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Mãe diz que Cigano ainda é 'Juninho' em casa e lembra dificuldades até o título do UFC

Maria de Lurdes admite que achava o MMA violento, mas diz que não perde uma luta - Reprodução e Flavio Florido/UOL
Maria de Lurdes admite que achava o MMA violento, mas diz que não perde uma luta Imagem: Reprodução e Flavio Florido/UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

24/05/2012 06h00

Quando Júnior Cigano dos Santos, o gigante campeão dos pesos pesados do UFC, retorna à sua cidade natal, Caçador (SC), volta a ser um simples “Juninho”. É assim que o catarinense, que defende seu cinturão pela primeira vez neste sábado, é tratado pela família e principalmente pela mãe, Maria de Lurdes. Ela conta que o garoto teve de vencer as dificuldades de uma criação simples - até para comprar sapatos para o filho Maria teve problemas - e até um veto da matriarca para enfim se tornar um lutador e conquistar seu sonho.

Um dos eventos fundamentais na vida de Cigano foi sua mudança para Salvador. Foi só na capital baiana que ele passou a lutar e acabou se tornando uma revelação do MMA. Mas, se dependesse de Maria de Lurdes, o filho nunca teria deixado a cidade.

“Quando ele veio me falar que ia para Salvador, foi péssimo. Fiz de tudo para ele não ir, e foi o pai dele que acabou dando o dinheiro para o Junior viajar”, lembra ela. “A gente sempre escutava notícia de filho que ia embora e nunca mais aparecia. Chorei bastante, mas ele era ambicioso, falava para mim: ‘Mãe, não vou ficar minha vida toda ganhando 200 ou 300 reais. Vou tentar uma coisa melhor para mim’.”

Cigano chegou a vender picolés e cortar grama em Caçador e, já em Salvador, trabalhou como garçom. Depois, começou no jiu-jítsu, passou pelo boxe com o ex-técnico de Popó, Luiz Dórea, até entrar no MMA, numa ascensão meteórica. O que era desconfiança e medo - pela agressividade do MMA - virou orgulho para Maria de Lurdes.

“Quando vejo resultado, só agradeço a Deus, que encaminhou o Júnior para um bom caminho. Apesar de (o MMA) ser um pouco violento, ele ama o trabalho que faz”, explica. “No começo eu achava bastante estranho, eu não gostava desse tipo de luta e nem conseguia assistir. Como mãe, é claro que eu não queria isso como uma profissão. Mas hoje é diferente. Eu rezo, choro, fico roendo as unhas, mas assisto a todas as lutas. Só saio quando o outro lutador cai.”

As dificuldades com o crescimento de “Juninho”

A família catarinense cresceu com a mãe na liderança da casa, devido ao divórcio do pai de Cigano. Maria de Lurdes teve que se virar: foi empregada doméstica e trabalhou em firmas e uma churrascaria para poder sustentar seus filhos. O agora lutador logo que teve idade também foi ajudar a angariar mais algum dinheiro.

Apesar de superarem tudo, as lembranças ficaram gravadas na cabeça da mãe, na construção do caráter do filho. “Quando me separei do pai dele, foi o momento mais difícil que passamos. Recordo de ele precisar de um tênis e eu não poder comprar. Ele chegou em casa de chinelo e contou que todos perguntavam se ele estava com frio. Foi uma época difícil, e além disso o pé dele crescia demais”, relata ela sobre o filho comilão, que desde bebê gostava de “puxar um garfo” e se desenvolvia rapidamente.

Cigano, segundo a mãe, era uma criança tranquila. Gostava de brincar de lutinhas em casa, mas poucas vezes levou isso para a escola, por não gostar de brigar.

As lutas do filho mais famoso já tiveram como palco para os espectadores de Caçador uma lanchonete. Mas agora é na casa da própria mãe que acontece a reunião para ver o pequeno Júnior.

“Ele não mudou nada desde que saiu de casa. E continua sendo Juninho para mim e para os nossos vizinhos. Tem gente que até pergunta: ‘Como assim Juninho com este tamanho?’”, diz Maria de Lurdes, que conclui relembrando a conquista máxima do filho. “Quando ele conquistou o cinturão o pessoal fez carreata. Era todo mundo na rua gritando, soltando foguete. Foi uma coisa linda...”.

A torcida da mãe é sempre a mesma: que o filho saia do octógono sem se machucar. Se o cinturão permanecer em Caçador neste sábado, melhor ainda.