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Para faturar título, Dragon foi de autodidata no Pará a pizzaiolo nos EUA

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

26/09/2014 12h00

Já é complicado ser um lutador em um grande centro, como Curitiba, São Paulo e Rio. Mas começar sua jornada no interior do Pará, sem uma academia para treinar e ainda assim conseguir uma chance de viajar aos EUA para perseguir o sonho é uma batalha totalmente diferente. Deivison Ribeiro, o Dragon, diz que do início quase autodidata aos bicos como o de pintor, motorista e pizzaiolo sua história poderia virar até livro.

O ponto mais alto ele está vivendo agora: é campeão do XFC, evento norte-americano de MMA, e fará a primeira defesa de cinturão no Brasil, neste sábado, em Araraquara. Ele conquistou o título contra Farkhad Sharipov, em dezembro, e agora encara o norte-americano Waylon Lowe em busca de sua 26ª vitória em 36 lutas. O especialista em muay thai tem dez nocautes na carreira.

A chance de voltar ao Brasil reaviva as memórias de Dragon, um natural de Igarapé-Açu, a 122 km de Belém, no Pará. Com uma infância complicada, ele perdeu o pai aos sete anos e viu na mãe o exemplo, cuidando de quatro filhos e trabalhando para os manter: “ela é muito guerreira”, exclama.

Aos nove anos ele achou seu caminho nas lutas, treinando capoeira e judô. Depois, conheceu outras artes, acompanhando boxe e jiu-jítsu, que lideraram seu caminho ao MMA. O grande problema é que o vício nas artes marciais mistas empacavam na falta de estrutura de sua cidade.

“Eu treinava sozinho na minha cidade, fazia toda minha preparação sem ajuda de ninguém. Às vezes eu até ia para uma academia treinar, mas era muito longe, duas horas só para chegar lá”, conta ele, sobre a viagem exaustiva a Belém, de ônibus e muitas vezes em pé.

Mas o esforço deu resultado. Em 2007 ele fez sua estreia conseguiu desenvolver uma carreira como lutador, ainda que irregular, entre vitória e derrotas. O mais importante foi conhecer Luis Sapo, hoje também no XFC. O veterano o convidou a se mudar para os Estados Unidos. Mais que isso, ele virou hóspede de Sapo e de sua mulher, a lutadora Carina Damm.

“Ele foi quem me abriu as portar por aqui, devo muito a ele. Morei junto com ele e a sua esposa, que abriram mão da privacidade do casal para me ajudar. Eles acreditaram no meu potencial e sabiam que eu me daria muito bem na ATT (American Top Team), onde fui muito bem recebido pelo Ricardo Libório e Katel Kubis”, diz o paraense.

Para se manter, ele apelou para empregos que nada tinham com a carreira de lutador. “Quando cheguei, para me sustentar trabalhei de tudo um pouco. Fui motorista, pintor, garçom, pizzaiolo... Não passei muito perrengue, sempre me metia em situações engraçadas por falar pouco inglês e ter de me comunicar fazendo mímica (risos).”

Se antes ele acabava abandonando os serviços por causa dos treinos, agora a preocupação ficou de lado e o campeão do XFC se dedica só a lutar. Em 2013, foram cinco combates. Apesar de começar o ano com duas derrotas, ele virou o jogo com três triunfos seguidos, até reinar na categoria pena do evento.

Agora, o momento é de Dragon manter o cinturão e enfim perseguir uma jornada mais regular no MMA, superando sua maior série invicta até hoje, de cinco lutas. O rival, Lowe, tem 14 triunfos e cinco reveses na carreira e não vem em grande fase: recentemente, interrompeu uma série de quatro resultados positivos e teve uma derrota e um no contest.