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Algoz de Pacquiao já lavou pratos e chegou ao 1º cinturão com US$ 11 na carteira

Bradley exibe o cinturão dos meio-médios após vitória polêmica sobre Pacquiao - Kevork Djansezian/Getty Images/AFP
Bradley exibe o cinturão dos meio-médios após vitória polêmica sobre Pacquiao Imagem: Kevork Djansezian/Getty Images/AFP

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

11/06/2012 12h00

O norte-americano Timothy Bradley fez o improvável e encerrou uma série invicta de sete anos de Manny Pacquiao na madrugada de domingo. De quebra, tomou o cinturão dos meio-médios da Organização Mundial, silenciando as 15 mil pessoas que foram ao hotel e cassino MGM Grand, em Las Vegas. Apesar de ter conquistado sua chance de enfrentar o filipino por sua carreira de cartel até hoje perfeito, o pugilista chegou ao seu maior desafio com uma pergunta no ar: “quem é Timothy Bradley?”.

A conquista do título foi contestada e as polêmicas que envolveram a decisão dividida por pontos acabaram escondendo o novo campeão, que tem um histórico um tanto típico entre os boxeadores. Bradley teve de superar dificuldades financeiras, chegou a lavar pratos e na época de sua primeira conquista - ele já era um campeão mundial antes de enfrentar Pacquiao, mas em outra categoria - tinha apenas US$ 11.

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Conhecido como “Desert Storm” (algo como Tempestade no Deserto), Timothy Ray Bradley, Jr. nasceu em 1983, em Cathedral City, e cresceu em Coachella Valley, ambas cidades da Califórnia. Antes de se iniciar no boxe, passou dificuldades trabalhando em restaurantes. Além de lavar pratos, disputava algumas gorjetas como garçom, o que o motivou a procurar o caminho do esporte.

“Foram tempos difíceis. Passei por uma longa jornada, mas sabia onde chegaria. Só não sabia que seria tão cedo. Eu me sentia como um rato preso em uma ratoeira, mas hoje estou no controle da minha vida”, afirmou o lutador de 28 anos, ao Boston Herald, antes de sua conquista.

Mesmo quando começou a subir na carreira, o status de zebra e aqueles perrengues com o dinheiro o perseguiram. O lutador estreou como profissional em casa, em 2004, e a partir daí não perdeu mais. Bradley se tornou desafiante ao cinturão da categoria quando o rival José Luis Castillo falhou em bater o peso na eliminatória para enfrentar Junior Witter.

O problema para esta luta estava fora dos ringues ou da academia. O norte-americano viajou para o combate, na Inglaterra, com apenas US$ 11. “Eu estava quebrado”, relembrou ao Yahoo Sports o lutador, sobre a pressão de conquistar aquele cinturão. Ele havia gastado tudo o que tinha ao lado de sua esposa e dois filhos dela, que adotou, para dar ênfase à carreira no boxe e se tratar após lesões.

“Eu tinha de vencer, não havia chances de perder, porque demos tudo pelo meu sonho e ficamos sem dinheiro. Eu pensava em todos os modos de arranjar dinheiro para as crianças. Consigo entender como a vida no crime começa a parecer tão tentadora para algumas pessoas”, disse ele.

Azarão de 6 para 1 na casa de apostas (seis dólares pagos a cada um jogado), Bradley venceu por pontos e faturou seu primeiro título mundial, além de um prêmio de US$ 40 mil. Por coincidência, o triunfo veio em uma decisão dividida por pontos, como aconteceu diante de Pacquiao.

  • EFE

    Timothy Bradley se emociona ao exibir o seu primeiro cinturão, conquistado em 2008, na Inglaterra

Sua única luta sem vitória foi contra Nate Campbell, combate sem resultado devido a uma cabeçada. Com sucessivas defesas de título, Bradley passou a ser cotado como um possível rival de Pacquiao, mas era aguardado para desafiar o astro mais tarde. Sem o acerto do filipino como Mayweather, foi colocado em uma preliminar de Pacquiao em novembro, quando venceu Joel Casamayor e conquistou o posto de desafiante, subindo agora aos meio-médios para desbancar.

Com as luvas, Bradley não é conhecido por atuações arrasadoras, o que fica claro com seu cartel de apenas 12 nocautes. Apesar disso, tem uma defesa forte, é inteligente para mudar sua estratégia no meio da luta e é conhecido por sua velocidade e fôlego, algo que o filipino Pacquiao sentiu na pele nos últimos rounds.

Depois de todo o sofrimento, Bradley deixou o ringue com mais um cinturão e uma bolsa de US$ 5 milhões, a maior de sua vida. A atuação contra Pacquiao não convenceu, mas a dupla já tem um encontro marcado para a revanche no dia 10 de novembro, quando o novo campeão, agora já conhecido pelo público, terá a chance de provar que o triunfo deste fim de semana não foi obra do acaso ou um erro dos juízes.