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Kim Winslow foi a primeira mulher a arbitrar um combate do UFC, em 2009

Kim Winslow foi a primeira mulher a arbitrar um combate do UFC, em 2009

12/03/2012 - 06h00

Primeira árbitra do UFC diz que pais abusivos a levaram a lutar e vê MMA machista

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

Apesar das ring girls e da crescente torcida feminina, o mundo do MMA ainda é predominantemente masculino. Mas uma árbitra norte-americana tenta quebrar este estigma. Kim Winslow foi a primeira mulher a “apitar” um combate do UFC, em 2009. E, mesmo após três anos, ela ainda tem de enfrentar os olhares tortos quando sobe nos ringues. O machismo existe, admite ela, ainda que isto seja pouco para brecá-la, após superar a violência dos pais e o bullying durante a infância.

Amante das lutas, Winslow já praticou taekwondo, muay-thai, boxe, jiu-jítsu e até capoeira. Mas, no começo, foi apenas uma válvula de escape para os problemas em casa e na escola. “Eu tive pais muito agressivos e comecei a aprender artes marciais porque estava cansada de ter medo e queria aprender a me defender. Na escola, também sofri com o bullying, então passei a revidar, ao menos para tentar não me ver mais nesta situação”, revelou a norte-americana, em entrevista ao UOL Esporte.

O MMA virou uma paixão logo com o primeiro UFC, em 1993, quando viu Royce Gracie derrotar rivais muito maiores só com o seu jiu-jítsu. Mas a vida acabou a levando a uma profissão bem distante do esporte, como controladora de tráfego aéreo. A arbitragem surgiu anos depois, no boxe, mas ainda não era o que Winslow queria. A norte-americana tinha um amigo em comum com o lutador do UFC Ken Shamrock, que acabou a levando para as artes marciais mistas.

Curiosamente, para a árbitra o seu passado como controladora de tráfego aéreo foi uma vantagem. A movimentação no ringue foi aprendida “apitando” treinos na academia, mas o rigor, a disciplina e a concentração que são necessários para a função ela aprendeu no outro trabalho.

“Eu nunca imaginei que ia fazer algo de que gostava tanto. E as profissões têm muito em comum. Tráfego aéreo funciona com segurança, regras e foco. E ser árbitro é o mesmo. Aquela experiência me deu um nível de disciplina muito grande. Não me distraio com nada que aconteça fora do ringue e o público não me afeta. Claro que ouço algumas coisas, mas consigo ignorar e tomar minhas decisões”, explicou ela.

Mesmo assim, isso não a livrou do nervosismo em sua estreia, quando já teve de se enfiar no meio de lutadores para encerrar um combate. A primeira luta no UFC, após anos de experiência, foi mais tranquila. Ela começou durante a final do The Ultimate Fighter 9, quando Nick Osipczak bateu Frank Lester.

Sangue, suor e... 'porrada'
Sangue, suor e... 'porrada'

Com participações não só no UFC, mas também no Strikeforce e no extinto WEC, entre outros, Winslow não está a salvo de algumas polêmicas, como acontece com qualquer árbitro. Mas ela insiste que as críticas e o fato de ser mulher não vão atrapalhar seu futuro no esporte.

Histórico de lutadora ajuda na função

  • Arquivo Pessoal

    Amante das lutas e praticante desde o boxe ao jiu-jítsu, passando pelo krav maga e a capoeira, Kim Winslow afirma que ter este “background” é muito importante no trabalho de um árbitro. A diferença é que, ao pensar também como um lutador e conhecer seus movimentos, é possível se movimentar melhor sobre o ringue e evitar prejudicar o decorrer do combate.

    “Eu treinei e entendo o que eles estão fazendo. Sei qual é a sensação de cada uma das finalizações para ter a noção exata de quando acabar a luta e também sei me posicionar para não impedir um lutador de fugir delas. É fundamental saber ler a luta, para que você não fique no caminho. Estar no lugar certo e na hora certa também facilita para garantir a segurança dos lutadores”, afirmou ela, que não esconde a preocupação com quem não tem este passado nas lutas. “Muitos dos problemas que vejo com os novos árbitros é de que eles não entendem o que está acontecendo.”

“Já me disseram ‘não’ muitas vezes, mas nunca desisti. Sempre há uma porção da audiência masculina que não me quer lá. É assim mesmo. Sei que sofro mais críticas que meus companheiros homens, tudo o que acontece comigo é mais debatido e com mais intensidade. Realmente há um grande machismo, mas não me afeta. Não teria chegado tão longe se me afetasse”, esclareceu.

Crise na arbitragem

Vários casos polêmicos na arbitragem tem deixado os torcedores com um pé atrás, como na desqualificação de Erick Silva no UFC Rio 2, pelo brasileiro Mario Yamasaki. Para a norte-americana, o fator humano faz com que seja impossível zerar os erros, mas ela defende que o conhecimento nas artes marciais é fundamental.

“Esta função é árdua e todos viram críticos dos árbitros. Sempre haverá controvérsias, porque há o fator humano e todos cometerão erros. O mais importante é manter a educação da arbitragem”, defendeu ela. “Também gostaria de ver mais árbitros com um conhecimento direto das artes marciais, na pele do lutador.”

Kim Winslow também defende um maior uso de replays - o que ainda não acontece no UFC -, mas com a atenção de não permitir que isso se torne um recurso para que os lutadores ganhem tempo para descansar durante o combate.

Mesmo com tantas metas atingidas, Winslow ainda vê um grande caminho a percorrer na arbitragem e inclusive coloca o Brasil como um possível ponto de parada futuro. “Não sou só uma árbitra, mas uma amante do esporte. Adoraria ir ao Brasil para trabalhar. Já fui ao Oriente Médio, ao Japão, à Europa, mas nunca viajei ao Brasil”.

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