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Brasileiro estreia no UFC após ir à Europa com 25 euros e morar com Overeem

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

02/10/2013 06h00

"Todos os dias eu olhava para a minha passagem de volta para o Brasil. Olhava a passagem e chorava...". Ser lutador não é fácil. Ser lutador e decidir ir para a Europa, sem falar outras línguas e quase sem dinheiro no bolso, é ainda mais duro. Igor Araújo foi parar na Suíça para lutar MMA assim, na raça. E deu certo. O brasileiro virou hóspede do marrento Alistair Overeem, hoje astro do UFC, prosperou e estreia no Ultimate na próxima quarta-feira, em Barueri, contra Ildemar Marajó.

O começo da saga de Igor foi em 2005, quando ele entrou em contato com Overeem. O holandês já havia feito fama no Pride e aceitou ajudar aquele brasileiro que dizia ter alguma verba de patrocinadores para se manter. A realidade era mais complicada.

“Cara, é ate engraçado como cheguei aqui. Eu vim para a Europa na cara e na coragem. Cheguei na Holanda só com 25 euros no bolso, mas falava que tinha patrocínio”, contou ele, ao UOL Esporte. “Logo na chegada me inscreveram em um campeonato de jiu-jítsu. Acho que até para me testar. Desembarquei num dia, lutei no outro, mas ganhei e levei 100 euros.”

A vitória aliviou um pouco, mas ainda faltava muito a conquistar, na expectativa de passar de um lutador de jiu-jítsu a um astro de MMA. A força veio justamente de Overeem, que é conhecido como um lutador difícil de lidar e fechado.

“Eu fui morar na casa do Alistair, lá em Amsfoort, que fica a uns 70 km de Amsterdã. Mas era muito difícil. Quando cheguei lá fiquem mal. Tudo era diferente, eu não falava uma palavra de inglês e só tomava porrada. Foi selva, nem sei como não voltei para o Brasil. Mas ele me dava força. O cara é gente boa”, disse o peso meio-médio.

Entre treinos, lutas, aulas dadas e seminários, Igor conseguiu se manter e melhorou sua situação. Passou a morar na Suíça, onde conheceu sua mulher e há cerca de um mês viu nascer seu terceiro filho.

Chance desperdiçada no TUF

Hoje Igor tem contrato assinado com o UFC. Mas ele poderia ter chegado ao maior evento da atualidade antes. O brasileiro participou do TUF em 2012, na temporada comandada pelos técnicos Roy Nelson e Shane Carwin. Apesar de chegar às quartas de final, perdeu para sua própria cabeça.

Perguntado se a experiência tinha sido proveitosa, Igor desabafou: “Não... Eu tenho dois filhos e agora nasceu meu terceiro. E senti muito estar longe. Chorava muito lá, perdi completamente a vontade de lutar”, afirmou o brasileiro, sobre o isolamento do reality show.

“Eu sei que muitos têm família, mas sou muito apegado. Senti muito mesmo, caí numa depressão braba depois. As duas primeiras semanas foram boas, mas depois (o TUF) se tornou um inferno para mim. Não consegui render nada, e jamais iria de novo”, admitiu o lutador.

Apesar deste obstáculo que teve na carreira, Igor agora sabe que tem uma chance definitiva. O brasileiro tem treinado na Suíça no começo de seu camp e, com cinco semanas para os combates, parte para Albuquerque, onde encerra a preparação com Greg Jackson, treinador de Jon Jones. Com 23 vitórias e seis derrotas no cartel e vindo de três vitórias seguidas, sendo duas por finalização, mostra confiança de que agora triunfará.

"Cheguei ao capitulo final do meu livro como lutador profissional, e se Deus quiser esse capitulo vai durar muito tempo”, concluiu o brasileiro.