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Pezão supera gigantismo e cirurgia na cabeça para estrear no UFC como 'azarão'

Pezão, de 1,93 m, tirou tumor benigno que mexia com seus hormônios de crescimento - Divulgação/Strikeforce
Pezão, de 1,93 m, tirou tumor benigno que mexia com seus hormônios de crescimento Imagem: Divulgação/Strikeforce

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

17/05/2012 12h00

Antonio Silva não ganhou o apelido de Pezão por acaso. Seu 1,93 m de altura, 2,08 m de envergadura e mãos e pés enormes motivaram a alcunha, que revela um caso de superação na vida do paraibano. O lutador faz sua estreia no UFC no próximo dia 26 e, antes de mais um desafio, relembrou a descoberta de um tumor que lhe causou acromegalia (ou gigantismo) e o levou para uma mesa de cirurgia.

O peso pesado fará sua primeira luta no UFC já diante do ex-campeão Cain Velásquez, pelo UFC 146, mas não se abala pela qualidade do rival. Assim como venceu sua doença, ele afirma que vê vantagem nos obstáculos e que chegar como azarão é uma vantagem. “Tudo na minha vida foi com dificuldades, mas isso só me torna uma pessoa melhor e também um atleta melhor”, explica Pezão, que tem uma vitória sobre o lendário Fedor Emelianenko como ponto alto em seu cartel.

Pezão começou a vida de lutador aos 4 anos de idade, no caratê, mas demorou muito a se dedicar só a isso. Pai aos 19 anos, teve de se virar para sustentar a família: foi vendedor, vigilante, segurança de boate e até de carro forte. Em 2005, já com 25 anos, estreou no MMA profissional. Porém, no ano seguinte veio o susto.

“Eu descobri este tumor quando fui lutar no Japão. Nunca tinha feito uma ressonância na cabeça e nestes exames descobriram que ele era responsável por um excesso de hormônio de crescimento. Logo depois de lutar lá, já marquei a cirurgia”, relembra ele, que apesar de enfrentar um tumor benigno não ficou a salvo da ansiedade gerada pelo problema.

ENTREVISTA COM PEZÃO

  • O que esperar desta luta contra Velásquez?
    Pezão:
    Será uma luta bem agressiva, o Cain tem as mãos muito rápidas. Até agora, ninguém viu ele muito tempo de costas no chão. Se a luta for para baixo, estou muito bem treinado no jiu-jítsu e vou finalizar. Mas acho que tudo vai se desenrolar em pé e o resultado não chegará à decisão pelos árbitros.

    Você era favorito contra Daniel Cormier, mas perdeu. Agora chega como azarão contra Velásquez. Como se sente?
    Gosto das dificuldades, é assim que dou mais valor. Na luta contra o Cormier eu treinei menos do que devia, estava ajudando na volta do Minotauro (no UFC Rio). Mas perdi porque não estava com aquela sede. Contra o Velásquez é diferente. Eu gosto de enfrentar favoritos, sinto-me sem pressão. Foi assim com o Fedor, eu estava tranquilo, e mais uma vez me dão uma oportunidade que vou agarrar com unhas e dentes.

“Quando você se senta numa cadeira de rodas e não sabe se vai voltar, passa um filme na sua cabeça. Você se arrepende de muitas coisas, promete outras. Mas voltei disso como outra pessoa, melhor”, conta Pezão, que tem uma tatuagem de seu apelido nas costas. Hoje, ele brinca sobre o problema. “Eu costumo dizer que sou um anão dos gigantes. Muitos chegam a 2,20 m, mas eu só tenho 1,93 (risos)”.

A estreia no UFC

Os últimos meses foram de muita negociação, até que Pezão enfim confirmou sua ida ao UFC. Ex-lutador do Strikeforce, ele teve por lá seus maiores resultados, em vitórias contra Andrei Arlovski e Fedor Emelianenko, duas estrelas dos pesos pesados. Mesmo com uma derrota inesperada em sua última luta, o paraibano mostra confiança diante de um dos lutadores mais pesados da categoria, o ex-campeão Cain Velásquez.

Inicialmente, Pezão enfrentaria Roy Nelson, mas o doping de Alistair Overeem mexeu com todo o card do UFC 146. Ele foi então “promovido” ao combate contra Velásquez, número 2 dos pesados dentro do Ultimate após sofrer sua primeira derrota na carreira diante de Júnior Cigano.

“Fiquei muito lisonjeado com essa oportunidade. Tem vários atletas que lutam há mais tempo, mas o UFC me escolheu. Eles sabem do meu potencial e quero retribuir, é muito legal começar enfrentando os cabeças. Enfrentar o Velásquez é como ganhar uma chance de se tornar o desafiante ao cinturão”, explica ele, que treinaria no Rio, na Team Nogueira, mas acabou decidindo permanecer perto da família, nos Estados Unidos.

Apesar do longo tempo sem lutar, desde setembro, Pezão afirma que o hiato foi bom para solucionar suas lesões. Ele operou o ombro e agora se diz pronto para se recuperar do revés contra Daniel Cormier e deixar uma boa impressão no UFC, como o ocorreu com o também brasileiro Fabrício Werdum. O gaúcho saiu do Strikeforce em direção ao Ultimate e venceu no retorno ao evento, em fevereiro.

VEJA PREPARAÇÃO DOS LUTADORES PARA UFC 146