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Musa Ronda Rousey vê homens intimidados por cinturão e 'busca' namorado após estreia no UFC

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

19/02/2013 06h00

Loira e sorridente, Ronda Rousey conquistou o mundo do MMA por sua beleza e, é claro, pela técnica apurada em cima do ringue. Estreante no UFC neste sábado, na primeira luta feminina da história do evento, a norte-americana passou os últimos meses perseguida por câmeras, jornalistas e técnicos. É de se supor que a vida pessoal ficou prejudicada, não é? E é mesmo. Mais do que isso, o cinturão do UFC tem dificultado as chances da ex-judoca de se aproximar dos pretendentes, que aparentemente ficam temerosos de levar suas famosas chaves de braço.

“Às vezes saio para passear e dou nomes diferentes, digo que sou personal trainer. Aí as pessoas não se intimidam comigo. Mas se digo que sou a campeã do UFC, minhas chances caem bastante”, ri a musa do Ultimate em entrevista para o UOL Esporte, na qual ela falou da estreia contra Liz Carmouche, mas também se abriu para contar um pouco mais de quem é a discreta e caseira Ronda Jean Rousey. Da menina com problemas de fala à jovem que viu o pai se suicidar, ela enfrentou obstáculos e terá mais um pela frente.

A declarada campeã peso galo do UFC explodiu no esporte com seu cartel invicto (seis finalizações no primeiro round, todas com chave de braço), mas terá de provar no octógono que aguenta a pressão de jogar com todas as expectativas em cima de suas costas. Mas, pelo menos no discurso, está tranquila: “Esta é a primeira vez em que eu tenho a real obrigação de ganhar, então, é o combate para o qual melhor me preparei. Lido bem com a pressão”.

UOL Esporte: Ronda, o documentário do UFC para esta edição 157 mostra que você é uma leoa nos treinos. Os últimos meses foram malucos para você. Como foi lidar com isso e não perder foco na luta mais importante da sua carreira?
Ronda Rousey:
Eu me acostumei. Eu sou capaz de tudo, sou capaz de treinar o mais duro que for possível para qualquer luta e sou capaz disso mesmo que haja um monte de câmeras em minha volta. É uma distração, mas tenho de entender que é assim que as coisas são. Eu lido bem com isso.

Você gosta desse assédio, de ser o centro das atenções?
Eu preferiria que eles apenas me deixassem sozinha por alguns momentos. Prefiro fazer o meu trabalho, mas entendo que há um propósito e que, se é o melhor para ajudar no crescimento das mulheres no MMA, então estou disposta a fazer este trabalho extra. No mundo perfeito, eu estaria sozinha treinando até a luta (risos).

Musa ficou marcada por parto problemático e suicídio do pai

  • Ronda passou por maus bocados para virar lutadora. Já no parto ela teve um problema que dificultou o aprendizado da fala. Além disso, aos oito anos, o pai se suicidou. Com isso, restou seguir o caminho da mãe, uma campeã de judô, para achar seu rumo. LEIA AQUI

Como você encara o fato de ser conhecida como musa? É algo positivo ou negativo em seu trabalho?
Eu acho que minha beleza acaba sendo um fator positivo. Falando por mim, eu sei que o MMA feminino vai chegar a um ponto em que isso não precisará ser um tema. Agora, eu acho que isso ajuda um bocado. Mas não sou bonita o bastante para ser uma modelo e ninguém notaria isso se eu não fosse uma boa lutadora. Portanto, sou uma lutadora em primeiro lugar e ser bonita aparece em segundo plano.

E você leva muitas cantadas por onde vai?
Honestamente, quando eu era garçonete em bares eu levava muito mais cantadas. Agora, se as pessoas me veem e elas sabem quem eu sou, elas ficam intimidadas. Se não sabem, aí é diferente. É engraçado, algumas vezes eu saio e dou nomes diferentes e digo que faço outra coisa, que sou personal trainer. Aí as pessoas não se intimidam comigo. Mas se digo que sou a campeã do UFC, minhas chances caem bastante (risos).

Você nunca aparece com namorados e affairs. Você é reservada, ou está mesmo solteira?
Para falar bem a verdade, desde a minha última luta o trabalho tem consumido quase todo o meu tempo. Mas espero que depois desta luta eu tenha um pouco mais de tempo para essas coisas e quem sabe achar um namorado. Sabe, eu sou uma pessoa um pouco difícil. Eu treino com um monte de caras o tempo todo, a maioria dos meus amigos é homem e um namorado teria que ser bem compreensível e não ciumento para o relacionamento dar certo. E eu tenho pouco tempo, então eu teria de achar alguém que pudesse aproveitar esses momentos comigo, estar disponível. É difícil, porque é uma situação diferente do normal.

Um dos temas mais comuns de suas entrevistas é a luta com Cris Cyborg. Você já disse que só luta com ela na sua categoria. E se a exigência fosse outra: você lutar contra ela no Brasil?
Olha, eu não ligo sobre onde vou lutar contra ela, contanto que seja na categoria de até 135 libras (peso pena, até 62 kg). Não importa em que país será. Se alguém acha que me intimidaria por lutar no Brasil contra Cyborg, está enganado, porque eu lutei a minha vida toda contra a torcida. O Brasil foi a minha primeira experiência de ter uma torcida inteira gritando o meu nome, então eu amo o país de vocês e adoraria voltar a lutar por aí.

Ex-judoca conta caso de amor com o Rio - mesmo sem ir a baladas

  • Ronda Rousey é uma apaixonada pelo Brasil. Entre suas maiores conquistas como judoca, as medalhas de prata no Mundial e ouro no Pan - ambas no Rio, em 2007 - a encaminharam para o bronze em Pequim-2008. “Adoro o Brasil! No Mundial-2007, a torcida brasileira estava me vaiando no começo do dia. Mas, ao fim do dia, eles mudaram e começaram a gritar muito por mim. Foi uma das coisas mais legais que vivi. No judô, sempre competi fora dos EUA e ninguém torcia por mim”, conta ela. Ronda confidencia, no entanto, que a visita ao Rio foi meramente a trabalho. “Não, não fui para a noite. Eu não sou uma pessoa de ir a baladas, eu adoro ficar no meu sofá (risos). Para ser honesta, sou tão ocupada que no tempo livre a última coisa que quero é sair para festas, eu quero apenas descansar.”

No Primetime do UFC, que abordou bastante da sua vida, você se emocionou e falou da morte de seu pai e das dificuldades de sua vida. Serviu como uma terapia abrir o jogo desta forma?
As coisas são um tanto emotivas quando você está numa preparação para luta. E desta vez havia muita mídia. Muitas dessas entrevistas têm longos papos, por horas, e parece que eles estão te cansando para que você no fim não tenha opção e caia na emoção. Não foi uma decisão consciente abrir tanto sobre minha vida e falar as coisas que eu disse, coisas que nunca tinha exposto, mas foi bom enfrentar estes sentimentos que ficam um pouco escondidos. Eu não falei nada para entreter as pessoas que estão assistindo ao programa, eu não ligo para isso. Fui pega pelo momento e não pude me segurar.

Você luta agora no UFC 157 com status de campeã do UFC, mas é apenas sua estreia no evento. Você se sente a dona do cinturão?
Não, eu não me vejo como campeã do UFC. As pessoas podem me chamar do que quiserem, mas o que importa é o que faço. Agora eu vou ganhar a luta, e aí poderei me considerar a campeã.

O UFC construiu o MMA feminino do evento em torno da sua figura. Você se sente pressionada, já que, em caso de derrota, pode frustrar os planos da organização?
Eu me sinto pressionada por meu próprio orgulho. Quero ganhar essa luta por mim mesma. Não gosto da ideia de perder. Eu não penso nisso, ‘ah, o que acontecerá se eu perder’, não me importo com esse tipo de pensamento. Quero ganhar por mim mesma, se ajudar outras pessoas, ótimo, mas eu simplesmente não ligo para os outros.

Os incríveis números de Ronda Rousey

6
vitórias

Tem Ronda Rousey no MMA, um cartel perfeito até aqui
6
chaves de braço

Todas as finalizações da musa foram do mesmo jeito
9
minutos

E 28 segundos é o tempo total de Ronda lutando MMA

Sua adversária, Liz, é desconhecida do público. Como você a descreveria como lutadora? Quais são os riscos desta luta?
Liz é uma lutadora imprevisível e perigosa. Ela faz coisas loucas logo que a luta começa, solta joelhadas voadoras, socos rodados. Ela faz coisas diferentes o tempo todo, o que a faz uma lutadora difícil para se preparar. Ela é uma das atletas mais perigosas da categoria galo. Estou levando esta luta totalmente a sério, mesmo que algumas pessoas achem que eu não deveria me preocupar. Esta é a primeira vez em que eu tenho a real obrigação de ganhar, então, é o combate para o qual melhor me preparei.

Ela é muito boa lutando em pé. Isso significa que você deve levar o combate para o chão e tentar suas famosas chaves de braço?
Eu geralmente não tenho estratégias formadas para a luta. Eu planejo os primeiros segundos, a primeira troca de golpes, e depois disso eu vejo o que vai acontecer. Sei que muitas pessoas se preocupam demais com minhas chaves de braço, mas do jeito que ela luta, posso conseguir um nocaute, ou um estrangulamento. Depende de como vai acontecer. Se ela for mais defensiva, poderei soltar mais meu jogo para tentar a vitória.