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Argentino vira queridinho no TUF após sofrer no Brasil e dormir no chão

Santiago Ponzinibbio comemora vitória no TUF BRasil 2, pelo time de Minotauro - ]Divulgação/UFC
Santiago Ponzinibbio comemora vitória no TUF BRasil 2, pelo time de Minotauro Imagem: ]Divulgação/UFC

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

01/05/2013 06h00

“Esse é o único argentino gente boa que eu conheço”. A frase é um bocado preconceituosa com os “hermanos” - sempre estereotipados pelos brasileiros - mas foi ouvida inúmeras vezes durante estes quatro anos que Santiago Ponzinibbio vive no Brasil. Depois de comer o pão que o diabo amassou dormindo no chão e apanhando muito dos brasileños, o lutador vive o sonho de viver do MMA e, com sua história de superação e uma vitória suada, conquistou uma vaga nas quartas de final do TUF Brasil 2 e a torcida de muitos telespectadores.

No episódio do último domingo, ele mostrou garra à la futebol argentino e, num combate de idas e vindas, nocauteou Márcio Pedra para avançar no reality show. Antes disso, contou um pouco dos perrengues passados na aventura de se tornar lutador.

“Estava morando na casa (pensão) de uma mulher e de um dia para o outro ela me colocou para fora, arrumou gente que pagava mais. Conheci um cara em um restaurante que falou: se você quiser dormir no chão da cozinha, pode ficar. Passei 20 dias dormindo no chão, acordava todo quebrado, ia treinar e só apanhava. Chegava em casa de noite e só se via as lágrimas”, resumiu ele.

Santiago nasceu em La Plata, começou a lutar aos 15 anos kickboxing e, quando ouviu falar em MMA, descobriu o que queria da vida. Mesmo com uma vida confortável na Argentina, ele resolveu viajar ao Brasil para afiar seu jiu-jítsu por um mês. Sem dinheiro e sem apoio da família, ele resolveu ampliar seu tempo de treinos e ficou.

Os perrengues foram muitos em Florianópolis, onde mora até hoje, casado com a enfermeira Rafaela Baptista. Por quatro meses ele morou numa barraca na praia, onde durante o dia fazia massagens. Também trabalhou como ambulante, vendendo cerveja, sanduíches e artesanato. E ainda teve de se virar como garçom e barman. Tudo para poder tentar seguir o sonho de chegar ao UFC.

“Quando vim para o Brasil, não sabia falar o idioma e não conhecia nada por aqui. Na praia, ao ver alguém com camisa de jiu-jitsu, eu ia atrás e procurava saber aonde o cara treinava”, contou ele, ao site do UFC. Mal ele sabia que, dentro da academia, começava outra fase do sofrimento.

"Só tomava pau", relembrou. Em outro episódio, descreveu: "Eu vim para treinar jiu-jítsu, e no começo era: 'tem um argentino aí! Pau no argentino!'. Era todo dia assim, até verem que eu queria aprender, e ganhei meu espaço". 

A mulher, Rafaela, detalha o sofrimento: “Ele conta que foi bem difícil mesmo. Hoje ele conta essas histórias e chega a ser engraçado, porque já passou. Mas era muito difícil. Ele não tinha ninguém da família perto, não entendia a língua, pegavam muito no pé...”.

O casal se conheceu já quando Santiago estava mais estabelecido como lutador, por conta de amigos em comum. Rafaela, que nunca tinha acompanhado lutas, admite que estranhou.

“Eu nunca gostei de luta, não era uma coisa que eu via. No começo tinha um certo preconceito, me assustava e eu achava que era uma profissão muito difícil. Hoje sei que é como qualquer outra e que com muito treino ele pode chegar onde quer”, explicou ela. Rafaela tenta estar sempre presente nas pesagens e lutas, para dar seu apoio, mas sofreu com o isolamento imposto  pelo reality show do UFC.

O que não a surpreendeu foi o fato de ele conquistar o público. “Desde o começo, todo o mundo que conhece o Santiago fala: ‘nossa, esse é único argentino gente boa que eu conheço’. Já sabia que ele tinha esse carisma. Ele não é aquele estereotipo de marrento, ele é bem tranquilo, conversa com todo mundo e tudo o que ele passa é muito verdadeiro. E, como argentino, ele tem coração e nunca desiste”, explica ela.

Hoje, Santiago conta com o investimento do empresário Osnildo Silveira em Florianópolis e, depois de um bom tempo dando aulas para se manter, pode se dedicar apenas ao seu preparo para lutar MMA. A prova de todo esse esforço será tirada no TUF, com apenas três combates o separando do sonhado contrato com o UFC.

Enfermeira, Rafaela está acostumada a fazer curativos no marido

  • Nada melhor para um lutador do que ter uma enfermeira de prontidão. É o caso de Santiago, já que sua mulher, Rafaela, trabalha nesta profissão. "É verdade, às vezes preciso fazer uns curativos ou levar para a emergência", ri ela, acostumada a ver o meio-médio voltar machucado de treinos. Outro ponto que ela ainda terá de se acostumar é o assédio, ainda mais se o marido for mais longe no reality, atraindo atenção da imprensa, de fãs e, claro, das marias-tatame. "Acho q temos de estar preparados para tudo o que vier, ter a cabeça bem boa, inclusive a dele para administrar tudo. Ontem era lutador de eventos pequenos, hoje está em rede nacional, ganhando respeito."