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Nova geração Gracie tenta emplacar no MMA com 'velho' jiu-jítsu e toque feminino

Gregor, Kyra e Roger Gracie são três das esperanças de resultados da família no MMA - Divulgação
Gregor, Kyra e Roger Gracie são três das esperanças de resultados da família no MMA Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Em São Paulo

23/09/2011 07h00

O sobrenome Gracie está ligado de forma intrínseca ao jiu-jítsu, desde que o patriarca Carlos Gracie aprimorou a arte marcial japonesa, no início do século 20. Mas a família também tem laços fundamentais com o MMA, com a criação do UFC por Rorion, em 1993, e o sucesso de Royce e Rickson nos ringues. Atualmente, esta geração tem o respeito de suas conquistas, mas já é substituída por novos nomes. A mentalidade, no entanto, é a mesma, desde a jovem Kyra ao já veterano Roger: erguer a bandeira do jiu-jítsu, mesmo que sozinho ele já não baste na hora de lutar.

KYRA ENSINA À IRMÃ O 'MATA-LEÃO'

  • Famosa pelo seu jiu-jítsu, Kyra já ensina a irmã caçula alguns passos da arte suave. Além dos golpes ligados à defesa pessoal, a última de cinco irmãos já brinca até com o famoso mata-leão

Entre os novos Gracie, de quem muito se espera é Kyra, a musa da família, um exemplo de quem já cresceu com a pressão do sobrenome e que, após se destacar no jiu-jítsu - a chamada “arte suave” - quer colocar conquistas do MMA em seu currículo. O detalhe é que ela pode ser pioneira na família, que sempre foi bastante machista e viu - e ainda vê - com desconfiança uma garota no mundo das lutas.

“Quando comecei a competir no jiu-jítsu, o pessoal da família achou que era só uma fase. Hoje são os que mais me incentivam. Agora, com o MMA, eles voltaram a falar para eu deixar isso para lá”, conta ela, que estuda propostas para fazer sua estreia em 2012. “Quero sentir o que todas as gerações da minha família sentiram, e com a particularidade de ser pioneira entre as mulheres.”

Mesmo sendo uma garota, Kyra nasceu e ganhou seu quimono, como todos os parentes. Entre eles, estão dois companheiros de treinos e, futuramente, de profissão: Roger, que atua no Strikeforce, e Gregor, um dos jovens da família que sonha com um futuro no UFC. Em comum, eles tem o peso de toda uma família.

“Qualquer lutador da família representa o nome. De casa já se cria uma pressão, quase uma cobrança”, explica Roger, de 29 anos.  Kyra adiciona: “A pressão sempre existe, até do rival que quer falar que venceu um Gracie. Mas para mim isso dá vontade de ir ainda mais longe.”

Roger: em pé, a primeira derrota no Strikeforce

A carreira de Roger Gracie é repleta de triunfos no jiu-jítsu, com títulos mundiais e a fama de um dos melhores finalizadores do mundo. Este mês, no entanto, ele conheceu sua primeira derrota no MMA, sem nem conseguir chegar ao chão, a especialidade da família. Ele foi nocauteado pelo norte-americano Muhammed Lawal, o King Mo, ainda no primeiro assalto.

CONHEÇA ROGER GRACIE

Nascimento: 26/09/1981, no Rio de Janeiro
Títulos no jiu-jítsu: campeão mundial de jiu-jítsu e vencedor do ADCC.
Cartel no MMA: 4 vitórias e uma derrota
Última luta no MMA: derrota por nocaute para King Mo, no Strikeforce

O resultado mostra um pouco da visão fechada dos Gracie, que apostam na tradição da família e, assim, deixam de priorizar um estilo mais multidisciplinar nas artes marciais mistas.

“A nova geração está muito mais completa. Mas não preciso mostrar que sei nocautear”, afirmou Roger, que tenta deixar no passado os vexames de Rolles e Renzo no UFC. “Eu treino boxe, por exemplo, para não ser nocauteado, para ter calma na trocação e conseguir levar a luta para o chão”.

O último resultado, não teve o final esperado por Roger, que terá de batalhar na categoria meio-pesado, para conquistar novamente seu espaço no Strikeforce.

Gregor: de lutador a celebridade, o namorado de Fê Paes Leme

A nova geração é variada. De mulher a campeão mundial de jiu-jítsu, passa por um galã com um pé no mundo das celebridades. É o caso de Gregor, que ficou conhecido também pelo fato de namorar a atriz Fernanda Paes Leme.

“As fofocas não incomodam, não. Ficamos um tempo no Rio e teve isso, mas quando ela vem a Nova York, não tem problema. Não ligo para isso”, desconversa o lutador, que mora nos Estados Unidos e treina com Renzo.

CONHEÇA GREGOR GRACIE

Nascimento: 26/12/1986, no Rio de Janeiro
Títulos no jiu-jítsu: campeão mundial (faixa roxa) e bronze no ADCC.
Cartel no MMA: 5 vitórias e uma derrota
Última luta no MMA: venceu por pontos Seok Mo Kim (CDS), no One FC

Se na vida pessoal a coisa vai bem, nos ringues Gregor também tem provado seu valor. Em sete combates, perdeu apenas uma vez e vem crescendo na carreira. Seu último combate, no último dia 3, foi com vitória por pontos contra o sul-coreano Seok Mo Kim. Entre os triunfos, este foi o único em que ele não finalizou seu rival.

“No momento não estou com pressa. Quero aprimorar minha parte em pé e fazer mais lutas. Quem sabe ano que vem já posso estar lutando no UFC”, afirmou ele. Parte dos créditos para a crescente esperança com a nova geração ele dedica a parentes como Kyra e Roger.

“Desde que me lembro por gente estou no tatame, brincando ou fazendo aula. Hoje, um ajuda o outro para crescermos”. Sobre o mesmo tema, Roger conclui: “Uma das coisas mais importantes é a união dos Gracie. É ela que faz a gente ser tão forte.”

O jiu-jítsu Gracie

A importância da família Gracie para o jiu-jítsu começou com Carlos Gracie, na primeira metade do século 20. Ele teve aulas com um japonês e, como um estudioso, passou a aprimorar a arte do jiu-jítsu no Brasil.

Carlos ensinou os próprios irmãos a arte marcial e, com o passar do tempo, a família ficou conhecida por suas lutas, vencendo rivais maiores e mais pesados e provando a habilidade da modalidade. A grande difusão do jiu-jítsu brasileiro aconteceu também com Rorion Gracie, que criou o UFC em 1993, após anos ensinando o esporte nos Estados Unidos.

Kyra não foge de rótulo e festeja influência 'mulherzinha' nos tatames

Kyra Gracie é perseguida pelas perguntas sobre sua beleza. E não foge. A carioca aprendeu a lidar com o assédio também pelo seu lado musa e comemora poder ajudar outras mulheres a expor sua feminilidade dentro do mundo das lutas.

"Eu não quero fugir disso não, toda mulher gosta de ser elogiada. Isso tem um lado positivo, de trazer mais mulheres para o jiu-jítsu. Se as pessoas estão acostumadas com uma imagem masculinizada de lutadoras de jiu-jítsu, posso mostrar que não é bem isso", explica ela, que conta com seu famoso quimono rosa como arma para atrair alunas e até suas parentes mais novas para a arte suave.

"O quimono rosa foi uma sacada muito boa, porque as meninas, principalmente crianças, amam. Desde pequena eu via a necessidade de ter uma coisa feminina, e nunca tive essa oportunidade. E não encontrava em lugar nenhum. Outras meninas deviam pensar como eu, então foi bom ter vivido tudo isso, sentir o que elas sentem, e poder trazer esse lado mulherzinha para o jiu-jítsu", concluiu.