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Ginastas usam 'freezer' a -140º para tratar lesões: "Angustiante"

Ginastas brasileiros deixam "freezer" a -140 graus na Alemanha após 2m30 "congelando" - Reprodução/Instagram
Ginastas brasileiros deixam 'freezer' a -140 graus na Alemanha após 2m30 'congelando' Imagem: Reprodução/Instagram

Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

20/09/2013 06h00

Se você costuma sentir frio nas noites de inverno no Brasil (em qualquer região), imagine o que é ficar sem camisa, de bermuda, e com um pano no rosto apenas, dentro de uma cabine a -140 graus Celsius.

Três ginastas brasileiros passaram exatamente por essa experiência na semana passada. Na cidade de Kienbaum (ALE), Petrix Barbosa, Sergio Sasaki e Péricles da Silva se ‘arriscaram’ em um ‘frigorífico’ a -140 graus Celsius, dentro de um Centro de Treinamento, usado para tratamento de pequenas dores e lesões no corpo.

O método é exatamente igual a uma aplicação de gelo em uma lesão, por exemplo. A diferença é que este tipo de tratamento atinge o corpo inteiro de uma só vez. Por conta da temperatura baixíssima, os atletas ficam somente dois minutos e meio, e passam por uma ‘aclimatação’ antes – 15 segundos a -14 graus Celsius e depois mais 15s a -60 graus Celsius.

“São dois minutos e meio que parecem 18 minutos. É angustiante. Parecia que o cérebro ia congelar, era incrível. A perna começou a endurecer, o quadril endureceu. Você não pode ficar parado, tem que ficar se mexendo. Mas realmente funciona para pequenas lesões e dores. Foi uma experiência muito boa”, afirmou Pétrix Barbosa.

Para se submeter ao tratamento, os ginastas tiveram de seguir algumas regras às quais os alemães já estão acostumados. Tiveram de entrar de tênis, não podem tocar em nada dentro da cabine e só podem repetir o procedimento após 48 horas. Além disso, deixaram tudo para os ‘locais’ prepararem.

“Eles estão acostumados, manusearam todo o aparelho e a gente só ficou olhando. É uma estrutura bem organizada, e eles têm uma planilha a seguir. Em um dia é balde de gelo, no outro sauna, no outro o frigorífico. É algo que realmente ajuda em pequenas lesões”, completou Pétrix.

"Eu sou o mais cagão, não gosto de sentir frio, de fazer nada diferente. Quando vi que ia entrar na banheira de gelo, falei que não ia de jeito nenhum. Mas resolvi entrar no frigorífico. Eu só sentia muita dor na canela. A primeira reação é se encolher todo. É muito, muito gelado, mas foi uma experiência bacana", declarou Sergio Sasaki.

Apesar de os ginastas ‘comemorarem’ o sucesso do tratamento, o fisiologista Turíbio Leite de Barros, que ficou 25 anos no São Paulo e também passou pela seleção brasileira, diz desconhecer qualquer tipo de estudo sobre a crioterapia a temperatura tão baixa.

“O princípio de fazer uma exposição da área muscular à baixa temperatura é o procedimento mais eficaz da prevenção e recuperação de lesões. O que se tem é o uso de banheira de gelo, toneis em que se mergulha os membros inferiores durante um tempo de 10 a 20 minutos. Mas confesso que temperatura tão baixa e tão pouco tempo nunca vi artigo científico que comprove este efeito. O princípio é correto, mas o método, em si, fogem aquilo que há na literatura científica”, explicou Turíbio.

A explicação dele para os ginastas terem saído ‘recuperados’ do cansaço e de pequenas dores da cabine é baseada no ‘princípio da analgesia’.

“É imprevisível o que pode ser positivo e o que pode ser negativo neste tratamento. É desconhecido o resultado. O gelo e a temperatura baixa provocam analgesia. Nem precisa ser tão baixa assim. O fato de entrarem com dor e saírem sem dá para entender. Mas é um procedimento que desconheço”, finalizou.  

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