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Anderson Silva encara papel sério e sem riscos em sua estreia no cinema

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

10/12/2013 12h00

“Eu não sou o Anderson Silva, senhor. O senhor deve estar enganado”. A frase do sisudo personagem Andrew Silva diz muito sobre a estreia do ex-campeão do UFC Anderson Silva no grande circuito de cinema. O lutador de 38 anos dá seu primeiro passo em direção à carreira de ator com um papel no blockbuster brasileiro “Até que a Sorte Nos Separe 2”, com estreia prevista para 27 de dezembro, curiosamente um dia antes da revanche contra Chris Weidman, no UFC 168. E, até como forma de aliviar a pressão na nova carreira, ele é pouco exigido e usa sua persona mais habitual como um apoio neste desafio.

O pupilo de Steven Seagal (nas lutas) não teve um personagem criado especialmente para si na comédia estrelada por Leandro Hassum e Camila Morgado. Mas encaixou-se num papel já criado que, para o diretor Roberto Santucci e o roteirista Paulo Cursino, era perfeito para que não se exigisse mais do que ele poderia entregar. No fim, o grande desafio para contracenar com Hassum foi só um: segurar o riso e manter a pose séria pelos cinco minutos em que aparece na tela.

“Até que a Sorte Nos Separe 2” é a continuação do filme de mesmo nome que foi o mais visto do cinema nacional em 2012. Leandro Hassum segue como protagonista e agora quem vive sua mulher na tela é Camila Morgado, que substitui Danielle Winits, fora por problemas de agenda. Na história, Hassum vive um personagem que ganha uma herança milionária e parte para Las Vegas para jogar as cinzas do “doador” da bolada.

Na Cidade do Pecado, o protagonista se deixa levar pela jogatina e é nesse cenário que aparece “Andrew Silva”. O personagem do lutador começa como segurança de um hotel cassino e acaba se revelando um policial disfarçado. E a primeira cena com ele já brinca com a questão: aquele é ou não Anderson Silva?

Hassum tenta de tudo para ‘desmascarar’ o lutador, ou ao menos fazê-lo dar risada, e o astro do MMA mantém a pose séria. Era, como admitem os produtores, um desafio para o próprio Anderson – apesar de ser um desafio muito mais de autocontrole do que de interpretação ou uma mostra de seu talento como ator.

“É uma tirada clássica de humor, de o personagem ser ou não ser o que o ator é na vida real”, explicou o roteirista Paulo Cursino. Ele contou que o personagem – que tem papel fundamental no desfecho do enredo - já existia e que Anderson acabou sendo uma boa escolha para ele. O que foi criado especificamente para o Spider é uma cena de luta, em que o ex-campeão encara Hassum no MMA no maior estilo Trapalhões, com direito a chute nas partes baixas e tudo.

O que resume a participação de Anderson Silva nestes cinco minutos em que ele aparece na tela é a seriedade de seu personagem. E a intenção foi exatamente essa por parte da direção e do roteirista do filme: como ela ainda não é ator, de fato, eles não quiseram obrigá-lo a ser.

Fã de MMA, Hassum já foi à arena

  • Leandro Hassum não tem pinta de lutador. E o filme mostra bem isso quando ele sobe sem camisa no ringue para encarar o policial disfarçado “Andrew Silva”. Mas o comediante é fã de MMA e do UFC. E contou ao UOL Esporte que até foi à arena no Rio para acompanhar o ex-campeão dos médios. “Assisto a todas as lutas dele, inclusive foi no ginásio no Rio para vê-lo. Não sou fã daqueles das antigas, do Pride e de quando o UFC tinha aquele pôster do ‘bonequinho’, mas adoro o Anderson, comecei a ver quando explodiu, na época em que ele enfrentou o Belfort”, afirmou Hassum.

    Segundo o ator, eles chegaram a se conhecer antes, mas a amizade só aconteceu no set de filmagem. “A gente se viu algumas vezes, no Faustão ou em outras coisas que ele fez na Globo. Até pensamos em chamar uma vez para ele participar dos ‘Os Caras de Pau’. Mas amizade, mesmo a gente não tinha, foi algo de quando nos encontramos para filmar. E ele foi superbem. Ele é um atleta, não é um ator, está aprendendo a ser. E acabou ficando muito legal, muito divertido.”

“No começo ficamos preocupados por ele não ser um ator ainda, por estar cru. Sabíamos que não podíamos dar um diálogo. Mas no set ele foi muito profissional, foi muito correto. O papel mais sério foi proposital, já que ele ainda não tem nuances dramáticas, não teria como exigir isso dele”, explicou Cursino, roteirista tanto da primeira parte quanto desta continuação. “Mas é claro que eu não podia deixar de criar uma cena de luta entre ele e o Leandro (risos).”

Hassum elogiou o profissionalismo do lutador. “Ele, que vem do esporte, tem uma disciplina tão grande, que ele trouxe essa disciplina até para ser ator. Ele tinha um preparador o ajudando, e foi um prazer ver ele se dedicando. Tem muita gente que pega um papel desse e tenta usar sua própria persona, mas o Anderson não é assim, ele gosta é de brincar com isso.”

O diretor Roberto Santucci arrematou: “Ele mostrou uma humildade enorme, brincou e ralou com a gente. Foi muito tranquilo, fiquei impressionado como ele é carismático e fácil de lidar”.

Com isso tudo em vista, é até difícil avaliar a estreia de Anderson. Ele não chega a fazer comédia, são as ações de Hassum que causam riso. Suas falas não exigem interpretação, não tem coloquialidade e são simples. Então, apesar de quebrar o gelo da estreia, só um próximo papel, com um pouco mais de profundidade, é que vai provar se o lutador tem talento e futuro para uma longa carreira nas telonas, como Anderson quer depois que decidir se aposentar das lutas. 

O ator Anderson

  • Antes de fazer "Até que a Sorte nos Separe 2", Anderson já gravou outras participações, mas nunca com tamanho destaque ou em filmes com grande distribuição como este - a película deve estrear em 750 salas no dia 27 de dezembro. Além de comerciais e uma ponta na novela "Fina Estampa", ele esteve no elenco de "Never Surrender", um filme de 2009 com diversos lutadores, como Quinton Rampage Jackson e Georges St-Pierre, e faz parte de "Tapped", ainda não lançado. Neste último, ele interpreta a si mesmo, ao lado do também ex-campeão do UFC Lyoto Machida. "Tapped" está previsto para estrear em 2014.