• ENTRE
Topo

Antes do 'nocaute do ano', lutador treinava na floresta e chutava bananeira

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/12/2014 06h00

Na última semana, a cena de um nocaute digno de cinema - ou de videogame - viralizou e foi vista por milhões de pessoas internet afora. As imagens de uma luta de muay thai mostraram um baixinho derrotando um rival bem mais alto com um chute giratório avassalador. O autor do golpe foi Jonathan Tuhu, que, desde que o vídeo passou a ser compartilhado, não para de receber mensagens o parabenizando nas redes sociais. Uma nova realidade para o simples lutador nascido na Papua Nova Guiné, que forjou seus movimentos no meio de uma floresta, chutando bananeiras.

Ao explicar o nocaute, Tuhu aparenta estar falando de uma situação comum e não faz escarcéu. “É algo natural para mim”, garante. “Esse chute pode ser chamado de spiral kick ou spinning head kick [algo como chute em espiral ou chute na cabeça giratório] e o treinei muitas vezes. Ninguém me ensinou a fazer, é algo natural soltar esse tipo de chute.”

Continua após publicidade

Na hora da luta, realizada em Newcastle (Austrália) o papua - é assim que se chama quem nasce em Papua Nova Guiné-  afirma que se aproveitou do desgaste do seu rival e, mesmo com a grande diferença de altura entre eles, conseguiu executar o golpe com perfeição.

“Eu vi meu oponente ficar sem ar e ele deixou sua guarda baixar. Naquele momento, eu joguei o chute rodado em sua cabeça e deu certo”, narra ele.

Tuhu atualmente mora na Austrália e luta muay thai e kickboxing, mas já está de olho nos grandes eventos. O sonho é começar uma carreira no MMA e evoluir a ponto de conseguir um contrato com o UFC. Seria entrar num mundo bem diferente do que ele viveu na infância e adolescência.

A Papua Nova Guiné tem cerca de 6 milhões de habitantes. Parte deles está espalhado em pequenas ilhas pela Oceania. Jonathan nasceu lá e cresceu em uma família pobre. O pai os deixou quando ele era bem novo, casou-se com outra mulher e morreu em 1999. Foi seu irmão, um praticante de taekwondo, que o levou às lutas. O garoto assistia aos treinos e aos nove anos começou a acompanhar seus passos, no taekwondo e muay thai.

Jonathan Tuhu, lutador de Papua Nova Guiné ficou conhecido por um nocaute cinematográfico em luta de muay thai - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Jonathan Tuhu cresceu em Papua Nova Guiné, junto a uma família pobre. Depois de improvisar treinos e ir até para a selva praticar seus movimentos, ficou conhecido por um nocaute cinematográfico em luta de muay thai na Austrália
Imagem: Arquivo Pessoal

O detalhe é que não havia academias ou centros de treinamento de fato. As condições eram improvisadas. E, para ter certa privacidade, já que não gostava de ser observado, ele se enfurnava em um local inabitado, silencioso, privado. “Eu costumava ir para um lugar numa floresta, um lugar ‘secreto’, onde não há ninguém, e desenvolvia minhas artes marciais lá. Comecei a socar e chutar bananeiras para evoluir, e também assistia a muitos filmes do Bruce Lee e do Jean-Claude Van Damme. Aprendi muito com eles”, conta o papua.

Jonathan se mudou para uma cidade em 2004 e passou a ampliar seu repertório, treinando kickboxing e caratê. Adotado por uma família, teve um porto seguro para poder treinar e lutar, e iniciou sua jornada profissional, viajando e disputando torneios pelo mundo. Foi só o nocaute aplicado neste mês, que enfim os olhos se voltaram a ele.

“Cara, ninguém me deu suporte do começo até agora. Eu batalhei e derramei grandes lágrimas depois de dez anos nas artes marciais e só agora posso ver o que é comer e dormir para treinar. É uma honra”, comemora o lutador, que promete voos mais altos. “Eu amo MMA. Ainda vou lutar MMA e chegar ao UFC!”.

Jonathan Tuhu, lutador de Papua Nova Guiné ficou conhecido por um nocaute cinematográfico em luta de muay thai - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Seja o primeiro a comentar

Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.


publicidade