agora, também. Conseguimos a liderança na hora certa. Mas agora é manter, o que é mais difícil ainda. Vamos tentar manter igual aquele Palmeiras fez.

Se você não joga tanto nas Copas, tem sido um dos diferenciais no Brasileiro, é quem mais jogou. Como analisa seu papel com Felipão?

Fico feliz pela importância que o professor Felipão me deu. Nos primeiros jogos da Libertadores com ele, mesmo sem eu ter atuado, ele me mostrou quanto eu era importante para o clube. Isso me fez trabalhar mais ainda. Estou tentando aí jogar na Libertadores, está um pouco difícil, mas a gente respeita a decisão do professor. É como falei: estou sempre inteiro, motivado. Isso ajuda a entrar em campo querendo mostrar que pode ajudar na Libertadores. Quando eu não jogo, me motivo para chegar no Brasileiro e, tendo a oportunidade, dar o meu melhor para tentar uma vaga na Libertadores, que todos querem jogar. É um grupo muito qualificado, eu sabia disso quando vim para cá. O grupo que o Palmeiras fez está dando certo. O caminho é esse.

Nessa tentativa de jogar na Libertadores, você tem um trunfo: fez gol na Bombonera. Vai lembrar o Felipão disso?

É, fiz gol na Bombonera. Pô, acho que o Felipão vai ver o nosso jogo passado lá e vai ver o gol do Lucas Lima. Espero que isso ajude, que conte uns pontos positivos para mim (risos). Brincadeira à parte, se eu jogar, farei o meu melhor para sairmos vitoriosos.

Você foi quem mais desarmou contra o São Paulo, já fez mais gols do que no ano passado. Acha que está rendendo mais exatamente porque tem jogado praticamente só o Brasileiro?

Não vejo dessa forma, não. A parada da Copa foi muito boa para mim, sempre falei isso. Até com o Roger aqui, foram três jogos e fui bem, fiz gol contra o Santos. Fisicamente, cresci muito. A parada me ajudou muito porque trabalhei muito forte, e venho trabalhando ainda. Quando você está bem fisicamente, as coisas acontecem naturalmente. É claro que, jogando uma vez por semana, você sempre joga descansado, isso ajuda, sim. Mas esse não é o principal (motivo). O principal é que meu foco na parada foi trabalhar bastante, praticamente não tive férias. E é mérito também da equipe, que mudou o jeito de jogar. Hoje, vejo que nosso time está encaixado, tanto na Libertadores quanto no Brasileiro. Quando o time se encaixa, o jogo se encaixa e o individual de qualquer um aparece.

Em seus grandes momentos no Santos, diziam que você era muito técnico, mas faltava entrar mais na área e ajudar mais sem a bola. Você melhorou nisso. Tinha na cabeça que precisava desta mudança para dar um salto?

É tudo adaptação. Eu me adaptar com a característica dos atacantes. Sempre joguei com atacante que se movimentava para receber o passe, hoje os nossas atacantes gostam mais de receber a bola no pé para partir para o individual. Tem esse processo. No primeiro semestre, tive um pouco de dificuldade, sim. Confesso. Mas agora estou acostumado com a maneira de jogar de cada um, sei o que cada um vai fazer. Fiquei quatro anos no Santos, com praticamente os mesmos jogadores. No movimento, você sabe o que farão. Hoje, posso dizer que conheço cada jogador aqui, as características de todos, e eles conhecem a minha. Isso conta a favor de mim hoje, da minha qualidade. Hoje sei também que posso chegar mais à área, não preciso muitas vezes voltar para armar. Esse entrosamento vem me ajudando muito.

Mas você tem desarmado mais também. É um espírito seu ou o Felipão pediu?

O Roger já vinha pedindo. E os meus jogos com o Roger não foram ruins, mas acabei subindo com o Felipão. Pela maneira de jogar, o Felipão sempre gosta de uma marcação mais forte. Esse é o nosso diferencial hoje. Todos marcam e jogam sempre de forma defensiva, um protegendo o outro. Fico feliz, e tenho me cobrado para melhorar não só o número de assistências e gols, mas de desarmes. Isso, individualmente, é bom para mim, e, se é bom para mim, também é para o time.

Para nós que acompanhamos o dia a dia na Academia, nem parece que você foi adversário do Palmeiras por tanto tempo. A torcida não tem mais esse clima e, entre os jogadores, você está sempre interagindo. Você ultrapassou essa barreira mais rápido do que imaginava?

Sem dúvida. Quando vim para cá, fiquei meio assim porque criou-se uma rivalidade muito grande nos últimos anos entre Palmeiras e Santos e eu participei de toda a zoeira, de tudo aquilo. Fiquei meio assim, de como seria recebido. Posso dizer que fui bem recebido desde o começo, por todos os jogadores. Vários me mandaram mensagem quando fechei com o Palmeiras. A amizade vai se criando com o tempo, a confiança. Hoje, individualmente, colho os frutos dessa amizade e desse entrosamento, de chegar ao clube e se sentir em casa mesmo, brincar com todos. O nosso ambiente é muito alegre. Méritos também do professor Felipão. Estamos colhendo os frutos, mas temos muito chão pela frente.

Você está tranquilo nas redes sociais, não reclamou quando foi para a reserva... O que falar desse momento sem zoeira nem tanta interação em rede social?

A gente aprende. Eu sabia que a concorrência aqui seria grande, e que a cobrança também seria grande. Maior do que a do Santos até, por tudo que apresentei e que envolveu minha vinda para cá. Mas sempre tive essa humildade de saber trabalhar. Quando fiquei no banco com o Roger, a primeira coisa que fiz foi trabalhar mais, no meu canto, quieto, para mim. Isso foi bom, porque evoluí. O grupo é isso: quando você está em campo, precisa dar conta do recado; quando está fora, torce pelos companheiros. Hoje, a gente vê que nosso ambiente é bom por isso, com um respeitando o outro. Quando isso acontece, as coisas acontecem naturalmente.

E essa tranquilidade nas redes sociais?

Estou tranquilo. Vejo bastante, às vezes fico fuçando, mas não estou polêmico, não. Vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente. Até o Alexandre (Mattos, diretor de futebol) pede: 'sem polêmica' (risos). Pode deixar, Alexandre. Tudo tranquilo.

Você gosta de pôquer, né?

Gosto. Deliro vendo o povo jogar. Ainda não sei jogar 100%, não sou bom ainda. Estou aprendendo. O Moisés que gosta, joga bem. O Neymar também gosta. Às vezes, brinco um pouco para ver se aprendo. Acho muito difícil, mas dá para aprender.

Quantas fichas você aposta que o Palmeiras ganha Libertadores e Brasileiro?

Vixi (risos). Ah, se eu tivesse várias fichas hoje, colocaria tudo. Jogo no Palmeiras, e estamos em uma sequência muito boa. É claro que não vou contar vantagem antes, tudo se resolve dentro de campo. Mas, com humildade, vamos trabalhar e buscar, tentando manter todas essas fichas conosco.

Como vocês estão trabalhando para essas dez rodadas finais, na liderança do Brasileiro e agora como o time a ser batido?

Estamos nas duas frentes (Brasileiro e Libertadores), sabendo que as duas são importantes. O principal que vem dando certo é a gente pensar jogo a jogo, como se fosse uma final. A nossa próxima final agora é o Grêmio, um concorrente direto. É claro que, quando você chega na liderança, todos vão tentar te derrubar de alguma forma, tirar ponto seu. Mas o professor tem nos alertado sobre o que é o ponto principal: não conseguimos nada ainda, não ganhamos nada, o caminho é longo, temos muito a conquistar. Isso vem dando certo. É continuar trabalhando, focados, com essa humildade. Tem chão, mas estamos no caminho certo.