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'Dana de saias' banca evento de MMA feminino após ouvir que lugar de mulher é no fogão

Shannon Knapp comanda o Invicta FC, evento que chega à 3ª edição no sábado - Divulgação
Shannon Knapp comanda o Invicta FC, evento que chega à 3ª edição no sábado Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

04/10/2012 06h00

A vida das mulheres é dura no mundo dos esportes de combate. Os homens tomam as atenções e as corajosas que querem seu lugar ao sol em modalidades como boxe sofrem com o preconceito. Não é diferente com o MMA, que explodiu com a febre do UFC e coloca ao público feminino o mesmo tipo de dificuldade. Contra esse atraso, as norte-americanas Shannon Knapp e Janet Martin criaram o Invicta FC, torneio exclusivo para garotas que tem neste sábado sua terceira edição.

Como era de se esperar, a trilha é dura e vai da desconfiança quanto à organização do evento aos preconceitos e estigmas mais comuns. Shannon conta que teve de ouvir diversas vezes aquela frase nada agradável: “lugar de mulher é no fogão”. Ainda assim, a expectativa é de crescimento e consolidação do Invicta, em busca do objetivo simples de dar oportunidades para o MMA feminino crescer - e sempre com a ajuda brasileira, já que o país é um dos alicerces de organizações desde o vale-tudo até as atuais artes marciais mistas.

Shannon foi quem teve a ideia de criar o Invicta em 2012, mas sua ligação com as lutas é mais antiga. “Enquanto as meninas brincavam de boneca, eu queria ser uma ninja”, conta ela, que já treinou jiu-jítsu e deu aulas de defesa pessoal, mas nunca subiu no ringue. A norte-americana trabalhou como jornalista e comentarista, já no meio do MMA, mas percebeu que tinha mais talento para operar nos bastidores. Assim, transformou-se em matchmaker do Strikeforce, o profissional que casa as lutas de um evento.

Rostos bonitos ajudam no crescimento do esporte, admite cartola do Invicta FC

  • Reprodução

    O crescimento do MMA vem acompanhado de belos rostos. É o caso de Gina Carano, hoje também atriz, e Ronda Rousey, campeã do Strikeforce. Para a dona do Invicta FC, isso não é um problema e, se não influir na qualidade de uma lutadora, é até algo que ajuda na promoção do esporte. “Não acho que a beleza das lutadoras seja ruim para o esporte. No caso de lutadoras como Ronda: se ela consegue ser boa no esporte, para mim não há nenhum problema com isso. Se é um rosto bonito, mas a lutadora não tem talento, aí não faz sentido”, pontua Shannon. “Se você é bonita, luta bem e traz atenção ao esporte, ótimo. Dou oportunidade às mulheres porque sei que elas podem ter tudo o que os homens têm. Já vi a paixão que elas têm, só faltava oportunidade.”

O projeto começou a ser montado em 2011 e teve a compra do Strikeforce pelo UFC como motivador, pelo medo de que a companhia presidida por Dana White extinguisse as disputas femininas de seu novo produto.

“As meninas estavam com receio de ficar sem emprego, então comecei a pesquisar e a ver o que estava acontecendo no MMA feminino. Vi que faltava quem organizasse essas meninas e as colocasse em um evento só delas. Eu e minha colega Janet levantamos tudo que foi necessário e fundamos a companhia, até hoje comandada apenas por nós”, conta a presidente, que fará a terceira edição em Kansas City, com 28 competidoras em ação, incluindo a brasileira Vanessa Porto.

“Eu enfrento preconceito todo dia. O que machuca mais é o estigma, aquele estereótipo de que mulheres pertencem à cozinha. Antes do primeiro Invicta FC, as pessoas riam da gente”, detalha Shannon. “Mas faltava alguém que realmente colocasse em prática um evento só para mulheres. Este nicho está aí há anos, mas ninguém se comprometeu. Eu sabia os recursos que tínhamos e que teríamos de vencer as críticas.”

A amizade com Dana White

Shannon está acostumada a ouvir comparações com Dana White, presidente do UFC. Mas o estilo da dirigente é mais calmo e, apesar do evento inovador, as aspirações são mais modestas - o Invicta existe, segundo ela defende, apenas para promover o esporte, e não para atingir lucros milionários.

Dana e a presidente do Invicta são amigos, mesmo com a opinião do chefão do UFC de que o MMA feminino não tem o mesmo potencial do masculino.

“Eu considero o Dana White um amigo, ele tem sido bom comigo. A opinião dele mudou muito nos últimos seis meses, mas eu concordo em um ponto, quando ele fala que hoje nós temos grandes lutadoras, mas nossas categorias de peso não tem consistência. Considero que é devido à falta de oportunidades, ainda não temos nomes como Anderson, GSP ou Jon Jones, mas há material para se chegar lá”, opina ela.

Shannon também comentou a importância do Brasil para o MMA feminino. De acordo com a dirigente, tanto no quesito atletas quanto no público o país tem um papel fundamental no crescimento. No Brasil, inclusive, já existe o Pink Fight, evento ligado ao Jungle Fight e só voltado a mulheres.

Transmissão

O Invicta FC é transmitido via internet, em streaming grátis no site da organização (www.invictafc.com). O evento deste sábado está marcado para às 19h (de Brasília) e terá no combate principal Jessica Penne (EUA) x Naho Sugiyama (JAP), na categoria átomo (até 47,6 kg).

DIRIGENTE FALA SOBRE ESTRELAS DO MMA FEMININO

GINA CARANO: “Ela foi fundamental para o esporte. Ela é aquela mulher linda, educada e é uma grande lutadora. Foi ela quem pela primeira vez trouxe aquele pacote completo. Claro que ela chamou a atenção por ser bela, mas houve muito mais por trás disso”RONDA ROUSEY: “Ame-a ou odeie-a. Ela diz algumas coisas que as garotas não gostam, mas por outro lado ela elevou o patamar de exposição do esporte. Eu brinco que ela deveria estar na minha folha de pagamento, porque cada vez que ela fala, isso traz atenção.”
KYRA GRACIE: “Eu conheço Kyra. Mas nunca cheguei a falar com ela sobre o Invicta. Kyra é extremamente talentosa. Não sei quando vai estrear no MMA, mas tenho certeza de que ela vai longe. Ter uma Gracie no esporte seria muito bom”CRIS CYBORG: “Muitas pessoas falam do dano ao esporte com seu doping. Mas não vejo tanto dano quando acontece com os homens. Eu gosto de Cris e não acho que isso fez tantos estragos quanto se falou. Acho que ela vai se sair bem disso tudo.”