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MMA


Brasileiro revela costela quebrada e experiência de "quase-morte" no UFC

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

25/09/2014 14h26

Igor Araújo estreou bem no UFC, com duas vitórias seguidas e atuações convincentes. Mas no terceiro combate, lutando em Brasília, veio o primeiro revés. Passadas quase duas semanas do evento, ele resolveu explicar o que de fato aconteceu no seu pré-luta e como isso o levou a ser nocauteado por George Sullivan. Segundo o mineiro, uma lesão na costela a oito dias do evento minou sua participação. Nocauteado pela primeira vez na carreira, ele ainda relatou estranhos “sonhos com anjos” na ambulância, a caminho do hospital.

“Eu fraturei essa costela há nove anos, foi uma fraturazinha de cartilagem, quando ainda morava na casa do (Alistair) Overeem. Ela às vezes sai do lugar, incomoda um pouco, mas não como dessa vez”, disse o meio-médio (77 kg). “Eu estava muito bem treinado, e no último sparring treinei com o Tim Kennedy, que é pesado, luta no 84 kg mas normalmente tem quase 100. O treino deu uma esquentada, ele me deu um cruzado na costela e eu cai na hora. Eu estava com proteção de costela e ainda assim saiu do lugar.”

O problema é que desta vez a coisa foi grave. Igor ficou com um grande inchaço no local da costela machucada, sofrendo com muitas dores e até com dificuldades de respirar. Apesar de seu empresário tentar impedir, Igor se recusou a deixar a luta.

“Na hora, meu técnico falou que sabia que não ia adiantar falar para eu não lutar. E eu queria lutar. Eu tinha amigos em Brasília, gente que comprou ingresso, que é caro. O pessoal fala que você tem que ser egoísta no mundo das lutas, mas eu pensei muito nos outros. Errei”, explicou.

Passados 12 dias da luta, ele ainda está sofrendo com dores de cabeça e confusões, que devem demorar um mês a passar. Foi o primeiro nocaute sofrido pelo mineiro, que relata ainda que achou na ambulância que ia morrer.

“Eu apaguei no nocaute e não lembrava de nada. Fiquei quase dez minutos apagado e acordei na ambulância, com a minha mulher. Eu estava com náusea, vomitando. E nisso eu tive uns sonhos estranhos, com uns anjos me chamando. Eu achei que ia morrer. Acho que eu estava meio delirando, e não sabia onde estava. Eu olhei minha luva e percebi que estava no UFC, então fiquei tranquilo”, adicionou o brasileiro, que levou uma suspensão médica de 60 dias para se curar antes de voltar a treinar.

Espiões no treino

Na hora do combate, além da situação delicada da costela avariada, que impedia de se movimentar para usar sua especialidade, o jiu-jítsu, ele tinha outra desvantagem: seu adversário ficou sabendo do problema e resolveu usar isso a seu favor.

“Para a minha falta de sorte, quando faltavam uns 15 dias com a luta, o Cowboy (Donald Cerrone) levou uns caras para o camp lá na academia do (técnico) Greg Jackson. Eu vi dois caras de uma organização, a mesma que meu rival já teve cinturão. Achei meio estranho. Conversei com eles, mas eles deram um migué, disseram que não iam passar nada para o Sullivan. Eu acreditei, mas para minha falta de sorte, no dia em que o Tim me acertou, faltando oito dias para a luta, os caras entraram na academia e viram. Devem ter passado para ele”, relatou Igor.

“O cara (o rival, Sullivan) é trocador e na luta ele ficou vindo para o clinch, o que era estranho. E, me agarrando na grade, ele começou a me dar soco na costela e ombrada também, o que é incomum, bem no lugar lesionado. Nessa hora eu senti bem a costela, comecei a pensar isso. Aí me perdi no psicológico, e acabei perdendo a luta”, completou ele, sobre o nocaute.

Igor reclama ainda que o adversário acertou duas vezes sua nuca e que foram estes socos que o levaram a nocaute, e não o que pegou em seu queixo.

No hospital onde foi examinado, os médicos disseram que as únicas lesões encontradas foram dos golpes ilegais. “Quando cheguei o médico falou que o único lugar com lesão era na nuca, e eu coloquei e vi que tinha uma bola... Não digo que foi maldade, mas ele me deu dois socos na nuca... Acho que ele agiu de má fé e o árbitro tinha instruído para ter cuidado com soco na nuca, porque desclassifica. É irônico, foi isso que me chamaram a atenção, e houve dois pesos e duas medidas da arbitragem.”