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Arlovski poderia ser guarda-costas de presidentes. Mas virou campeão do UFC

Maurício Dehò

Em Cotia (SP)

07/08/2014 06h00

Se você pudesse escolher entre ser o guarda-costas de um presidente ou começar uma carreira do zero e virar um lutador de MMA, o que faria? Um jovem corpulento de Belarus, que acabara de se formar na academia de polícia achando que passaria a vida vestindo farda jogou tudo para o alto e optou pela segunda opção. Ele é Andrei Arlovski, campeão do UFC entre 2005 e 2006, e hoje o rival de Antonio Pezão no UFC de Brasília, em 13 de setembro.

Hoje um dos nocauteadores mais perigosos entre os pesos pesados, Arlovski cresceu na cidade de 200 mil habitantes Babruysk, em Belarus, e foi marcado por dois hábitos. Um era o de jogar futebol. Ele queria ser um defensor, jogar com os pés, mas seu tamanho o levou a ser goleiro – para seu desgosto. O outro era sofrer bullying de outros garotos, ainda que hoje ostente 1,93 m de altura.

“Eu cresci numa cidade pequena, jogava futebol, levantava peso... Eu acho que não era tão ruim (no futebol). Eu jogava no campo, como defensor, pela direita. Mas nosso goleiro não era muito bom, e como eu era grande, algumas vezes me botavam para pegar no gol. O técnico decidiu me manter lá, mas eu queria jogar com o pé, então acabei deixando o futebol de lado e fui fazer outra coisa, fiz aulas de caratê e fui malhar”, contou ele, em entrevista ao UOL Esporte.

“Eu era um garoto grande, mas não queria brigar com ninguém. Então, sofria bullying, sim. Basicamente os outros garotos me davam uma surra toda hora, até lá pelos 15 anos. Eu me cansei disso e comecei a ganhar músculos. Mas virar lutador mesmo foi quando aos 16 anos entrei para a academia de polícia e me convidaram a competir no sambo”, acrescentou o bielorrusso, que em menos de dois anos virou campeão mundial da modalidade.

A este ponto, as carreiras cresciam rapidamente, uma ao lado da outra. Formado, Arlovski virou tenente e partiu para um curso para se tornar guarda-costas do presidente de seu país. Passou. Era um grande e honroso trabalho, mas ao mesmo tempo surgiu um convite para se mudar para os Estados Unidos e cair de cabeça no MMA.

“Eu achava que seria policial mesmo, ainda mais porque passei em testes para fazer parte da segurança pessoal do presidente. Mas optei pelos EUA, pela carreira no MMA, e acho que fiz a coisa certa”, contou ele. Em 2000, aos 21 anos, ele estreou no UFC. Quatro anos depois, finalizou Tim Sylvia para conquistar o cinturão interino, já que o campeão titular, Frank Mir, havia sofrido um acidente de moto grave. Arlovski acabou sendo declarado o dono do título – Mir ficou muito tempo inativo - e o defendeu duas vezes antes de perder a revanche contra Sylvia e a terceira luta entre eles.

Entre 2008 e 2013, o bielorrusso zanzou por eventos. Affliction, Strikeforce, World Series of Fighting. Ele ficou perto de nocautear Fedor Emelianenko em uma das lutas mais importantes da carreira, mas se descuidou e perdeu o primeiro de uma série de três reveses seguidos que quase o aposentaram.

“Eu perdi algumas lutas em que deveria ter vencido. Na luta contra o Fedor eu fui descuidado. Naquele momento eu estava enfrentando o melhor do mundo. Eu nunca tinha dado uma joelhada voadora na vida, e fui lá e quis dar uma... Não me cobri e paguei por isso. Eu dei um presente para ele. Era uma luta muito importante para mim e depois o Pezão foi lá e o esmagou. Ele teve a oportunidade, venceu; eu tive, mas não consegui”, disse Arlovski. O peso pesado precisou de mais três reveses para se recuperar, passando a treinar com Greg Jackson, mentor de Jon Jones.

Apesar de ter voltado a uma maré de vitórias, Arlovski vem de um resultado fraco, uma vitória contestada contra Brendan Schaub. O motivo do desempenho parece incrível para um ex-campeão de 35 anos: suas pernas tremeram. E ele diz que a pressão também pesará par alutar em Brasília contra Pezão.

“Eu já esqueci que fui um campeão, não gosto de ficar ligado ao passado. Eu vivo o presente e o futuro. Eu ainda tenho objetivos, e é impossível atingi-los olhando para trás. Nesta luta, vou ouvir muitas vaias, mas tudo bem. Pezão é duro, tem mãos pesadas, soca bem e é faixa preta. Mas estou treinando muito forte, estou bem e preparado para essa luta, que é muito importante para mim.”

15 anos depois de virar profissional, o bielorrusso entra no octógono por um misto de razões: dinheiro, instinto e objetivos – o principal, claro, o cinturão de Cain Velásquez.

“Claro que o dinheiro é importante, eu tenho contas a pagar, uma família. Mas ninguém está me forçando a lutar, é minha paixão, acho que está no meu DNA ser lutador. Eu amo treinar forte e lutar forte. Quando o árbitro levanta seu braço e você é chamado de campeão, não há nada melhor no mundo.”