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Hoje melhor do mundo, brasileira do handebol viveu drama da morte do pai e falta de dinheiro

Alexandra em ação pela seleção brasileira de handebol nos Jogos Olímpicos de Londres - Lalo de Alemida/Folhapress
Alexandra em ação pela seleção brasileira de handebol nos Jogos Olímpicos de Londres Imagem: Lalo de Alemida/Folhapress

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

12/01/2013 06h00

Ter sido eleita a melhor jogadora do mundo de handebol em 2012 não foi tarefa nada fácil para a ponta brasileira Alexandra Nascimento. Desde os tempos de amadorismo até a grande chance que teve na Europa, a atleta superou dificuldades e agradece até hoje a mãe por segurar algumas de suas buchas.

A hoje melhor do planeta tentou se aventurar no vôlei, basquete, futebol e até no remo nos tempos em que seu pai fora jogador profissional. Suemar Jorge do Nascimento foi lateral com passagens pelo Santos e Internacional de Limeira.

Então com 13 anos, quando já se destacava no handebol,  a ponta teve que lidar com a morte do pai e viu a família ter assim dificuldades financeiras. Faltava dinheiro para pegar a condução que a levaria de sua casa até os treinamentos no clube.

Foi aí que a mãe, Nelza Maria do Nascimento, chamou a responsabilidade e não deixou que a filha desanimasse. Em algumas ocasiões chegou a se deparar com Alexandra desmotivada e triste por achar que naquele dia não conseguiria ir para o treinamento. Então Nelza entrava em ação. Juntava dinheiro pedindo a amigos e vizinhos próximos. E chacoalhava a futura melhor do mundo para que não desistisse.

“Minha mãe trabalhava, e muitas vezes eu não tinha dinheiro para ir ao treinamento. Ela ajudava e juntava o dinheiro fazendo pedidos. Jamais eu escutei da boca dela que [a carreira como jogadora] não daria certo. Nunca ela falou pra eu desistir. Quando eu passava por isso, ela falava ´a gente não tem dinheiro agora, mas vamos conseguir´. Eis que quando eu estava chorando ela aparecia e perguntava ´não está pronta para treinar não?´ e aparecia com o dinheiro”, contou a ponteira ao UOL Esporte.

“Tem coisas negativas [da vida pessoal] que me fizeram sofrer muito. Isso ajudou muito eu ser a pessoa que sou hoje”, continuou.

Em 2000, já com 19 anos, ela saiu de Vila Velha (ES), onde morava com a família, para tentar seguir no esporte em São Paulo. Logo no ano de sua chegada, Alexandra foi convocada para a seleção brasileira júnior e em 2001 disputou o Mundial da categoria com a equipe. Além disso, foi eleita a melhor ponta direita da Liga Nacional.

A oportunidade na seleção adulta chegou logo depois, em 2002, quando ela novamente foi premiada como melhor jogadora do campeonato nacional em sua posição.

Em 2004, foi convidada para jogar em seu atual clube, o Hypo Niederösterreich, da Áustria. E as dificuldades não pararam, lembra a atleta."Teve muito choro. Eu acordava chorando, pois não sabia a língua, não sabia falar nada de alemão. E tive que sair dos braços da minha mãe de vez”, se recorda.  Com o tempo, aprendeu a língua e tirou de letra a saudade. “Hoje eu paro, olho pra trás e dou risada de tudo isso. Mas consegui as coisas graças à ajuda da minha família.”

Foi a primeira vez que uma jogadora do Brasil é eleita pela federação como a melhor do mundo. Alexandra, que já participou de três Olimpíadas (Atenas, Pequim e Londres), foi eleita com 28% dos votos e receberá a honraria em um evento no dia 27 de janeiro, em Barcelona, na Espanha. A atleta também receberá um prêmio de 10 mil euros (cerca de R$ 27 mil).

Espera que seu prêmio ajude a desenvolver o esporte no país. “Já tivemos melhoras no Mundial, Olimpíadas; estamos no caminho certo. Espero melhoras e que possa estar clareando as pessoas que gostam de ajudar o esporte e possam olhar o handebol com mais carinho. Não é fácil crescer sozinho. Temos que começar lá na escola. Tenho fé que o prêmio possa ajudar a acontecer como foi com vôlei e basquete, que se popularizaram no país.”