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Diego Hypolito fica fora do Mundial. E isso pode levá-lo ao Rio-2016

RICARDO BUFOLIN / CBG
Imagem: RICARDO BUFOLIN / CBG

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

01/10/2014 06h00

O Mundial de Ginástica de Nanning, na China, começa nesta quinta-feira (2) com um personagem marcante a menos para o torcedor brasileiro. Diego Hypolito, bicampeão mundial, está bem fisicamente, viajou para a China, faz parte da seleção e não vai competir. É o reserva do time que vai defender o Brasil. Ruim? Para ele, pode ser bom. Tão bom que pode virar uma despedida olímpica no Rio-2016.

Aos 28 anos e já veterano, ele sempre foi um especialista em sua carreira. Isso quer dizer que ele é muito bom em aparelhos específicos: no solo, em que conquistou seus dois mundiais, e no salto, em que também já subiu ao pódio em eventos importantes. Nos demais exercícios, não se destaca.

Para voltar a competir nas Olimpíadas, tem dois caminhos. Ser medalhista no Mundial do ano que vem, no solo ou no salto, já que todos os atletas que subirem ao pódio em Glasgow-2015 têm a classificação olímpica para o Rio-2016 garantida. Ou torcer para que o Brasil conquiste uma vaga inédita da equipe nas Olimpíadas.

Nos dois casos, os técnicos brasileiros veem uma chance maior sem Diego competindo neste momento. A explicação é simples: o Mundial de 2014 é classificatório para o de 2015, mas não vale uma vaga direta no Rio-2016. Competir sem ele pode significar abrir mão de uma medalha individual, mas,pode acabar com uma vaga olímpica para um time completo. E, especificamente nesse Mundial, o Brasil pode fazer essa troca. Na corrida pelas vagas olímpicas, o evento vale, apenas, classificação (dos 24 melhores) para o Mundial de 2015. Esse, sim, é classificatório para as Olimpíadas. Além das vagas individuais, quem ficar entre os oito primeiros colocados na competição por equipes terá um time inteiro nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Quem ficar entre os 16, terá, ainda, uma repescagem, o Evento Teste do Rio-2016, que vale mais quatro vagas.

É um desses 12 lugares que o Brasil quer conquistar. E a escalação para o Mundial do ano que vem começa a ser testada já em 2014. Na terça-feira, a reportagem do UOL Esporte confirmou a equipe do Brasil para Nanning. Arthur Nory Mariano, Caio Souza e Sérgio Sasaki irão competir nos seis aparelhos (e, com isso, se qualificam para a disputa do Individual Geral). Francisco Barreto Júnior e Lucas Bittencourt farão cinco aparelhos cada. O único especialista é Arthur Zanetti, campeão olímpico e mundial nas argolas, mas que também vai competir no solo e no salto.

“Na China, só precisamos ficar entre os 24 primeiros para se classificar para o Mundial do ano que vem. Mas nosso objetivo é ficar entre os 12 primeiros, já pensando na vaga olímpica”, explicou Leonardo Finco, coordenador de ginástica masculina da Confederação Brasileira.

Lendo nas entrelinhas: o Brasil apostou na competição por equipes nesse Mundial. Se der certo e a colocação final ficar entre as 12 melhores, o país confirma que tem chance de classificação para os Jogos Olímpicos. Nesse caso, até o ano que vem será feita uma análise minuciosa entre chances de classificação individual e por equipe para, aí sim, tomar uma decisão que pode afetar o futuro de Diego.

Se der errado, essa análise não deve ser tão intensa e a saída será apostar nas vagas individuais. Nesse caso, o Brasil saberia que tem mais chances de classificar atletas individualmente do que na disputa por equipes e a escalação de mais especialistas torna-se o caminho natural.

O problema, nesse contexto, é como o próprio atleta encara isso. A primeira reação de Diego a sua posição de pouco destaque não foi nada boa. Ele reclamou nas redes sociais, dizendo que estavam tentando aposentá-lo. Só diminuiu o tom das críticas quando foi promovido de segundo para primeiro reserva, com a lesão de Pétrix Barbosa. Sugeriu, em entrevista ao SporTV, que não teria viajado como segundo suplente. Desde então, diminuiu as críticas, foi um dos destaques da aclimatação e, principalmente, do treinamento de pódio na China - está tão bem que a confirmação da escalação do time para o Mundial, recebida por e-mail, frisava que "Diego Hypolito, por enquanto, segue como reserva, mas ainda tem chances de integrar a equipe. A decisão será tomada pouco antes do início da competição".

O que o bicampeão mundial não entendeu foi que a decisão da comissão técnica de não usá-lo agora pode beneficiá-lo no futuro. A classificação de toda a equipe para as Olimpíadas aumentaria as chances de Diego disputar o Rio-2016. Como uma medalha por equipes ainda está muito longe do país, com a vaga na mão, a opção mais lógica seria escalar especialistas para os Jogos, com chances de pódio individuais.

Diego deve lembrar que foi hegemônico no ciclo olímpico de 2008, mas desde então perdeu o ar de imbatível. Sua última medalha foi o bronze de 2011, que valeu a classificação para os Jogos de Londres-2012. Em 2013, terminou em quinto no solo e em sexto no salto. Se repetisse essas duas colocações no Mundial do ano que vem, dependeria da classificação do time brasileiro para disputar os Jogos de 2016. Nesse caso, até mesmo um título Mundial na China valeria menos.