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Ele perdeu 130 kg por causa do jiu-jítsu. E agora sonha com o Mundial

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

21/05/2014 06h00

“Tirei um ‘eu’ inteiro de dentro de mim”. É assim que Felipe Leite se sente, depois de uma saga de quatro anos para deixar de ser um jovem obeso que chegou a bater 250 kg na balança. Sedentário, desregrado e com uma alimentação cheia de guloseimas pouco saudáveis, ele encontrou um novo caminho por meio das lutas. Virou praticante de jiu-jítsu  e judô e se lançou em um desafio. Ele não só atingiu o resultado de perder 100 kg, como foi além. Hoje está com 120 kg.

“Isso te incomoda... Você se sente meio incapaz, no fundo do poço. Foram meus professores que me resgataram desse lugar, em que eu não conseguia fazer nada, era preguiçoso”, conta o jovem de 24 anos, de Araruama, no Rio de Janeiro.

Felipe sentia olhares tortos por onde passava, não andava de ônibus por sequer passar pela roleta e, quando precisava muito, se sentia incomodado de ocupar o espaço de quase duas pessoas para se sentar. Em seu caminho habitual ficava a academia DDR. Ao observar o garoto passar por ali, o instrutor de jiu-jítsu Fabio Nogueira o convidou para treinar.

“Ele me viu e falou: ‘pô, tenho que ajudar esse cara’. Ele nem me conhecia, mas me chamou e comecei a treinar. Nunca levei a sério o negócio de competir, até que fui uma primeira vez, ainda estava com mais de 200 kg. E gostei da adrenalina”, explica Felipe, que ganhou mais um encorajador para seguir na batalha contra a balança.

“Aprendi muito como pessoa, como atleta, entendi a importância da alimentação combinada com o treino. E eu não sabia me defender, apesar do tamanho era bobão. Aprendi isso também”, completou ele, faixa azul de judô.

Em sua fase mais gorda, Felipe tinha dificuldades para respirar. Vestia roupas GGGGG (sim, cinco vezes a letra G). Suas calças eram tamanho 70 e hoje foram trocadas pelo número 54. Pelo menos até que perca os 30 quilos que quer para fechar sua trajetória e estabilizar com 100 kg. “Hoje dá para ver meu rosto, eu parecia uma bolacha Traquinas”, ri ele, que espantou apelidos maldosos – “chupeta de baleia era direto...” – e frequentemente vê as pessoas estranharem sua transformação.

O processo de perda

Felipe Leite conta que o começo de sua jornada para perder peso foi na raça. 60 kg dos 120 kg que perdeu até hoje foram sem ajuda externa: apenas reeducação alimentar e exercícios – ele treina todos os dias, exceto nos fins de semana. Depois disso, para ajudar no processo, ele optou por ter um balão intragástrico, que é colocado em um procedimento considerado simples.

O balão, colocado em janeiro deste ano, diminui a capacidade do estômago pela metade. Com isso, há perda de apetite e a sensação de saciedade, apesar de continuar sendo fundamental a manutenção de uma dieta balanceada. Felipe comemora ter decidido mudar de vida novo, antes que doenças graves pudessem prejudicar sua saúde.

“Magro eu nunca fui, mas conforme eu entrei na faculdade de pedagogia, com 18 anos, eu comecei a ir engordando e não fazia atividade nenhuma. Era só hamburger, pizza... Eu saía, bebia. Hoje não bebo mais, tenho cabeça de atleta, vida regrada, treinos. Antigamente era desregrado”, conta o lutador.

A formação em pedagogia e o trabalho em um projeto social que resgata crianças por meio do esporte ajudaram a dar o estalo que seu professor de jiu-jítsu teve lá no primeiro encontro entre eles.  Ao lado de professores como Samara Garcia, sua instrutora de judô, e Marcos Paulo Costa, de jiu-jítsu, hoje ele treina para competir e sonha ir disputar competições como o Mundial e os grandes eventos em Abu Dhabi.

A cirurgia desacelerou seu ritmo e só em julho ele deve voltar a treinar integralmente, em busca dos objetivos. Até lá, quer ter se aproximado ainda mais dos 100 kg.