Topo

Reencontro no Orkut ajudou brasileira a fazer história na luta olímpica

Divulgação/Fila
Imagem: Divulgação/Fila

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

19/09/2014 06h00

Um romance que começou pelo Orkut fez o Brasil ter sua primeira medalhista em um Campeonato Mundial de Luta Olímpica. Aline Silva e Flávio Ramos, seu noivo e  atual sparring, se reencontraram pela rede social há quatro anos e meio e deram início ao namoro que a levou à prata na competição disputada em Tashkent (Uzbequistão) na semana passada. Na final da categoria até 75kg, a brasileira foi superada pela americana Adeline Gray.

Aline e Flávio se conheceram há 13 anos, quando ambos praticavam judô no Centro Olímpico do Ibirapuera, em São Paulo. Jovens à época,  não tiveram nada sério e cada um seguiu por um caminho diferente. Até que a luta olímpica os uniu de novo.

"Eu achei ele no Orkut, voltamos a conversar e estamos juntos até hoje. Durante este tempo, ele me apoiou muito, deu força nos momentos de dificuldade e largou tudo para ser meu sparring. Por causa do meu peso, sempre encontrei dificuldades para encontrar um parceiro de treino. No Brasil, não tem tantas meninas assim fortes. Hoje, ele se dedica apenas a isso. Topou até deixar o trabalho que tinha no Outback (rede de restaurantes). Depois que ganhei a medalha, fiz questão de deixar uma declaração de amor para ele no Facebook”, contou Aline, de 27 anos, ao UOL Esporte.

Aline Silva e Flávio Ramos  - Arquivo Pessoal  - Arquivo Pessoal
Aline Silva e Flávio Ramos se conheceram pela internet em rede social
Imagem: Arquivo Pessoal

“Esta foi uma maneira que encontrei para ficar mais perto dela. São muitas as viagens que ela tem de fazer para competir, então ficávamos distantes. Não me arrependo de nada. Agora me dedico exclusivamente a ela e estou terminando minha faculdade de Educação Física, pois pretendo dar aulas”, disse Flávio.

No tempo em que estão juntos, Aline também foi medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Gudalajara (MEX), em 2011, e campeã dos Jogos Sul-Americanos de Santiago, realizados em março deste ano.

Por conta das competições e treinamentos, os dois ainda não têm data definida para se casarem. Pretendem sacramentar a união no dia 6 de dezembro. Isso se conseguirem encontrar um cartório disponível.

Porém, antes de pensar em casamento, Aline terá outro importante desafio em sua jornada rumo aos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. A partir do dia 1º de outubro, disputará nos Estados Unidos o Mundial Militar de Luta Livre.  A atleta é terceiro sargento da Marinha e treina com os demais membros da Seleção de Luta no Cefan (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes), no Rio de Janeiro.

Aline Silva - Divulgação/CBLA - Divulgação/CBLA
Aline exibe a medalha conquistada em Tashkent
Imagem: Divulgação/CBLA

“Não estou pensando em medalha em 2016, quero dar um passo de cada vez na minha carreira”, afirmou Aline, que também é atleta do Sesi/Osasco e recebe verba federal por meio do programa Bolsa Atleta.

A verba recebida da Marinha, do Sesi e do Governo Federal não é utilizada por Aline apenas para treinamentos e viagens. Boa parte do dinheiro vai para sua mãe.

“Fui criada por uma mãe solteira. Passamos juntas por muitas coisas, muitas dificuldades”, contou a lutadora.

Hoje, Aline diz que sua mãe é orgulhosa de seus feitos. Porém em sua infância, não recebia muito apoio.

“Comecei a lutar judô no centro Olímpico quando tinha 13 anos, mas minha mãe não gostava muito. Ela achava que era coisa de menino, queria que fizesse aulas de jazz. Mas ela viu que o esporte estava me trazendo muitas coisas positivas. Quando tinha 16 anos, meu técnico me disse que eu tinha o perfil para fazer luta olímpica. Resolvi tentar e gostei. Por causa da luta, ganhei uma bolsa de estudos para cursar faculdade na Unisantana, em São Paulo”, contou.

Aline não só iniciou os estudos universitários como conseguiu concluí-los. Ela é formada em estética, mas por falta de tempo não consegue exercer a sua profissão. Entre 2011 e 2012, quando esteve fora da Seleção Brasileira, administrou um salão de beleza dentro de uma academia. Porém, teve de abrir mão da empreitada como empresária para poder sonhar com uma medalha em 2016.

“Sempre fui muito humilde e não tinha como ir a um salão de beleza. Porém, sou muito vaidosa. Em casa, fazia tratamento facial, unha e depilação. Resolvi estudar Estética e abri este salão. Mas faltava mão de obra para me ajudar e queria me dedicar 100% à luta. Tanto que hoje nem penso mais em ter um outro negócio. Quero viver do esporte, não me vejo fora dele. Para ter um salão, teria de começar do zero de novo”, disse Aline, que em 2008 foi campeã mundial de jiu-jitsu na faixa azul.

Sobre sua atual categoria (75kg), acabou beneficiada por uma alteração feita recentemente pela Federação Internacional de Lutas Associadas (Fila). Antigamente, competia na extinta categoria até 72kg e tinha dificuldades para perder peso.

“Entre 2010 e 2011 tive doença hipertireoidismo, comecei a ganhar peso. Ficou mais difícil para mim manter o peso”, contou.