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Na contramão do UFC, Rickson Gracie estreia evento com regras ousadas: 'MMA perdeu valores'

Rickson Gracie comanda o evento; Big John será o árbitro nesta estreia - Divulgação
Rickson Gracie comanda o evento; Big John será o árbitro nesta estreia Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 06h00

A família Gracie é um dos pilares do MMA, com a propagação do jiu-jítsu brasileiro, as lutas de vale-tudo no Brasil e a criação do UFC há quase duas décadas. E, em meio à febre que a modalidade vive hoje em dia, é natural que o clã esteja envolvido. Rickson Gracie está voltando a este mundo, agora como mentor de um novo evento, o Mestre do Combate. A estreia acontece nesta quinta-feira, com a intenção de rever as atuais regras, e de acordo com o veterano, trazer de volta os “valores e princípios” da luta.

O Mestre do Combate terá sua primeira edição no Rio de Janeiro, no Vivo Rio, a partir das 20h (de Brasília), e traz novidades tanto no pré-luta quanto na hora do combate. A pesagem é no dia dos duelos, não há vitórias por pontos e o gongo não pode salvar um competidor, entre as regras ousadas propostas pelo ex-lutador.

Rickson, de 54 anos, fez fama como um dos melhores Gracie da história sobre os ringues e teve uma carreira invicta de 11 vitórias, todas por finalização. Com esta experiência e muita observação, o ex-lutador comanda no Rio de Janeiro uma noitada que tem como objetivo aumentar o espetáculo.

“Há muito tempo que percebo que os eventos de MMA perderam os valores e os princípios da luta. Por exemplo, hoje presenciamos atletas que lutam usando as regras como a do subjetivo sistema de 10 pontos. Muitos evitam riscos, pois estão com pontos a seu favor. O objetivo principal é eliminar subjetividades e motivar o lutador a entrar no ringue com o foco na vitória inequívoca, por meio de um nocaute ou da finalização”, explicou Rickson, ao UOL Esporte.

Uma das inovações mais importantes diz respeito à pesagem. Atualmente, os eventos levam seus lutadores à balança na véspera do combate. Com isso, os lutadores têm a possibilidade de perderem muito peso (de 10 kg a 15 kg), baterem o limite de suas categorias e recuperar boa parte disso nas 24h seguintes até entrarem no ringue. No Mestre do Combate, a pesagem é no dia.

Venceria atual geração, diz Rickson

  • Apesar de muito ter mudado desde que Rickson subiu pela última vez no ringue, em 2000, e uma nova geração ter nascido no MMA, com lutadores mais completos e criados em diversas artes marciais desde muito jovens, o veterano não acredita que teria desvantagens se tentasse a sorte. 'Em condições iguais de preparação e treinamento, como sempre foi ao longo da historia dos meus confrontos, não há porque imaginar que os resultados seriam diferentes', diz o invicto lutador, filho do lendário Hélio Gracie.

“Simples: é uma questão de legitimidade e saúde. O lutador tem que lutar no peso com o qual ele treina e anda na rua. Caso contrário, vira uma competição de quem perde e ganha mais peso. Vale lembrar quantos atletas já passaram por problemas de saúde”, opina o carioca.

Para Rickson, esta medida mudaria muito os resultados atuais. O veterano admite gostar de muitos dos astros de hoje, mas cita Anderson Silva como exemplo de sua regra, já que o brasileiro pesa cerca de 100 kg longe do octógono, mas vai à pesagem com 84 kg e sobe no ringue com cerca de 92 kg.

“Vejo grandes lutadores hoje, como Anderson Silva e Jon Jones. Mas com certeza a preparação e a postura de luta deles seria diferente num evento com as regras do Mestre do Combate”, afirma ele.

As regras

O Mestre do Combate terá disputa de duas equipes. Nesta quinta-feira, os capitães serão o ex-campeão do UFC Murilo Bustamante, pelo Rio de Janeiro, e Francisco Veras, oriundo do muay thay e do kick boxing, por São Paulo. Além deste confronto, Pety Mafort encara Robert Peter, Luciano Correa enfrenta Oséias Vianna e Vitor Miranda vai lutar contra Elton “Monstro” na luta principal da noite.

Um dos detalhes principais propostos por Rickson é afastar seu evento das decisões por pontos e fazer o público ter voz. Esse tipo de vitória não existirá. Serão dois rounds de disputa, sendo o primeiro de dez minutos e o segundo, de cinco. Caso haja empate ao fim deste período, a decisão será feita dando pontos a três partes: ao árbitro John McCarthy, ao próprio Rickson e um voto do público.

Além disso, os lutadores não poderão se safar de nocautes ou finalizações pela batida do gongo.

“O tempo não pode ser determinante pra livrar um lutador de uma situação indesejável. Assim sendo, o gongo não pode salvar ninguém, pois a situação de vantagem foi construída com méritos por um dos lutadores e não pode ser desfeita pelo simples soar do gongo”, detalha ele.

Mesmo com as inovações, é bom deixar claro que a maioria das regras usuais estão mantidas. Não são válidas cabeçadas, mordidas, dedo no olho e até alguns golpes que eram comuns no Pride, como tiros de meta, pisões e o bate-estaca.

A expectativa é de que o Mestre do Combate tenha pelo menos mais oito eventos, com a equipe vencedora avançando e novos times entrando na disputa. A expectativa é de que R$ 700 mil sejam distribuídos entre bolsas e premiações.