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Perder o cinturão não é nada para quem já foi de avião cargueiro para luta

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

27/08/2014 06h00

Seguindo os passos de José Aldo, Renan Barão pintou no UFC como um daqueles campeões com aura de invencível, por suas vitórias avassaladoras e um jogo completo que o levou a ser colocado como segundo melhor atleta da organização, atrás apenas de Jon Jones. A queda contra TJ Dillashaw era inimaginável, tamanho o status de azarão do norte-americano. Neste sábado, o potiguar reencontra seu algoz para retomar o posto de campeão peso galo. Mais pressionado que nunca, mas ainda pouco para quem viajava dois dias de ônibus e já pegou até um avião cargueiro para lutar.

Barão, hoje com 27 anos, é um daqueles lutadores que passou por muito para fazer seu sonho virar. Nascido em Natal e criado pelos avós, ele era um garotinho briguento que achou nas lutas um caminho para gastar essa energia de forma positiva. Com 12 anos, foi lutar boxe – seu pai era professor da nobre arte -, com 15 partiu para o MMA.

Natal ficou pequena para o potiguar. Aluno da Kimura Nova União, parceira da mais famosa Nova União do Rio de Janeiro, ele começou a viajar para treinar e lutar sob a tutela de Dedé Pederneiras. Foi lá que conheceu José Aldo. O problema é que o deslocamento de ônibus entre as cidades é de cerca de 2.500 km. Isso dá dois dias de viagem!

“Meu começo foi meio difícil, todo mundo sabe. Vida de lutador é assim, sempre difícil. E eu sou de Natal e não tinha como me manter no Rio, tinha de viajar de todo jeito para lutar e umas seis vezes eu fui ônibus. Saía na terça e chegava na quinta. Só parava no banheiro e para almoçar e jantar. que Tinha que fazer o que precisava, tinha na cabeça que precisava ir para o Rio para ter sucesso”, relembrou o peso galo.

Certa vez, Barão conseguiu um luxo. Em vez de aguentar dois dias balançando no ônibus e ouvindo passageiros roncar, ele pôde pegar um avião. Mas não uma linha normal, e sim um cargueiro da FAB.

“Pois é, eu viajei nesse cargueiro da Aeronáutica, que transportava coisas deles. Estava cheio de cordas, caixotes. Lembro que fui sentado no chão do avião, mas foi tranquilo”, relembrou ele, que chacoalhou bem mais e teve menos conforto do que nos voos bancados pelo UFC hoje em dia. “Hoje tem poltrona, o avião é melhor, é mais tranquilo... (risos). Mas é verdade, foi sinistro fazer isso para conquistar meu espaço.”

Barão diz que se fortalece ao pensar nas dificuldades que passou e que relembra os percalços superados antes de suas lutas. E, apesar de ter reinado como campeão, o potiguar pouco mudou.

Até hoje quando está no Rio para treinar, na reta final de preparação, mora num apartamento simples com vários amigos – em certa época, quase uma dezena de homens dividia o espaço. Quando está em Natal, ele conta que não precisa se refugiar do assédio. Muito pelo contrário. Ele volta ao seu bairro de origem e fica lá na calçada, curtindo.

“Graças a Deus realizei vários sonhos, tive a chance de comprar uma casa para a minha mãe, ter meu apartamento, meu carro, coisas que a gente não tinha condições antes. Mas o dia a dia não mudou muito. Eu gosto de pegar o carro e dar uma volta com meus amigos, lanchar, namorar um pouquinho. É mais isso, quando estou em Natal é mais férias, então a gente fica de boa, conversando na calçada. Todo mundo me conhece lá no bairro das Quintas, onde me sinto em casa”, contou Barão.