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Jurado bad boy do MasterChef usa muay thai para ficar bonzinho

Camila Mamede

Do UOL, em São Paulo

05/11/2014 06h00

O ambiente de uma cozinha profissional exige muita concentração e resistência. O chef de cozinha Henrique Fogaça, dono do restaurante Sal e jurado do reality show MasterChef, sabe bem disso. Há quase vinte anos, ele tem um esporte como aliado em sua rotina: o muay thai. A arte marcial tailandesa o ajuda a relaxar e também a manter o condicionamento físico desde 1996.

“O muay thai é um esporte que acrescentou muito em uma época da minha vida”, afirma Fogaça ao UOL Esporte. “Eu estava um pouco perdido profissionalmente e o muay thai me deu um equilíbrio. Eu trabalhava em banco, e logo na sequência eu comecei a trabalhar com gastronomia”, lembra.

Desde setembro, Fogaça tem feito sucesso no reality show MasterChef, que vai ao ar na Band nas noites de terça-feira, e tem garantido boa audiência à emissora, além de muita repercussão nas redes sociais. O programa é a versão brasileira de um reality show de culinária que já foi exibido em 145 países, e visa transformar um cozinheiro amador em um chef profissional. Para ensinar e julgar os pratos, o MasterChef conta com três jurados: Fogaça, Erick Jacquin e Paola Carosella.

Rapidamente, Fogaça passou a ser considerado pelo público como o jurado bad boy: é exigente, tem postura séria, não se importa em falar palavrões na hora de cobrar os candidatos e tem tantas tatuagens que nem o terno esconde. Algumas frases do chef no programa ajudam nessa descrição: “Se vira, Estéfano, c*****!”; “Mohamad, vamo [sic] calar um pouquinho a boca?”; “Você tá aí competindo, aí você vem e traz uma p**** dessa aqui pra gente.”

Se os candidatos soubessem que, além de tudo isso, Fogaça ainda luta muay thai, teriam mais medo ainda do jurado. “Eu sempre gostei de fazer esporte, e quando mudei para São Paulo queria fazer uma luta. Aí pesquisei, vi uma academia de kung fu, mas o muay thai me atraiu mais porque é mais completo, você usa os oito membros do corpo”, explica.

A prática do esporte ajuda Fogaça tanto a ter condicionamento físico e resistência em sua rotina de trabalho. “A cozinha exige muito, você fica muito tempo em pé, em um lugar quente. Você se queima, se corta”. Além disso, o muay thai exige tanto de seu corpo que acaba o acalmando: “Eu sou um cara muito hiperativo, muito ligado no 220, e quando eu treino aqui eu fico mais tranquilo”.

O objetivo de Fogaça com o muay thai não é competir, mas sim praticar a arte marcial. Seu treinador, Caio Franco, explica que seu treino inclui também exercícios funcionais. “O Henrique é bom, é bem forte. Já treina há muitos anos, se pegar um aí machuca”, garante Franco, que também revela um lado certinho de Fogaça, que treina cedo, pela manhã. “Ele é um cara bem regrado. Se você olhar a imagem dele, vai achar que é um doidão, mas no fundo é um cara de coração bom, acorda cedo, trabalha pra caramba. Da galera que treina, acho que o mais responsável é ele”, afirma.

Bad boy?

Fogaça não concorda com a imagem de jurado vilão e garante que é pacífico. “Não, bad boy é o c*****, eu sou tranquilo, sou do jeito que eu sou. Sou correto, justo, mas não vem tirar”, avisa. “Eu respeito as pessoas, sou bonzinho, sou um cara emotivo, tenho coração”. Uma de suas dezenas de tatuagens, inclusive, é de um coração com o nome da filha Olívia.

Quando se conhece um pouco da história de vida de Fogaça, fica claro que ele é mesmo pacífico, e não o jurado exigente e bravo do programa. Periodicamente, dá aulas de culinária para crianças com síndrome de down e faz parte de um motoclube que realiza ações sociais. “Eu tenho uma filha especial também. Acho importante essa inclusão social porque, através da gastronomia, a gente tem um leque grande pra trabalhar. Em vários setores da sociedade, a gente pode ajudar”, afirma.

Além do coração com o nome de Olívia, Fogaça tem mais uma tatuagem em sua homenagem. Alguns meses antes do nascimento da filha, ele pensava em tatuar um diabo no braço. “Depois que ela nasceu, depois de uns 20 dias, eu vi que ela era diferente, ela ficou na UTI… Ninguém conseguiu dar uma posição do que ela tinha e eu vi que ela era uma criança especial”. No dia da tatuagem, Fogaça mudou de ideia. “Falei para o tatuador que queria fazer alguma coisa para ela. Ele pegou um símbolo de uma deusa oriental que cuida de crianças”.

Mais tarde, veio o coração para Olívia, e o nome João, que fecha sua nuca, em homenagem ao segundo filho. “Tem várias fases da minha vida no corpo”, explica. Outra tatuagem é de seu primeiro fogão no Sal, quando o lugar ainda nem era restaurante. O começo de Fogaça na gastronomia, a princípio, não foi planejado. Nascido em Piracicaba, mudou-se para São Paulo por volta dos 20 anos e trabalhava em um banco, morando sozinho.

“Eu tinha que me alimentar todo dia, trabalhava no banco das 17h às 11h da noite, depois trabalhei das 19h à 1h da manhã. Eu pegava comida congelada, e chegou uma hora que fiquei com vontade de comer uma coisa melhor”, relembra. Fogaça passou a cozinhar comidas simples, arroz, feijão e bife, e pedia receitas para a mãe e a avó. Com o tempo, começou a vender refeições para colegas no banco e seu interesse pela gastronomia cresceu.

Na mesma época, o cunhado comprou uma kombi para vender lanches e pediu para Fogaça lhe fornecer hambúrgueres. “Pedi as contas no banco e comecei a fabricar hambúrguer dentro de casa, falei ‘Meu trabalho vai ser mexer com comida’”. Na fase inicial, Fogaça vendia seus alimentos pessoalmente, especialmente depois de o negócio do cunhado ter falido. “Aí sangue no olho, não tinha o que fazer, tinha que correr atrás. Eu saía batendo em porta para vender hambúrguer, sanduiche, bolo, mousse… Punha minha mochilinha, ia nas lojas de conveniência, em lan houses e oferecia”, revela.

Com o tempo, Fogaça conseguiu abrir o Sal Gastronomia, inicialmente um café com lanches. “Ele começou pequeninho, comprei um fogão usado, o que tenho tatuado. Tinha duas mesas e uma mesa comunitária. Durou assim uns anos e depois ampliei para como ele é até hoje”, conta. O restaurante, que vai completar dez anos e passou a ter uma frequência muito maior após o sucesso do programa, tem lugar para 35 pessoas. “Eu acho que pra gente manter o padrão, a essência do trabalho tem que ser pequeno. Já tive a oportunidade de ampliar, mas o meu barato está na cozinha, em estar lá no fogão”, explica. “Prefiro manter com bastante personalidade e pequeno, e ter um padrão bom de comida e de atendimento”.

Além do Sal Gastronomia, Fogaça mantém outros dois bares, o Admiral's Place e o Cão Véio, além de ser um dos criadores do evento de comida de rua O Mercado, e ser vocalista da banda Oitão, de hardcore. Para cuidar de tantos negócios e com tanta dedicação, é compreensível a importância que o muay thai tem em sua vida. “É um esporte que eu levo no coração porque, além de ser completo, me atende a todo esse lado que eu tenho de correria, do stress. Ele me deixa mais calmo… fico bem. O muay thai salva vidas”, conclui.