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Luta por nova lei e planos de trabalho: Laís Souza já pensa no futuro

Com ajuda de Marcus Vinícius Freire (d), do COB, Laís Souza (e) luta por nova lei - Pedro Ivo Almeida/UOL
Com ajuda de Marcus Vinícius Freire (d), do COB, Laís Souza (e) luta por nova lei Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL

Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/12/2014 06h00

Após quase 11 meses de tratamento nos Estados Unidos, Laís Souza está de volta ao Brasil. A voz ainda é baixa, os movimentos são limitadíssimos e a situação está longe de ser confortável. Mas nada que desanime a ex-ginasta de 26 anos que mais parece uma adolescente cheia de sonhos.

Sem se importar com os problemas decorrentes de um gravíssimo acidente em uma estação de esqui da cidade americana de Salt Lake City, Laís supera as barreiras da lesão na medula e se movimenta como pode para planejar o futuro.

Além da luta para voltar a andar, a ex-ginasta que treinava para defender a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Inverno no esqui aéreo busca vitórias em outros campos e já pensa até na carreira a seguir em breve.

"Alguns sonhos continuam, outros mudaram. Quero virar uma mulher de negócios, trabalhando com saúde. Quero trazer novidades para o Brasil. Vou vivendo um dia após o outros, sempre no presente, mas também pensando nisso", contou a ex-ginasta, com a experiência de quem passou dez meses experimentando o que há de melhor no mundo da recuperação com pesquisas de células tronco.

Antes disso, porém, a engajada Laís tem outros objetivos. O primeiro é lutar pela aprovação de uma projeto de lei (7.657/2014) que tramita no senado e visa garantir a ela mesma um benefício de aposentadoria por conta do acidente.

"É algo específico, só para a Laís mesmo. É um projeto da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que passou pelo mesmo problema dela há 25 anos e até hoje está na cadeira de rodas. Já fizemos três audiências públicas em Brasília e o assunto conseguiu caminhar. É um caso de invalidez especial, em função de ela nunca ter recolhido INSS e ter sofrido o acidente treinando, buscando uma classificação para os Jogos Olímpicos", explicou o superintendente-geral do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Marcus Vinícius Freire.

Outra briga de Laís e do COB, novamente com o apoio da deputada paulista, é para a aprovação de um projeto lei (77.97/2014) mais abrangente. A ideia é oferece uma espécie de seguro contra acidentes pessoais a atletas que representam o Brasil em Jogos Olímpicos ou Paralímpicos e sofram um tipo de deficiência ou lesão permanente.

"Hoje, no Brasil, só os jogadores de futebol são considerados profissionais. Só eles recolhem INSS e outros impostos. Isso é errado. Queremos resguardar outros atletas que vivam com recursos limitados. Para não se tornar uma bagunça e incluir, por exemplo, o cara que joga frescobol na praia, precisamos ver bem que grupo é esse que teria direito ao benefício. Estamos estudando isso. Nossa ideia é incluir pessoas que já estejam incluídos nos projetos 'Bolsa Atleta' e 'Bolsa Pódio'. Com isso, nem mexeríamos tanto no orçamento já existente da União. Estes atletas já possuem cadastros. Acho bem viável. Seguro é uma questão matemática. Em 100 anos, só tivemos esse caso da Laís. Esta lei não representaria prejuízo ao Governo. E ainda nos resguardaria", completou Marcus Vinícius, que conversa diretamente com a ex-ginasta e representa os interesses de Laís e do COB nas discussões com parlamentares.

Atualmente, o Comitê Olímpico Brasileiro paga um seguro particular que protege os atletas apenas em missões como os Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno, os Jogos Olímpicos da Juventude, os Jogos Pan-americanos e os Jogos Sul-americanos. A ideia é tornar o seguro uma lei, ampliando essa cobertura e reduzindo os gastos da entidade.

Caso o primeiro projeto de lei seja aprovado, Laís deixará de ter direito ao auxílio de R$ 5 mil mensais que recebe da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), oriundo dos recursos da Lei Agnelo/Piva repassados à entidade.

"São duas coisas opostas. Hoje ela recebe da CBDN como atleta com lesão, sem diagnóstico definitivo e em tratamento. Exatamente o que ela é. No momento que for provada a invalidez, vai no sentido oposto. São dois recursos públicos opostos. E brigamos justamente pela aposentadoria. É um recurso que não tem validade", explicou o superintendente do COB.

Toda movimentação já anima a sempre sorridente ex-ginasta, que não vê a hora de poder ajudar companheiros

"Fiquei muito feliz com isso tudo. Quando passamos por uma situação assim, é uma mão que se estende para você se sentir firme, motivada. Eu espero que dê certo essa regra e que possamos ter uma lei para os atletas. Para quem está treinando, que corre risco, isso faz toda a diferença, é importante para todo mundo", encerrou a engajada e sonhadora Laís Souza.