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Irmão de Anderson Silva tenta sorte no futebol e se espelha no lutador

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/04/2014 06h00

Se fosse um jogador de futebol, Júnior Cigano seria um centroavante, aquele jogador que com uma patada e muito oportunismo define o marcador. Georges St-Pierre, com seu estilo perfeccionista, jogaria na defesa, garantindo suas vitórias apertadas. E Anderson Silva? Este seria um meia-atacante ofensivo, que dribla e com sua criatividade decide um jogo. Pelo jeito, os genes que dão essas características ao Spider são fortes. Que o diga Cristian Edmundo da Silva, irmão caçula do astro do UFC, de 20 anos, que até foi para a academia lutar, mas resolveu tentar a sorte em outro esporte: o futebol.

Cristian conversou com o UOL Esporte e contou sobre sua jornada por cidades e até países tentando virar a carreira de boleiro, algo desafiador com sua idade - algo que Anderson já viveu como lutador. Questionado sobre como ele é em campo, disse despretensiosamente: “Minha característica é velocidade, drible e criação. Eu não gosto de jogar de costas. Gosto de pegar a bola no meio e ir para cima, criando ou finalizando”. Oras, não são essas as virtudes do irmão famoso? “É, dá pra dizer que sim”, riu ele, percebendo uma nova semelhança entre eles.

Foi só com a infância avançada que Cristian soube do parentesco com Anderson Silva. Filho do mesmo pai do lutador, o Seu Juarez, o garoto cresceu em São Paulo e também não foi criado por ele, mas por tios. Foi só com quase dez anos que ele ficou sabendo que aquele talentoso competidor do Pride, ainda buscando sua fama, era seu irmão.

“Depois disso meu pai nos apresentou e o contato aumentou. Hoje somos bem próximos. É difícil estar junto, por causa dos compromissos, mas nos reunimos, conversamos por telefone e por mensagens”, contou o jogador. “Sempre achei o máximo ser irmão dele. Mesmo ele não tendo a fama de hoje naquela época, sempre admirei. Sabia que foi muito difícil para ele no começo e isso é uma inspiração até hoje.”

Cristian até tenta deixar na surdina o parentesco, mas sempre vê os esforços serem em vão. “Até hoje tem gente que não acredita. Nem é algo que fico contando pras pessoas, mas uma hora sempre acabam descobrindo (risos)”, admite ele, que na adolescência praticou jiu-jítsu e muay thai, mas “só pra conhecer, e não para virar lutador”.

Outra característica de Anderson que Cristian leva consigo é a perseverança. Como começou tarde sua busca pela carreira nos gramados, aos 17 anos, ele sabe que tem de brigar mais forte por espaço. O Spider demorou a ser a estrela que é hoje e só aos 31 anos conquistou seu cinturão no UFC e com sucessivas vitórias ganhou fama de melhor lutador da história do MMA.

“Temo em comum essa parte de tranquilidade, também. Somos extrovertidos, bem humorados, sempre com um sorriso no rosto”, descreve-se.

A jornada do boleiro

De São Paulo para Osasco e o Paraná. Uma aterrissagem na Espanha antes de ir chutar uma bolinha no Piauí... É assim, viajando, que tem sido a vida de Cristian nos últimos tempos, tentando desenvolver seu futebol e provar que tem o talento suficiente para jogar entre os profissionais. Seria ele como Anderson Silva, que só com a maturidade encontrou seu estilo e deu uma guinada na carreira?

Por enquanto, ele tenta responder a esta dúvida com trabalho. No Brasil, Cristian chegou a integrar equipes como a do Grêmio Osasco, Osasco e também foi do time profissional do Tanabi – hoje famoso por contratar nomes como Viola, Túlio e Cabañas.

Seu melhor momento foi no fim de 2013, quando passou por um período de treinos na Espanha. Ele viajou em novembro para um intercâmbio no clube Leganês, da terceira divisão do país.

“Eu fiquei dois meses lá. O futebol é bem diferente. Com a cultura não foi difícil me adaptar, mas o futebol é mais dinâmico, forte. Consegui me adaptar e foi gostosa a experiência e jogar nesse nível”, afirmou Cristian.

“Eles deixaram as portas abertas para mim. Me disseram que eu preciso aprimorar algumas coisas, então voltei ao Brasil para treinar mais e depois tentar voltar e fazer testes por clubes médios e grandes da Espanha”, explicou.

De volta ao Brasil, a última parada de Cristian foi o Piauí. Ele passou uma temporada de cerca de 45 dias em Teresina, neste processo de “aprimoração” em que aposta. A ida para o Norte se deu quando o agente André Bossolan viu um vídeo de Cristian e o indicou para trabalhar com Paulo Evaristo. Como Evaristo estava com o Crensa, equipe de futsal do Piauí, Cristian embarcou para lá para adquirir mais bagagem como jogador.

“A idade é uma barreira”, admite Cristian. “Atrapalha um pouquinho, sim. Então eu estou treinando muito. Ouvi muitas vezes isso, da idade, mas nunca desisti, sempre procurei mostrar qualidade. Tudo tem seu tempo, quando acharem que vou ser utilizado, vai acontecer naturalmente.”