Topo

MMA


Reincidência de casos de doping por maconha divide opiniões e muda postura do UFC

Nomes como Matt Riddle foram pegos; alguns lutadores alegam uso medicinal da erva - UFC/Divulgação
Nomes como Matt Riddle foram pegos; alguns lutadores alegam uso medicinal da erva Imagem: UFC/Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

23/11/2012 11h00

Numa modalidade de força e explosão como o MMA, a política de antidoping tem de ser dura, para coibir o uso de substâncias que melhoram a performance dos lutadores. Mas não tem sido o uso de esteroides que tem chamado a atenção no UFC, maior evento da atualidade. Uma das grandes polêmicas é pelo que se chama de “doping social”, mais especificamente com a maconha.

ÚLTIMO CASO: THIAGO SILVA

  • O caso mais recente de doping por maconha revelado pelo UFC foi o do brasileiro Thiago Silva. Ele lutou no UFC Macau, neste mês, e venceu Stanislav Nedkov. No entanto, ele foi pego no antidoping e o resultado mudou para no contest. Agora, ficará seis meses afastado e passará por reabilitação antes de voltar ao octógono.

A reincidência de testes positivos divide as opiniões quanto à postura que deve ser adotada para coibir - ou não - o uso da droga, mas o UFC já tem demonstrado uma mudança em sua política de punições, com penas mais brandas nesses casos e a inclusão da passagem por reabilitação.

Para o médico Marcio Tannure, responsável nos eventos do Ultimate realizados no Brasil, as suspensões impostas no UFC Rio 3, em outubro, mostram como a organização tem tratado o assunto. Enquanto Stephan Bonnar - que perdeu para Anderson Silva - está afastado por um ano por uso de esteroides, Dave Herman - derrotado por Rodrigo Minotauro - pegou seis meses de gancho pelo segundo positivo por maconha na carreira. Outros casos como o de Nick Diaz e o de Matt Riddle, ambos fazendo uso medicinal da erva, e o mais recente de Thiago Silva também se destacaram nesta temporada.

“O uso de maconha é considerado doping, mas não melhora a performance do lutador. Por isso tem de ser visto como um ‘doping social’. No último evento (UFC Rio 3), a sentença dos dois atletas flagrados foi bem diferente. O UFC  quer que haja está diferença de tratamento entre os casos, diferentemente do que acontecia antes”, explica Tannure.

“Na minha opinião pessoal, não vejo a maconha como uma droga que melhore a performance de um lutador em nada”, adiciona o médico, que não vê problemas com o uso da droga, apesar das regras não permitirem. “Há estudos que dizem que ajuda a aliviar a dor. Neste caso, seria o mesmo que tomar vários analgésicos que são liberados, e eu também não consideraria dopante.”

Além da diferença de penas em cada caso de doping, o uso da reabilitação mostra um esforço recente do UFC para evitar que os lutadores voltem a ser pegos nos testes. Dirigente do UFC responsável por esta área, Marc Ratner explicou ao MMA Mania: “Usar três ou quatro meses antes da luta é uma coisa, mas usar próximo do combate vai causar flagras. Minha opinião é de que pode haver suspensão, mas de que não adianta se não os fizermos passar pelos sistemas de reabilitação.”

Nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, é possível usar a maconha de forma medicinal, e foi esta a alegação de Nick Diaz e Matt Riddle - este último até tuitou sua carteirinha com a licença para provar seu ponto. Mesmo assim, eles foram punidos depois de flagra em antidoping.

LEIA MAIS SOBRE MMA NO UOL

  • Pôster confirma ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, como sede de evento do UFC em janeiro

  • Erick Silva tentará recuperação contra Jay Hieron no UFC 156; Lyoto luta no 157

  • Shooto entra na moda e contrata time de musas como ring girls, de panicat a Furacão da CPI

Riddle lutou no último fim de semana, no UFC 154, e falou de seu caso. Ele foi pego em julho, quando entrou no card do UFC 149 com pouco tempo de aviso. Como foi chamado de última hora, não conseguiu “limpar” o organismo e a presença da droga foi detectada.

“Não é que eu chegue e fume antes de entrar no octógono. Eu paro duas semanas antes. Sou um grande usuário, pois quando não uso a maconha medicinalmente sou uma pessoa difícil de lidar, sou muito intenso. Com ela eu desacelero, sou uma pessoa normal”, explicou ele ao site MMA Mania. Riddle é contrário às regras atuais, mas se desculpou. “Eu nunca havia sido flagrado no antidoping, e só aconteceu porque aceitei a luta com pouco tempo de preparo. Nunca mais acontecerá.”

Mesmo que alguns lutadores aleguem este uso médico, para muitos a regra tem de ser cumprida sem exceções, seja qual for a substância usada.

“O lutador tem de ser uma pessoa correta, justa, limpa. Hoje crianças acompanham o esporte, adolescentes, então imagina o exemplo que você está passando”, opina Ramon Lemos, técnico de Anderson Silva, que não concorda com as penas mais brandas como a dada a Dave Herman. “Acho que deveria ser até mais rígido do que acontece hoje. As penas deveriam ser iguais para todo mundo, exatamente para os lutadores saberem que não há diferença ao usar uma substância ou outra.”

O lutador Fabio Maldonado vê diferença entre o uso de esteroides e o de drogas “recreativas”, mas defende as atuais regras. “Se um rival meu fosse pego por maconha, eu não gostaria de ver minha luta mudar o resultado, já que sei que não é uma droga que mude o resultado. Se fosse por esteroide, aí sim. Mas lei é lei. Se não pode, é proibido, acabou. O mais bonito no esporte é estar sempre limpo”, afirma o sorocabano.

Além dos casos de Riddle, Thiago Silva e Dave Herman, o que mais se destacou foi Nick Diaz, ex-campeão do Strikeforce. Ele foi flagrado no UFC 143, quando perdeu a disputa de cinturão interino dos meio-médios para Carlos Condit. Como foi seu segundo caso no MMA, pegou suspensão de um ano e, mesmo com recursos, não conseguiu reverter esta decisão.

MATT RIDDLE TUITOU LICENÇA PARA USO

  • Matt Riddle usou o Twitter para alegar que, mesmo pego em teste, usa maconha de forma medicinal. Ele foi flagrado no combate contra Chris Clements, que teve o resultado alterado para no contest.