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"Dinamarquês-baiano", Morten Soubak vê Brasil pronto para medalha no Mundial de handebol

Morten Soubak, o "dinamarquês-baiano", revelou-se um torcedor do São Paulo - Gabriel Inamine / Photo&Grafia
Morten Soubak, o "dinamarquês-baiano", revelou-se um torcedor do São Paulo Imagem: Gabriel Inamine / Photo&Grafia

Luiz Paulo Montes

Em São Paulo

12/12/2011 06h00

Um dinamarquês-baiano. É assim que Morten Soubak, técnico da seleção feminina de handebol do Brasil, se define. Em sua segunda passagem pelo país, que já dura seis anos (dois no comando do time nacional), ele vive seu principal desafio neste mês: conduzir as brasileiras a um inédito pódio no Mundial, que está sendo disputado em São Paulo. A primeira parte da missão foi cumprida, e a seleção avançou às oitavas de final como líder do grupo C,  invicto. Nesta segunda, às 20h, duela contra a Costa do Marfim, valendo vaga nas quartas.

Neste domingo, Morten conversou durante 30 minutos com o UOL Esporte. Fluente no português e mostrando amplo conhecimento sobre o país, o dinamarquês afirmou, como "bom baiano", ser fã de Ivete Sangalo e Daniela Mercury, além de Marisa Monte. E vivendo no país do futebol, revelou-se um torcedor do São Paulo, mas que não está muito contente com a fase do clube. "Não vencemos nada nesses dois últimos anos, então prefiro ficar quieto", brincou. 

Futebol à parte, o foco do treinador é mesmo a partida contra as africanas, que deixaria o Brasil a apenas um passo do melhor resultado do país em Mundiais. Morten, no entanto, vê o time com possibilidade de ir até mais longe. "Temos muitas chances de medalha, é claro".

Confira os principais trechos do bate-papo.

UOL Esporte - Como é a sua vida no Brasil? Gosta daqui?

Morten Soubak -
Moro em São Paulo, estou bastante feliz, com a esposa e filho aqui. É uma grande cidade, uma das maiores e melhores do mundo. Mas também tem um trânsito que ninguém merece (risos). Se eu pudesse, ia morar amanhã na Bahia. Ficar perto da praia, e tem um tempo melhor. Aqui (em São Paulo) é muito frio e só chove, está louco.

UOL Esporte - Iria para a Bahia? Por que?

Morten Soubak - Eu digo que sou um baiano até. Na seleção, as meninas não me chamam pelo nome mais,  e sim de baiano. Adoro o povo brasileiro, e mais ainda dos baianos. Adoro o estado em si e também Salvador. A música então, aquele axé... Mas olha só, prefiro Salvador fora do Carnaval, viu? Desde 1993, quando vim para o Brasil pela primeira vez, até hoje, só teve dois anos em que não fui para a Bahia. E vou umas três ou quatro vezes por ano, mesmo quando estava na Dinamarca. 

BRASILEIRAS APELAM AO FACEBOOK PARA ATRAIR PÚBLICO EM SÃO PAULO

  • Gabriel Inamine / Photo&Grafia

    Antes do Mundial feminino de handebol em São Paulo começar, uma das grandes preocupações da organização era quanto à presença do público nos ginásios, já que o esporte não tem tanto apelo. Para atrair os torcedores, as jogadoras da seleção apelaram para suas páginas no Facebook. Lá, postam mensagens convidando o público a comparecer e apoiar o time.

UOL Esporte - E de futebol, você gosta? Deve saber que aqui é o esporte número um...

Morten Soubak - Eu adoro futebol! Torço para o São Paulo, é óbvio (risos). Mas não vencemos nada nesses dois últimos anos, então prefiro ficar quieto. Virei são-paulino de uma maneira engraçada até. Em 1995, quando vim trabalhar no Brasil pela primeira vez, o diretor Eduardo Macedo, que me trouxe para cá, perguntou se eu torcia para algum time. Eu não entendi  muito bem a pergunta, e disse "Brasil". Depois ele perguntou sobre clubes, e eu não conhecia muito bem nenhum, apenas ouvia falar. Como ele era são-paulino, disse que a partir daquele momento eu também seria, e eu passei a ser mesmo. E a coincidência é que os dinamarqueses aqui do Brasil, quase todos torcem para o São Paulo.

UOL Esporte - Mas você torce só pela televisão ou gosta de ir ao estádio?

Morten Soubak - Opa, claro que vou ao Morumbi. Ultimamente não consegui ir muito, mas quando dá, sempre combinamos de ir em um grupo de amigos. 

UOL Esporte - Falando sobre handebol: ainda vê muita diferença entre o Brasil e a Dinamarca?

Morten Soubak - Muita, e a cultural é uma delas. Lá, a cada 15, 20 quilômetros, você encontra um clube de handebol. O pai leva o filho de 3 anos para a escolinha. Aqui as pessoas começam a jogar com 14. E aqui ainda tem a insegurança financeira, não sabemos se um clube vai ou não montar time, se vai ter dinheiro ou não. A base é muito diferente. Nós, aqui no Brasil, infelizmente não temos uma boa base para as crianças no handebol.

UOL Esporte - Gostaria de ajudar a desenvolver essa base aqui?

Morten Soubak - É um sonho. Gostaria de ajudar para termos um negócio melhor para quem gosta desse esporte. Venho de um país pequeno, menor que o estado de São Paulo, mas que tem muitas divisões de handebol entre os adultos. Aqui temos uma só, com poucas equipes, pouca divulgação. Aqui ainda é um pouco amador, infelizmente. Lá, toda semana passa uns três ou quatro jogos ao vivo na televisão, para você ter ideia. Mas não há dúvidas que um bom resultado nesse Mundial irá ajudar nesse sentido.

UOL Esporte - O que mudou na seleção brasileira desde que você assumiu?

Morten Soubak - Quando entrei, o time era forte. Mas tivemos muitos problemas com lesões de jogadoras, ou atletas que não foram liberadas pelos seus times, ou que resolveram dar um tempo de seleção. Então tive que usar muitas que atuavam aqui na Liga Nacional. No ano passado, infelizmente eu só tive duas semanas para trabalhar com o nosso grupo completo. É muito pouco. Esse ano estamos perto da 10ª semana, que é o ideal, como fazem os europeus. 

UOL Esporte - O Brasil surpreendeu positivamente na primeira fase. Ganhou da França, da Romênia, terminou em primeiro do grupo e está invicto. Vê esse time pronto para conquistar uma medalha?

Morten Soubak - Estamos preparados, sim. Este é o momento. Antes do Mundial, falei para elas que tínhamos que mostrar que podemos estar na elite. O primeiro passo era classificar. Conseguimos, e muito bem. Agora é a Costa do Marfim. Vamos passo a passo. O equilíbrio do torneio permite que qualquer coisa possa acontecer. Se chegarmos à semifinal, temos tudo para ir adiante.