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Demian se assume como versão moderna de Royce Gracie em busca do cinturão

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

07/10/2013 06h00

O UFC dos primórdios era feito de duelos de estilos: jiu-jítsu contra boxe, wrestling contra kickboxing e assim por diante. Vinte anos depois, a realidade é outra. O MMA virou quase um estilo de luta, que une diversas artes e em que se dá melhor quem as combina melhor. Mas o brasileiro Demian Maia está aí para resgatar a imagem do passado e contrariar a regra. E com ousadia. Afinal, o especialista em jiu-jítsu assume que quer chegar ao cinturão dos meio-médios usando, se possível, só seu jogo de chão, no maior estilo Royce Gracie.

Demian encara Jake Shields nesta quarta-feira, em Barueri. Vencer o veterano ex-campeão do Strikeforce deve colocá-lo como próximo desafiante ao cinturão que hoje é de Georges St-Pierre, segundo prometeu o Ultimate. O paulista já lutou pelo título dos médios e perdeu para Anderson Silva, em 2010, e tem uma chance definitiva de cumprir o sonho de chegar ao topo do UFC.

Desde que desceu para o meio-médio, Demian venceu três lutas consecutivas. Sempre com atuações dominantes e com o detalhe de confiar e buscar desde o começo levar a luta para o solo.

Questionado se acha que representa um estilo mais antigo de pensar o MMA e, mais diretamente, se vê ligação entre o que faz e o que Royce Gracie conquistou, Demian concordou.

“Eu acho que represento, sim”, afirmou Demian, ao UOL Esporte. “Realmente eu acho que luto muito parecido com o que ele lutava na época dele, e fico orgulhoso de ouvir esse tipo de comparação, não é algo que me incomoda, pelo contrário.”

Demian conta inclusive que já ouviu elogios do próprio Royce. “Eu conheci o Royce na China, em 2009. Foi a primeira vez que sentamos para conversar, depois que eu venci o Chael Sonnen e ainda não tinha perdido. Ele chegou e brincou, me falou um negócio que me deixa emocionado até hoje: ‘tô sabendo que você é o novo Royce Gracie’. Para mim foi um orgulho”, relembrou.

Campeão mundial na arte suave, Demian estreou no MMA em 2001 tendo de moldar seu jogo, aprender a lutar em pé e mostrar que poderia fazer mais do que apenas finalizar. Aos 35 anos, ele percebeu que é hora de se colocar num caminho inverso, dando ênfase ao que ele já tem de melhor e usando modalidades semelhantes para tentar evoluir como lutador.

“Não dá mais tempo de mudar. Se eu tivesse 20 anos, poderia fazer como há um tempo: ia para a Holanda treinar muay thai, ia treinar boxe na Bahia”, explicou o veterano. “Mas hoje em dia eu tenho que focar no que eu faço melhor. Digamos que eu lute até os 40 anos. Eu não tenho mais tempo de me especializar em outra coisa. Prefiro ser forte e trabalhar mais com artes irmãs, como o wrestling, porque sei que ele vai complementar meu jiu-jítsu e a evolução da minha luta será maior ainda.”

A série de vitórias de Demian com destaque para seu jogo de chão foi um alívio após uma fase fraca no peso médio. Ele chegou ao UFC em 2007, venceu seis de sete lutas e teve a chance de encarar Anderson Silva no famoso combate entre eles em 2010. Depois disso caiu de produção, até ser derrotado por Chris Weidman e resolver mudar de peso.

Indo mais à fundo na análise de seu estilo em comparação ao de Royce, o lutador afirmou que as maiores diferenças se dão por conta da mudança natural que o MMA teve, de 1993, na criação do UFC, até aqui.

“Talvez minha guarda seja um pouco mais ativa, porque virou necessário com a evolução do esporte. A guarda dele era mais passiva, mais defensiva, para ele poder atacar na hora certa. Eu tenho alguns ataques de longe mais variados. Mas, como ele, eu busco aquele jogo de clinch, tento envolver o adversário”, concluiu o protagonista do UFC Barueri.