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Ignorado por Tite, Dudu vai se isolar em resort durante a Copa América

Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

24/05/2019 10h48

Após quatro anos e meio, dois títulos brasileiros, um da Copa do Brasil, 253 jogos, artilharia do clube no século e jogador com mais gols, assistências e partidas no Allianz Parque, Dudu já não esconde que é um ícone no Palmeiras. E se comporta dessa forma. Nem estar fora da seleção brasileira na Copa América, período em que vai viajar com a família para um resort, ou um desentendimento com o ex-goleiro Marcos, ídolo do clube, abalam o atacante. Como ele mostra ao falar de qualquer tema em entrevista exclusiva ao Lance!.

Uma conversa de 15 minutos com o principal nome palmeirense na década expõe como ele não só está consciente de sua importância, mas procura se ligar ainda mais ao clube. O camisa 7 estabelece relações pessoais com Ademir da Guia, seu xará Dudu e Edu Bala, astros da Segunda Academia, time que marcou época e que acabou de ter seu recorde de invencibilidade no Brasileiro superado pela atual equipe comandada pelo técnico Luiz Felipe Scolari.

É com franqueza que Dudu, aos 27 anos, fala que não deve nem ver a Copa América na televisão, que não gostou mesmo das críticas de Marcos no Instagram após a eliminação no Campeonato Paulista (os dois selaram as pazes no sábado, trocando elogios na rede social) e, também, que já não precisa da faixa de capitão para se sentir um dos líderes do elenco. Até o ataque ao ônibus do Palmeiras, em 10 de abril, foi um assunto tratado com tranquilidade.

Confira abaixo a entrevista exclusiva de Dudu:

Em 253 jogos no Palmeiras, você tem 58 gols e 65 assistências. Média próxima da participação de um gol, balançando as redes ou dando assistência, a cada dois jogos. Você procura saber esses números? Eles têm alguma influência?
Procuro saber, sim. Sempre me passam essas estatísticas. É legal. E é importante participar e ajudar de alguma forma, seja com assistência ou gol. Sempre fico feliz por isso.

Você tem uma meta de gols e assistências para o ano?
Não. Sempre vou deixando rolar, fluir. Neste ano, ainda acho que estou fazendo poucos gols (três), mas tenho na minha cabeça que, na hora certa, vai acontecer. Os gols vão começar a sair na hora em que o time precisar.

Você gosta mais de dar assistência ou fazer gol?
Gol, né? Atacante tem de fazer gol. Mas fico feliz de estar ajudando o Palmeiras de qualquer forma, dando assistência, fazendo gol... Não sou um cara egoísta. Para mim, o mais importante é o clube vencer, o Palmeiras ganhar.

Em matéria recente no Esporte Espetacular, da TV Globo, com o Ademir da Guia, chamou atenção você adotar uma postura de ídolo, inclusive mostrando que conhece a Segunda Academia. Tem trabalhado em cima disso?
Estamos sempre conversando. O Serginho e o Pedrão (assessores de imprensa do jogador) sempre me passam a importância que tenho no clube, e fico feliz por estar conquistando essa importância dentro de um clube tão grande como o Palmeiras, entrando para a história do clube. Isso é importante. O jogador não pode só passar pelo clube, tem de deixar uma marca e um legado, igual ao Zé (Roberto, ex-jogador e hoje assessor de futebol do clube) fala. Estou conseguindo fazer isso no Palmeiras. É meu quinto ano, já conquistei alguns títulos, algumas marcas individuais. Fico feliz. Espero que este ano seja também de muita conquista.

Todo o sucesso do ano passado te fez perceber sua importância no Palmeiras? Você parece estar mais confortável nesta posição de ídolo.
Sim. Vai passando o tempo, tenho de ir amadurecendo e vendo que sou espelho, principalmente, para muitas crianças. Dentro da minha casa, tenho dois filhos, sou espelho para eles também. Quando acontece alguma coisa que não é o certo, eles sabem, já entendem. Procuro fazer sempre o melhor para não ter de chegar em casa e eles ficarem falando que fiz coisa errada, que aconteceu alguma coisa que eles não gostam.

Você já se sente mais do que um jogador? Participou do Amigo Secreto do Fantástico ao lado de celebridades do Brasil...
Procuro fazer coisas boas. Venho fazendo coisas boas no Palmeiras, e o ano passado foi muito especial para mim, por eu ter conquistado também vários prêmios individuais. Isso é importante para o jogador. Neste ano, vou procurar fazer igual ou melhor do que o ano passado para estar lá pegando esses prêmios de novo.

Chamou atenção também seu conhecimento sobre a Segunda Academia, time de mais de 40 anos atrás. Como você conheceu?
O Edu Bala, o Ademir e o Dudu estão sempre aqui. Sempre converso com eles, sentado no sofá. Por respeito, por serem pessoas mais velhas, sento ali e converso. Eles falam da época deles. Isso é legal.

Para você, que conhece a história da Segunda Academia, esse novo recorde de invencibilidade no Brasileiro deve ser ainda mais importante...
Sim. É importante bater essas metas. Mas sabemos que, uma hora, vamos perder. Esperamos prolongar isso por bastante tempo, continuar fazendo 30, 31, 32 jogos sem perder. O Campeonato Brasileiro é muito difícil e estamos vindo em uma batida boa. Esperamos alongar isso mais e conquistar o título brasileiro neste ano de novo.

Falando sobre ídolos do passado, já está tudo resolvido mesmo com o Marcos?
Foi bobeira, né? O Marcão fez um comentário no jogo contra o São Paulo e não gostamos. Não achamos legal por ser ele, um cara que conhece, que conviveu aqui no Palmeiras, jogou muito aqui. Mas isso já é passado. Deixamos para lá. Não tem mágoa de ninguém. Tenho certeza de que ele não tem de mim, e nem eu tenho dele.

Mas vocês chegaram a conversar?
Sim. Conversamos. Eu morava no mesmo prédio que ele, estávamos juntos direto. Foi mais um mal-entendido mesmo.

E você vai ver a Copa América?
Vou viajar para um resort com os meus filhos e a minha esposa. Se der, assisto a um jogo. Se não der, vejo os lances depois.

Não te afeta estar fora da seleção?
Nada, cara. Sou tranquilo em relação a isso. Muita gente acha que, para o jogador ser melhor, só se for para a seleção. Mas não tem nada disso. Tenho de fazer meu trabalho no Palmeiras, como sempre venho fazendo, dando o meu melhor, procurando vencer competições e marcando o meu nome no Palmeiras. Se vier Seleção, será bem-vinda. Se não vier, continuo tranquilo, com a cabeça boa aqui, fazendo o meu melhor.

Mas a seleção ainda é uma meta?
Todo jogador sonha, né? Não só em ir, mas ir e permanecer. Não adianta ser convocado uma vez e, depois, não ser mais. Temos de procurar estar bem preparados e, na hora em que aparecer a oportunidade, aproveitar.

E como você faz para ser quem mais joga no Palmeiras e não se machucar?
Trabalho. Todos os dias, chego uma hora e meia, duas horas antes para fazer meu trabalho na academia com o Magoo (Marco Aurélio Schiavo, preparador físico) e o (preparador físico Thiago) Maldonado. Venho fazendo isso muito bem. Graças a Deus, não tem muito esse negócio de machucar comigo. Então, tenho de continuar fazendo esse trabalho com eles, no dia a dia, para estarmos sempre dando o máximo dentro de campo.

Você sempre fez esse trabalho antes do treino?
Até a metade de 2016, eu não fazia. Depois, comecei a fazer e, graças a Deus, não tive mais nenhuma lesão.

Por que você começou a fazer esse trabalho?
O Maldonado e o Magoo sempre conversaram comigo, falaram para vir uma hora e meia antes para fazer o trabalho. Às vezes, tem treino à tarde e eu vinha de manhã para fazer esse trabalho. Isso é importante para o jogador, com a estrutura que temos, fazer as coisas sempre para o seu bem.

Você nunca deu tantas assistências (nove) em um primeiro semestre, que é quando costuma render menos. Você sente essa diferença de um semestre para outro?
Sim. Procuro sempre melhorar. Às vezes, o começo do ano não é muito legal para mim, não sei por que começo a jogar mais no segundo semestre. Mas acho que é porque a equipe também começa a se encaixar mais no segundo semestre. No primeiro, vêm alguns jogadores novos, se conhecendo ainda, e isso demora um pouco, para o jogador se enquadrar ao time, ao estilo de jogo do Palmeiras. Agora, já estão começando a fluir bem as coisas, estão dando certo. Esperamos continuar evoluindo o ano todo.

Você ainda se policia para não discutir com a arbitragem? Neste ano, você levou cartão só no seu 24º jogo no ano, contra o Santos. Nunca demorou tanto.
Temos sempre de estar melhorando. De uns tempos para cá, melhorei muito. Só tomei um cartão amarelo e por bobeira, também. O juiz falou que joguei a bola longe, e nem joguei, só soltei a bola lá, e ele me deu cartão. Mas até os juízes estão falando comigo, que mudei muito, não estou reclamando mais, dando parabéns porque só estou me preocupando em jogar bola. Isso é legal.

Imagino que, há alguns anos, você tinha de contar até dez para não reclamar com os árbitros. Ainda precisa fazer isso?
Agora, não. Estou tranquilo. Nem falo nada, nem reclamo. Às vezes, tem alguma confusãozinha no jogo e já vou para longe. Em 2015, fiz coisa que não foi legal e foi perigoso ficar até seis meses sem jogar por conta daquele negócio contra o Santos (empurrou o árbitro Guilherme Ceretta de Lima, na final do Campeonato Paulista, após ser expulso). E quem fica reclamando vai ficando marcado pelos juízes. Às vezes, não dão falta em nós por pirraça. Mas melhorei bastante nisso e vou continuar melhorando.

Estar sem a faixa de capitão deixa isso mais fácil, não?
É, ficou bom, Em 2016, o Cuca tinha me dado a faixa com uma missão que consegui: conduzir o time até o título brasileiro. Foi importante para mim, naquela época, como capitão. E agora está bom, tranquilo. Para ser um dos líderes, não precisa usar a faixa de capitão. Tenho consciência de que sou um dos líderes do time, um cara que representa bem o time dentro de campo. Fico feliz por ter esse respeito dos meus companheiros e de todos no clube.

Neste ano, o Palmeiras já teve outros protagonistas fora você, como Ricardo Goulart, Gustavo Scarpa, Zé Rafael... Quanto isso facilita seu trabalho?
O Palmeiras tem um grande elenco, um grande grupo. Tem vários jogadores de qualidade. Quando o grupo e o time estão bem, sempre vai sobressair um. Esperamos continuar ajudando os outros jogadores, como o Scarpa, que volte bem, e outros continuem jogando bem porque isso só vai ajudar o Palmeiras.

Incomoda ouvir que o Palmeiras já é campeão brasileiro e é superior aos adversários como é a Juventus na Itália?
Sabemos que o nosso time não é isso tudo. Temos um bom time, um bom elenco, e vamos brigar, sim, pelas competições. Ganhar já é outra coisa, mas vamos sempre chegar e brigar porque temos um elenco e uma comissão que trabalha muito e ajuda, o Alexandre (Mattos, diretor de futebol), que nos ajuda, o presidente... Todos aqui, desde o pessoal que corta a grama até o presidente, ajudam. Então, temos de dar o nosso melhor dentro de campo para chegar e, quem sabe, ganhar.

Mas não incomoda? Porque há torcedores incomodados...
Não incomoda, não. Porque sabemos que não é assim. Se acharmos que é assim, aí que vai incomodar. Não temos de ligar para para quem fala isso, não. Sabemos que tem outros elencos fortes, outros times fortes. Mesmo contra o Sampaio Corrêa, que está na Série C, é jogo difícil, porque não tem mais jogo fácil no Brasil. Aí já tem o Botafogo, em Brasília, com nove pontos. É difícil. Todos os jogos são difíceis, e temos de procurar sempre entrar em campo dando o nosso melhor para conquistar as vitórias.

O que explica a atuação na vitória por 4 a 0 sobre o Santos?
Sabíamos que eles teriam mais posse de bola, mas teríamos mais chances do que eles porque, às vezes, jogam muito abertos. E temos jogadores de qualidade para achar esse passe e para ir no um contra um. Foi o que aconteceu no jogo. Tivemos mais oportunidades, aproveitamos bem e poderíamos até ter feito mais gols, mas o Vanderlei fez algumas boas defesas. A equipe foi bem, mas não podemos nos acomodar com o jogo que fizemos, temos de procurar fazer o próximo melhor do que foi contra o Santos. É assim que os grandes times conquistam as vitórias e os campeonatos, não se acomodando, sempre procurando vencer os próximos jogos.

Mas muda o espírito golear um time badalado?
Dá um alívio, né? Mas somos tranquilos em relação a isso. Sabemos que temos de continuar, com os pés no chão e humildade, sabendo que foi só a quinta rodada ainda e tem mais 33 jogos para ir atrás do título.

O Palmeiras tem uma meta de pontos até a Copa América?
Esperamos estar em primeiro. Não sabemos com quantos pontos, mas esperamos estar e acabar em primeiro porque, no ano passado, foi muito mais difícil correr atrás dos outros times. Se terminarmos em primeiro, será um passo importante para ter a pausa e voltarmos mais fortes ainda.

Vocês ainda conversam sobre as pedras atiradas no ônibus antes da vitória sobre o Junior Barranquilla, em 10 de abril, no Allianz Parque?
Nada. Tranquilo isso aí. Todo começo de ano aqui é meio conturbado, mas é tranquilo. A torcida fica chateada, como todos ficaram chateados porque perdemos para o São Paulo, mas é continuar firme porque sabemos que temos o apoio deles, tanto que o estádio está sempre lotado. E eles sabem que contamos com eles até o final do ano para conquistarmos mais títulos.

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