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Base europeia dá certo, e Brasil tenta inédita final no Mundial de handebol

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

20/12/2013 06h00

A campanha do Brasil no Mundial de handebol feminino já é histórica. A equipe sul-americana bateu a Hungria na última quarta-feira, após duas prorrogações, e obteve classificação inédita para as semifinais da competição. Garantido entre os quatro melhores do mundo, o time agora tenta descobrir o limite de um projeto “austríaco”. A grande aposta da seleção para o duelo contra a Dinamarca, às 17h45 desta sexta-feira, na Sérvia, é o entrosamento.

Entre as atletas convocadas pelo Brasil para o Mundial de 2013, seis jogam no Hypo Nö (Áustria). A lista inclui Alexandra Nascimento, ponta que foi eleita pela federação internacional de handebol (IHF) a melhor do mundo no ano passado. O técnico da seleção, Morten Soubak, também trabalha na equipe europeia.

“Se você tomar por base esportes como futebol, voleibol e basquete, os melhores do Brasil jogam fora. No handebol, buscamos jogar lá fora para melhorar nosso nível. Está muito claro que estamos conquistando isso”, disse Manoel Oliveira, presidente da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol).

A seleção brasileira de handebol feminino está invicta neste ano. No Mundial, são sete vitórias em sete jogos – um deles, o último da primeira fase, justamente contra a Dinamarca.

“Quando a temporada acabar nós vamos avaliar para saber o quanto essa concentração da equipe no Hypo foi positiva e o quanto a nossa decisão cumpriu objetivos. O Mundial tem um poder enorme nessa avaliação, obviamente. É o principal item”, explicou Oliveira.

Na edição anterior do Mundial, jogando em casa, a seleção brasileira conquistou um quinto lugar. Para este ano, na Sérvia, a meta estabelecida pela CBHb é atingir pelo menos um lugar no pódio.

“O projeto da confederação tem ajudado bastante. Como o calendário do Brasil é totalmente diferente do que acontece na Europa, sempre foi difícil reunir as atletas. Era preciso tirar as jogadoras do Brasil quando elas tinham folga, mas as da Europa estavam jogando nesse período. O projeto ajudou bastante para o time estar junto e treinar junto”, explicou Alexandra.

A concentração de jogadoras e do técnico no Hypo Nö, segundo a principal referência técnica do time, também motivou um pequeno desgaste: “Nas seleções e nos clubes, assim como em uma família, você está amando todo mundo em um dia e não quer ver ninguém no outro. Mas todo mundo é bem profissional e se respeita bastante”.

Em contrapartida, o parceria da CBHb com o Hypo Nö acelerou a evolução da seleção feminina. Sobretudo porque criou um ambiente de convivência entre as atletas brasileiras.

“A gente procura comer juntas, conversar, falar sobre a vida no nosso mundinho no Brasil. Mas também não podemos esquecer as outras jogadoras, que não são brasileiras. Precisamos respeitar”, ponderou Alexandra.

Desde julho deste ano, quando fechou contrato com o Banco do Brasil, a CBHb passou a ter R$ 13,4 milhões em receitas anuais – além do aporte do banco, esse montante considera acordo com os Correios e receita oriunda da Lei Piva.

A estabilidade financeira é uma das bases do projeto da CBHb para o atual ciclo olímpico, cujo ápice será os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Essa condição é um dos motivos, por exemplo, para a entidade ter fechado com o Hypo Nö.

“A gente procurou dar para as meninas uma condição para treinar. Um dos fatores é que elas estão disputando competições muito fortes e estão atuando juntas. O masculino ainda tem alguma disputa aqui, mas a distância dos continentes é muito grande no feminino. Então, tomamos essa decisão por nível de competição”, adicionou Manoel Oliveira.

Para os próximos anos, uma das principais metas da CBHb é repatriar algumas jogadoras. A ideia da entidade é chegar a ter uma seleção permanente – atualmente, há 44 atletas, entre feminino e masculino, que recebem verbas da entidade.

“Nos últimos seis meses da preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, nosso projeto contempla o repatriamento de todo mundo. A ideia é cuidar de tudo e manejar coisas como lesões”, finalizou Manoel Oliveira. Na Áustria ou no Brasil, a aposta da seleção feminina é unir as atletas.